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Argentina ainda chora por Evita no 60º aniversário de morte

As distintas famílias peronistas lembrarão a data nesta quinta-feira separadamente com atos em todo o país

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2012 às 20h16.

Buenos Aires - Passados 60 anos desde sua morte, a Argentina ainda chora por Eva Duarte Perón, a Evita, uma figura mítica do peronismo, que ganhou força durante o mandato da presidente Cristina Kirchner e graças às graves divisões internas do justicialismo.

As distintas famílias peronistas lembrarão a data nesta quinta-feira separadamente com atos em todo o país.

Cristina Kirchner escolheu a província de Buenos Aires para afirmar, perante dezenas de milhares de pessoas, que seu governo retomou o legado ''eterno e único'' de Evita.

''Digam-me se não estamos fazendo as coisas para honrar o legado e esse mandato histórico que ela deixou para todo aquele que se sentisse peronista'', disse a governante à multidão arrastada pelo governo na cidade de José C. Paz.

Já o líder da maior central sindical do país, Hugo Moyano, liderou uma homenagem a Evita na qual ressaltou sua ''humildade'' em contraste com a ''soberba'' da presidente, antiga aliada e hoje uma ferrenha adversária.

Na capital Buenos Aires, centenas de admiradores marcharão na hora de sua morte, às 20h25 locais (mesma hora de Brasília) rumo à Plaza de Mayo, e até mesmo a direita, liderada pelo governo portenho, uniu-se à comemoração com conferências e até um desfile de moda.

A segunda esposa daquele que foi três vezes presidente da Argentina, Juan Domingo Perón, causou paixões e ódios, mas ninguém discute que ela marcou época, abriu passagem às mulheres na política e deixou um importante legado social.


Sua morte prematura, no dia 26 de julho de 1952, com apenas 33 anos, vítima de um câncer de útero, e o incrível périplo de seu corpo até descansar em paz em um cemitério de Buenos Aires, consolidaram sua lenda.

Sua imagem zela pela Avenida 9 de Julio, a mais importante de Buenos Aires, desde a fachada do Ministério da Saúde, onde tinha seu escritório, e seu legado é reivindicado por distintas facções peronistas.

A presidente argentina, Cristina Kirchner, se transformou na principal defensora do mito até o ponto de comparecer em público na Casa Rosada, sede do governo, escoltada por uma imagem de Evita.

Eva Perón ''marcou não só a vida dos argentinos'', mas foi ''um marco na história mundial'', afirmou Cristina ontem à noite, quando anunciou a emissão de uma nota de 100 pesos com sua imagem.

Como Evita, Cristina Kirchner defende a política de ajudas sociais e aposta na indústria local até o ponto de frear as importações.

Compartilha também com Eva Perón seu gosto pela roupa de alta costura e pelos acessórios exclusivos, embora sejam muitas as diferenças que separam Evita e Cristina.

Na opinião do historiador Felipe Pigna, ''não são figuras comparáveis. Evita é produto de uma época e não teve responsabilidades de governo''.


No entanto, Pigna reconheceu, em declarações à Agência Efe, que ambas são mulheres de personalidade e tiveram que vencer as resistências suscitadas pelo protagonismo feminino nas esferas públicas.

Nascida no dia 7 de maio de 1919, em Los Toldos, a 200 quilômetros de Buenos Aires, filha de Juan Duarte, um fazendeiro que teve 14 filhos com sua esposa e cinco com Juana Ibarguren, mãe de Evita, menina frágil e de pele quase transparente que sempre sonhou em ser atriz.

Perseguindo seu sonho, mudou-se para Buenos Aires com 15 anos e chegou a participar de rádionovelas e peças de teatro até que o general Juan Domingo Perón cruzou seu caminho.

Conheceram-se em um ato beneficente, quando Eva tinha 23 anos, e a relação sacudiu a alta sociedade da época, que desde o início viu com maus olhos as origens humildes da atriz e rejeitou seu progressivo protagonismo político.

Após seu casamento, em 1945, Eva atuou como uma primeira-dama que rompeu todos os paradigmas.

Pela primeira vez, os argentinos viram uma mulher nas fotos oficiais, acompanhando o presidente na campanha eleitoral e arengando às massas pelos direitos dos trabalhadores e pelo voto feminino.

Em pouco tempo deixou de ser ''a senhora Perón'' para tornar-se a ''companheira Evita'', para seus admiradores, ou ''Perona'', para seus detratores.


Foi ela quem manteve a interlocução com os sindicatos e manejou bilhões de pesos em seu trabalho social à frente da Fundação Eva Perón.

Consciente de sua importância, chegou a reconhecer que tentava ''ocupar um lugar na história'', enquanto seu intenso trabalho social e seu papel político aumentava os receios da oposição, da Igreja e do Exército, que mais tarde terminaria derrubando Perón, em 1955.

''Evita terminou de uma vez e para sempre com a imagem passiva da mulher na história argentina'', afirmou Perón, que em mais de uma ocasião se atribuiu o ''sucesso'' de Eva ao garantir que a primeira-dama foi uma ''criação'' sua.

Embora, tal como aponta Pigna, ''Perón teria existido sem Eva, mas Eva não teria existido sem Perón'', é difícil saber como teria sido o peronismo sem Evita.

Sua morte prematura não fez mais que engrandecer sua popularidade e as torpezas da ditadura que derrubou Perón terminaram por alimentar o mito.

Seu corpo, embalsamado pelo espanhol Pedro Ara, foi sequestrado, escondido e enterrado na Itália com o nome suposto de María Magis de Magistris por ordem da ditadura.

Não foi até 1976 quando outra ditadura, a liderada por Jorge Rafael Videla, entregou o corpo à família Duarte, que o depositou em um túmulo no cemitério portenho da Recoleta, hoje visita obrigatória para milhões de turistas. 

*Atualizado às 20h16

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