Após diálogo, Rússia e EUA mantêm impasse sobre Ucrânia
Após oito horas, os dois lados descreveram o diálogo como "útil" e "profissional", mas sem avanços na posição dos dois países
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de janeiro de 2022 às 10h31.
Última atualização em 11 de janeiro de 2022 às 10h44.
Diplomatas russos e americanos reviveram nesta segunda-feira, 10 os melhores momentos da Guerra Fria em negociações a portas fechadas em Genebra. No cardápio, o tema principal foi o futuro da Otan e o destino da Ucrânia, ameaçada pela mobilização de 100 mil soldados da Rússia na fronteira. Após oito horas, os dois lados descreveram o diálogo como "útil" e "profissional", mas sem avanços na posição dos dois países.
Rússia e EUA têm visões diferentes sobre o tabuleiro geopolítico da Europa. Moscou vê como uma ameaça o avanço da Otan em direção a sua fronteira e exige garantias de que Ucrânia e Geórgia, duas ex-repúblicas soviéticas, jamais serão aceitas na aliança militar - como querem os americanos. Washington considera a expansão da organização crucial para a segurança europeia.
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Mas a lista de exigências do presidente russo, Vladimir Putin, é ainda mais ambiciosa. Ele quer que a Otan rejeite qualquer cooperação militar com a Ucrânia e outras ex-repúblicas soviéticas, além de retirar armas e tropas do Leste Europeu, o que desmantelaria a proteção militar da Polônia e dos países bálticos - tudo isso sem qualquer contrapartida de Moscou.
Diante de exigências tão irreais, diplomatas americanos temem que o objetivo de Putin seja estipular condições que ele sabe que serão rejeitadas, para obter apoio interno e criar um pretexto para uma ação militar na Ucrânia. Outros analistas acreditam que Moscou tenha inflado o risco de guerra para obter concessões dos EUA nas negociações.
Garantias
Ontem, os russos disseram aos americanos que não há plano de invadir a Ucrânia. "Não há razão para temer algum tipo de escalada", afirmou Sergei Ryabkov, vice-chanceler da Rússia, após a reunião. Wendy Sherman, vice-secretária de Estado dos EUA respondeu com cautela. "O diálogo foi uma chance de melhor compreender o outro e as prioridades de cada um."
Mesmo com a garantia russa, diplomatas europeus e americanos não descartam a possibilidade de invasão da Ucrânia. De acordo com especialistas, a decisão teria de ser tomada em breve, porque a janela para uma ação militar se fecha no final do inverno: o solo congelado começa a derreter em breve, dificultando o avanço dos tanques. Além disso, os soldados russos não podem ser mantidos longe de suas bases por tanto tempo e muitos devem ser substituídos por recrutas mais inexperientes em abril.
Sanções
A crise levou Rússia e EUA ao momento mais tenso da relação bilateral desde o fim da Guerra Fria, nos anos 90. Para evitar uma guerra, europeus e americanos ameaçam o Kremlin com sanções, que incluem a possibilidade de excluir a Rússia do Swift, o sistema internacional de pagamentos, limitar a capacidade dos bancos russos de converter moedas e impor controles de exportação de tecnologias avançadas de aviação, semicondutores e outros componentes.
O presidente dos EUA, Joe Biden, no entanto, ao mesmo tempo em que joga duro, não pode fechar completamente a porta da diplomacia e dar a Putin um pretexto para lançar uma operação militar. Por isso, o diálogo entre os dois se intensificou nos últimos meses.
Negociações
Em dezembro, Biden e Putin discutiram duas vezes o aumento de tropas russas na fronteira ucraniana. Nas conversas, o presidente americano alertou que a Rússia enfrentaria "graves consequências", incluindo sanções econômicas e financeiras, se atacasse a Ucrânia.
Os dois lados nunca demonstraram otimismo com a negociação. No domingo, a Rússia afirmou que não faria concessões e avisou que o diálogo poderia ser encerrado mais cedo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que não esperava nenhum avanço e o resultado mais provável seria continuar negociando no futuro.
É o que vem acontecendo. Hoje, as negociações seguem em Bruxelas em uma cúpula entre representantes da Otan e da Rússia. Amanhã, elas serão retomadas em uma reunião da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em Viena.