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Após protestos, Irã decide abolir a polícia da moralidade

O anúncio, visto como um gesto em direção aos manifestantes, ocorre depois que as autoridades anunciaram que estavam analisando a lei de 1983 sobre o véu obrigatório

Supremo líder do Irã, Ayatollah Ali Khamenei (Official Khamenei website/Reuters)

Supremo líder do Irã, Ayatollah Ali Khamenei (Official Khamenei website/Reuters)

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AFP

Publicado em 4 de dezembro de 2022 às 09h36.

O Irã decidiu abolir a polícia da moralidade após mais de dois meses de protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos detida por supostamente violar o rígido código de vestimenta do país, anunciou a imprensa local neste domingo (4).

"A polícia da moralidade não tem nada a ver com o Poder Judiciário" e foi suprimida, anunciou o procurador-geral do Irã, Mohammad Jafar Montazeri, no sábado (3) à noite, segundo informou neste domingo (4) a agência de notícias ISNA.

O procurador-geral respondeu assim a uma pessoa que participava de uma cerimônia religiosa na cidade de Qom, a sudoeste de Teerã, que perguntou "por que a polícia da moralidade foi suprimida?".

A polícia da moralidade, conhecida como Gasht-e Ershad [patrulhas de orientação], foi criada sob o regime do presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad [no poder de 2005 a 2013] para "espalhar a cultura da decência e do hijab", o véu muçulmano feminino.

Suas unidades são formadas por homens em uniforme verde e mulheres em xador preto, uma vestimenta que cobre todo o corpo, exceto o rosto. As primeiras patrulhas começaram seu trabalho em 2006.

O anúncio da abolição desta unidade, visto como um gesto em direção aos manifestantes, ocorre depois que as autoridades anunciaram que estavam analisando se a lei de 1983 sobre o véu obrigatório precisava de mudanças.

No sábado, em uma conferência em Teerã, o presidente iraniano, o ultraconservador Ebrahim Raisi, declarou que a Constituição do país "tem valores e princípios sólidos e imutáveis", mas que há métodos de aplicação que podem "ser mudados".

A República Islâmica está mergulhada em uma onda de protestos desde a morte de Mahsa Amini, uma jovem curdo-iraniana em 16 de setembro após ser detida pela polícia da moralidade.

Desde então, as mulheres lideram os protestos, nos quais gritam palavras de ordem contra o governo, tiram e queimam seus véus.

De acordo com o último balanço divulgado pelo general iraniano Amirali Hajizadeh, da Guarda Revolucionária, mais de 300 pessoas morreram nas manifestações desde 16 de setembro.

Segundo ONGs, porém, esse número seria mais do que o dobro.

O uso do véu se tornou obrigatório no Irã em 1983, quatro anos depois da Revolução Islâmica de 1979.

A lei estabelece que tanto as mulheres iranianas quanto as estrangeiras, independentemente de sua religião, devem usar véu cobrindo o cabelo e usar roupas largas em público.

As autoridades afirmam que a morte de Amini se deveu a problemas de saúde, mas segundo a família, ela morreu após ser espancada.

Em setembro, o principal partido reformista do Irã pediu a anulação da lei.

O Partido da União do Povo Islâmico do Irã, formado por pessoas próximas ao ex-presidente reformista Mohamed Khatami, exigiu que as autoridades preparassem "os elementos legais que abram caminho para a anulação da lei do véu obrigatório".

O papel da polícia da moralidade mudou ao longo dos anos, mas sempre gerou divisões.

Sob o presidente moderado Hassan Rohani, no poder de 2013 a 2021, era comum ver mulheres de jeans justos e véus coloridos.

Mas seu sucessor Raisi pediu em julho a "todas as instituições estatais" que fortalecessem a aplicação da lei do véu.

"Os inimigos do Irã e do Islã querem minar os valores culturais e religiosos da sociedade espalhando a corrupção", declarou na época.

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