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Apoiadores de Evo Morales querem radicalizar protestos contra possível prisão do ex-presidente

Manifestantes já mantêm oito pontos de bloqueio nas rotas que ligam Cochabamba, no centro do país, à capital La Paz e às cidades de Sucre e Santa Cruz

 (Fernando Cartagena/AFP)

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Publicado em 16 de outubro de 2024 às 20h52.

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Os indígenas e agricultores que se mobilizam na Bolívia contra a possível detenção do ex-presidente Evo Morales, investigado por um suposto caso de estupro, anunciaram que, a partir de quinta-feira, 10, intensificarão os protestos com novos bloqueios de vias. Organizações de La Paz, Potosí, Chuquisaca e Santa Cruz vão se unir aos protestos que começaram na segunda-feira e interromperão o tráfego nesses departamentos, advertiu Humberto Claros, secretário da Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses.

As manifestações deixaram o departamento de Cochabamba, no centro do país, isolado. Cochabamba é a base política de Morales, onde ele permanece protegido.

— Isso é em nível nacional. De maneira escalonada, os departamentos estão adotando a medida — declarou Claros à AFP.

Nesta quarta-feira, os manifestantes mantinham oito pontos de bloqueio — três a mais do que na terça-feira — nas rotas que ligam Cochabamba às cidades de La Paz (oeste), Sucre (sul) e Santa Cruz (leste).

Nos primeiros dois dias de mobilização, ocorreram confrontos entre camponeses e a polícia em Parotani, entre Cochabamba e La Paz. Os policiais dispersaram os manifestantes com gás lacrimogêneo, mas eles voltaram a bloquear a via, segundo repórteres da AFP.

Suposto abuso

Os protestos foram convocados pelo Pacto de Unidade, uma aliança de organizações alinhadas com o ex-presidente Morales, que enfrenta um possível mandado de prisão no âmbito de uma investigação por suposto abuso de uma menor durante sua Presidência em 2015. Morales se envolveu com uma menor de 15 anos, com quem teve uma filha em 2016, segundo a denúncia que está sendo investigada pelo MP. Os fatos teriam ocorrido em Tarija, um departamento no sul da Bolívia.

A defesa do ex-presidente alega que o caso já foi revisado e arquivado em 2020. Afirma ainda que a acusação é infundada por falta de provas, já que a vítima se recusa a testemunhar e seus pais são acusados, não acusadores. A acusação baseia-se principalmente em uma certidão de nascimento onde o suposto pai reconhece a filha como tendo 16 anos na época. De acordo com Morales, o caso se baseia em "mais uma mentira".

De acordo com o processo, os pais da vítima — também investigados — a inscreveram na "guarda juvenil" de Morales "com a única finalidade de escalar politicamente e obter benefícios [...] em troca de sua filha menor".

Inicialmente, os bloqueios de estrada foram organizados para "proteger a liberdade, a integridade e (evitar) o sequestro" do líder sindical, que tem 64 anos, segundo o Pacto de Unidade. No entanto, agora os manifestantes também protestam contra o governo de Luis Arce, a quem Morales acusa de orquestrar uma suposta perseguição judicial e política contra ele.

As reivindicações centram-se na crise econômica, agravada pela escassez de combustíveis e dólares, além do aumento da inflação. Os agricultores exigem que Arce compareça pessoalmente aos pontos de bloqueio como condição para iniciar negociações.

— Isso não tem mais volta. Ou o governo realmente resolve o que precisa em pouco tempo, ou, como não consegue estabelecer um diálogo sincero (...), não nos restará outra opção a não ser pedir a renúncia de Luis Arce — acrescentou o dirigente.

Morales e Arce travam uma disputa pelo poder há meses. O influente líder indígena acusou seu ex-ministro da Economia de se aliar a juízes para impedi-lo de concorrer novamente à Presidência em 2025 — Arce até agora não disse se concorrerá. Em setembro, Arce chegou a acusar o ex-aliado e padrinho político de tentar um golpe de Estado através das marchas e bloqueios. Segundo o presidente, Morales ameaçou "quer fazer o que a Constituição do Estado não lhe permite fazer: se requalificar como candidato."

Em dezembro, o Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) fixou em dois mandatos, contínuos ou não, o tempo máximo em que o presidente e o vice-presidente poderão permanecer no cargo. Morales já cumpriu três: entre 2006 e 2009, 2009 e 2014, e 2014 e 2019. Morales argumenta que pode se candidatar novamente, já que passou um mandato presidencial depois de deixar o poder. Com o apoio da ala de seu partido, ele tenta reverter a proibição por meio da pressão popular.

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