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Argentina questionou declaração do G20 porque acha que Estado não resolve pobreza, diz ministra

Patrícia Bullrich detalhou porque país criticou iniciativa global contra a fome lançada pelo Brasil no G20

Patricia Bullrich: candidata ficou em terceiro lugar na eleição presidencial e endossou Milei (Juan Mabromata/AFP)

Patricia Bullrich: candidata ficou em terceiro lugar na eleição presidencial e endossou Milei (Juan Mabromata/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 20 de novembro de 2024 às 15h19.

Rio de Janeiro - Patrícia Bullrich, ministra de Segurança da Argentina, detalhou a decisão de seu país de criticar a declaração final do encontro do G20, que incluiu a criação de uma Aliança Global contra a Pobreza. Ela fez ataques aos programas sociais criados pelo Estado e disse que eles levaram a população argentina à "escravidão".

No G20, o governo brasileiro impulsionou uma aliança global contra a fome e pobreza, que reuniu 82 países e US$ 25 bilhões em recursos iniciais, do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), para criar ações na área. A Argentina iniciamente ficou de fora da aliança, mas horas depois do lançamento passou a fazer parte também.

"Acreditamos que se combate a pobreza gerando uma sociedade produtiva, com impostos baixos e pouco estado. Temos vivido durante 30 anos subsidiando a pobreza, o que nos trouxe mais pobreza", disse Bullrich, durante um debate na Munich Security Conference, no Rio de Janeiro, que a EXAME acompanhou, nesta quarta, 20.

"A Argentina está em um lugar especialmente diferente porque vem de um passado trágico. No começo do século 20, era a sétima economia do mundo e hoje estamos na metade debaixo da lista [de maiores economias] e 49% da população está na pobreza", afirmou.

"Foi um país que, sob populismo e um modelo corporativo fechado, fez a população empobrecer. Conseguimos ter uma sociedade em que 20% da população está subsidiada por programas sociais, que terminaram sendo um modelo de escravidão moderna para quem o recebe", disse.

Bullrich acusou organizações sociais de cobrarem taxas dos benefícios recebidos pelos mais pobres, e que seu governo busca combater esses movimentos, como impedir que eles protestem nas ruas. A ministra disse que desde a posse de Javier Milei, em dezembro de 2023, o governo buscou impedir bloqueios nas ruas, chamados de "piquetes", para enfraquecer essas organizações, mas que os benefícios sociais não foram cortados.

"As pessoas acreditavam que eram as organizações que lhes davam dinheiro. E com o dinheiro arrecadado, [as organizações] bloquearam Buenos Aires e outras cidades, quase todos os dias, durante 25 anos", afirmou.

Redução da pobreza

Apesar das críticas de Bullrich, programas de transferência de renda ajudaram a reduzir a fome no Brasil no começo do século 21 e a encurtar desigualdades sociais. No entanto, estes programas são apenas um dos passos. Uma economia em crescimento, com inflação e gastos públicos controlados e capaz de gerar empregos de qualidade são importantes para que as pessoas possam não apenas deixar a pobreza, mas prosperarem.

O Brasil também conseguiu estabilizar a economia a partir dos anos 1990, algo que a Argentina não conseguiu fazer. Com isso, o país vizinho viveu crises sucessivas e a inflação superou 200% ao ano no começo de 2024. A taxa passou a cair depois que Milei fez um corte profundo de gastos públicos. Em outubro, a taxa anual de inflação estava em 193%.

Na América Latina, 27,3% da população estava em situação de pobreza em 2023, e 10,6% em pobreza extrema, segundo dados do documento Panorama Social da América Latina e do Caribe 2024, feito pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Em números absolutos, 172 milhões de pessoas viviam em situação de pobreza em 2023, sendo que 66 milhões estavam em pobreza extrema.

Os dados ainda mostraram que em 2022 os ministérios de desenvolvimento social de 20 países da América Latina e do Caribe destinaram, em média, 0,8% do PIB ou 3% do gasto público total para a proteção social não contributiva.

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