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Após mais de 50 mortos, Irmandade Muçulmana convoca revolta

Mais de 50 pessoas morreram nesta segunda-feira durante uma manifestação organizada por partidários do presidente egípcio destituído, Mohamed Mursi

Homem chora em um hospital para onde vítimas dos confrontos entre a polícia egípcia e simpatizantes da Irmandade Muçulmana são levados (Mahmoud Khaled/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2013 às 22h47.

Cairo - A Irmandade Muçulmana convocou uma "revolta" após a morte de mais de 50 pessoas nesta segunda-feira durante uma manifestação organizada pelos seguidores do presidente destituído Mohamed Mursi, enquanto as novas autoridades prometeram eleições legislativas até o início de 2014.

Esses novos episódios de violência agravam o clima de extrema tensão no Egito desde a destituição do presidente islamita pelo Exército em meio a grandes manifestações exigindo a sua saída.

O presidente interino, Adly Mansour, decretou à noite que a organização de eleições legislativas será iniciada antes do final do ano, relançando a transição política, que está bloqueada devido às difíceis negociações que se arrastam relativas à nomeação de um primeiro-ministro.

A declaração constitucional, divulgada pela agência oficial Mena, prevê o início da organização de eleições legislativas antes do final de 2013 e seu fim para antes do início de fevereiro. Em seguida,uma nova Constituição será submetida a referendo, para que depois uma eleição presidencial seja anunciada.

Mansour havia ordenado anteriormente a abertura de uma investigação sobre a violência que deixou no início desta segunda-feira pelo menos 51 mortos e 435 feridos, de acordo com os serviços de emergência, que não indicaram se as vítimas eram todas manifestantes islamitas.

A Irmandade Muçulmana divulgou uma lista incluindo os nomes de 42 de seus partidários mortos, enquanto a Polícia e o Exército indicaram que três de seus integrantes haviam morrido.


Um fotógrafo da AFP viu cerca de vinte corpos alinhados no chão no necrotério de um hospital próximo.

O Exército egípcio advertiu que não permitirá que ninguém "ameace a segurança nacional" e pediu aos partidários do presidente deposto o fim das manifestações.

E o grande imã Ahmed Al-Tayeb de Al-Azhar, principal autoridade sunita do Egito, anunciou que se afasta até o fim da onda de violência.

Ele pediu para que todos "assumam as suas responsabilidades" para evitar que o país caia em "uma guerra civil".

Ao amanhecer, os partidários de Mursi rezavam diante do quartel general da Guarda Republicana, quando soldados e policiais abriram fogo, relatou a Irmandade em um comunicado.

Manifestantes declararam à AFP que foram atacados com disparos de munição real e bombas de gás lacrimogêneo, em circunstâncias que permanecem obscuras. A Irmandade Muçulmana acusa o Exército pelo ataque.

Testemunhas contaram ainda que as forças de segurança dispararam para o ar e que os tiros diretos partiram de homens à paisana.

O Exército indicou por sua vez que "terroristas armados" tentaram atacar o quartel da Guarda Republicana. A ação terminou com um oficial morto e vários soldados feridos, seis deles em estado crítico, segundo fontes militares.


"Massacre"

Desde a destituição de Mohamed Mursi na quarta-feira passada pelo Exército, a tensão é crescente entre partidários e opositores do ex-presidente. Confrontos sangrentos já deixaram cerca de cem mortos.

O Partido da Justiça e da Liberdade (PJL), braço político da Irmandade Muçulmana, convocou em um comunicado uma "revolta do grande povo do Egito contra os que tentam roubar sua revolução com tanques".

O PJL também pede à "comunidade internacional, aos grupos internacionais e a todos os homens livres do mundo que atuem para impedir outros massacres (e) o surgimento de uma nova Síria no mundo árabe".

Poucas horas após essa declaração, as autoridades decidiram fechar a sede do PLJ no Cairo, depois da descoberta "de líquidos inflamáveis, facas e armas", anunciou à AFP um funcionário da segurança.

À noite, islamitas protestaram em várias cidades do país, de acordo com a agência oficial Mena.

Denunciando este "massacre", o principal partido salafista, Al-Nur, que apoiou o golpe militar contra Mursi, informou a saída das negociações para a formação de um novo governo de transição.


O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, que chegou a ser cotado para assumir o governo de transição, condenou "veementemente" os episódios de violência desta madrugada e exigiu uma investigação independente para apurar os fatos, em uma mensagem postada em seu Twitter.

Anunciada na véspera pela Mena e por diferentes fontes políticas e militares, a escolha de ElBaradei enfrenta a oposição do Al-Nur, que também expressou suas reservas quanto à escolha de um economista de centro-esquerda, Ziad Bahaa Eldin.

O próximo primeiro-ministro egípcio terá a difícil tarefa de recuperar uma economia à beira da falência e conduzir a reconciliação nacional em um país muito polarizado.

A União Europeia pediu que todas as partes "evitem provocações", instando as novas autoridades a "avançar rapidamente para a reconciliação".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "condenou" a violência e pediu uma investigação imparcial.

Turquia, Irã, Catar e o movimento islamita palestino Hamas também condenaram a nova onda de violência, enquanto a Alemanha manifestou sua "grande preocupação".

A Human Rights Watch (HRW) pediu o fim das "ações arbitrárias" contra a Irmandade Muçulmana e a imprensa ligada ao grupo.

Domingo à noite, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em todo o Egito, para mostrar que a queda de Mursi foi fruto da vontade popular.

Já os partidários de Mursi reuniram milhares para exigir o retorno do primeiro presidente democraticamente eleito do país.

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Cairo - A Irmandade Muçulmana convocou uma "revolta" após a morte de mais de 50 pessoas nesta segunda-feira durante uma manifestação organizada pelos seguidores do presidente destituído Mohamed Mursi, enquanto as novas autoridades prometeram eleições legislativas até o início de 2014.

Esses novos episódios de violência agravam o clima de extrema tensão no Egito desde a destituição do presidente islamita pelo Exército em meio a grandes manifestações exigindo a sua saída.

O presidente interino, Adly Mansour, decretou à noite que a organização de eleições legislativas será iniciada antes do final do ano, relançando a transição política, que está bloqueada devido às difíceis negociações que se arrastam relativas à nomeação de um primeiro-ministro.

A declaração constitucional, divulgada pela agência oficial Mena, prevê o início da organização de eleições legislativas antes do final de 2013 e seu fim para antes do início de fevereiro. Em seguida,uma nova Constituição será submetida a referendo, para que depois uma eleição presidencial seja anunciada.

Mansour havia ordenado anteriormente a abertura de uma investigação sobre a violência que deixou no início desta segunda-feira pelo menos 51 mortos e 435 feridos, de acordo com os serviços de emergência, que não indicaram se as vítimas eram todas manifestantes islamitas.

A Irmandade Muçulmana divulgou uma lista incluindo os nomes de 42 de seus partidários mortos, enquanto a Polícia e o Exército indicaram que três de seus integrantes haviam morrido.


Um fotógrafo da AFP viu cerca de vinte corpos alinhados no chão no necrotério de um hospital próximo.

O Exército egípcio advertiu que não permitirá que ninguém "ameace a segurança nacional" e pediu aos partidários do presidente deposto o fim das manifestações.

E o grande imã Ahmed Al-Tayeb de Al-Azhar, principal autoridade sunita do Egito, anunciou que se afasta até o fim da onda de violência.

Ele pediu para que todos "assumam as suas responsabilidades" para evitar que o país caia em "uma guerra civil".

Ao amanhecer, os partidários de Mursi rezavam diante do quartel general da Guarda Republicana, quando soldados e policiais abriram fogo, relatou a Irmandade em um comunicado.

Manifestantes declararam à AFP que foram atacados com disparos de munição real e bombas de gás lacrimogêneo, em circunstâncias que permanecem obscuras. A Irmandade Muçulmana acusa o Exército pelo ataque.

Testemunhas contaram ainda que as forças de segurança dispararam para o ar e que os tiros diretos partiram de homens à paisana.

O Exército indicou por sua vez que "terroristas armados" tentaram atacar o quartel da Guarda Republicana. A ação terminou com um oficial morto e vários soldados feridos, seis deles em estado crítico, segundo fontes militares.


"Massacre"

Desde a destituição de Mohamed Mursi na quarta-feira passada pelo Exército, a tensão é crescente entre partidários e opositores do ex-presidente. Confrontos sangrentos já deixaram cerca de cem mortos.

O Partido da Justiça e da Liberdade (PJL), braço político da Irmandade Muçulmana, convocou em um comunicado uma "revolta do grande povo do Egito contra os que tentam roubar sua revolução com tanques".

O PJL também pede à "comunidade internacional, aos grupos internacionais e a todos os homens livres do mundo que atuem para impedir outros massacres (e) o surgimento de uma nova Síria no mundo árabe".

Poucas horas após essa declaração, as autoridades decidiram fechar a sede do PLJ no Cairo, depois da descoberta "de líquidos inflamáveis, facas e armas", anunciou à AFP um funcionário da segurança.

À noite, islamitas protestaram em várias cidades do país, de acordo com a agência oficial Mena.

Denunciando este "massacre", o principal partido salafista, Al-Nur, que apoiou o golpe militar contra Mursi, informou a saída das negociações para a formação de um novo governo de transição.


O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, que chegou a ser cotado para assumir o governo de transição, condenou "veementemente" os episódios de violência desta madrugada e exigiu uma investigação independente para apurar os fatos, em uma mensagem postada em seu Twitter.

Anunciada na véspera pela Mena e por diferentes fontes políticas e militares, a escolha de ElBaradei enfrenta a oposição do Al-Nur, que também expressou suas reservas quanto à escolha de um economista de centro-esquerda, Ziad Bahaa Eldin.

O próximo primeiro-ministro egípcio terá a difícil tarefa de recuperar uma economia à beira da falência e conduzir a reconciliação nacional em um país muito polarizado.

A União Europeia pediu que todas as partes "evitem provocações", instando as novas autoridades a "avançar rapidamente para a reconciliação".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "condenou" a violência e pediu uma investigação imparcial.

Turquia, Irã, Catar e o movimento islamita palestino Hamas também condenaram a nova onda de violência, enquanto a Alemanha manifestou sua "grande preocupação".

A Human Rights Watch (HRW) pediu o fim das "ações arbitrárias" contra a Irmandade Muçulmana e a imprensa ligada ao grupo.

Domingo à noite, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em todo o Egito, para mostrar que a queda de Mursi foi fruto da vontade popular.

Já os partidários de Mursi reuniram milhares para exigir o retorno do primeiro presidente democraticamente eleito do país.

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