Atentados: "Sabemos que as ordens vieram da zona [sob controle] do Estado Islâmico (...), de uma parte muito elevada na cadeia de comando do EI" (Hannibal Hanschke / Reuters)
AFP
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 21h51.
As ordens para realizar os atentados em Paris, em 13 de novembro de 2015, e em Bruxelas, em 22 de março de 2016, foram dadas por importantes dirigentes do grupo Estado Islâmico, afirmou nesta quarta-feira à AFP o procurador federal belga Frédèric Van Leeuw.
"Sabemos que as ordens vieram da zona [sob controle] do Estado Islâmico (...), de uma parte muito elevada na cadeia de comando do Estado Islâmico", declarou o chefe da procuradoria federal, encarregado das investigações terroristas na Bélgica.
Ele não especificou se os comandantes estavam do lado iraquiano ou sírio da região controlada pelo EI, observando que alguns de seus líderes - como seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi - "movem-se" de uma grande cidade para outra, síria ou iraquiana, de acordo com os ataques da coalizão liderada pelos Estados Unidos para neutralizá-los.
Para Van Leeuw, a identificação do belga-marroquino Oussama Atar como um dos idealizadores dos ataques a partir da Síria é "uma hipótese de trabalho, entre outras".
"Há uma série de verificações a fazer", observou ele, ressaltando a dificuldade de conduzir investigações nesta área.
Os ataques, que deixaram 130 mortos em Paris e 32 em Bruxelas, reivindicados pelo EI, foram cometidos por uma única célula predominantemente franco-belga, "aqueles que organizaram a logística de um caso se tornaram a parte operacional do seguinte", de acordo com o procurador belga.
E, apesar dos "enormes progressos", a investigação aberta após os ataques de 13 de novembro (Paris), "está longe de terminar", tanto na Bélgica como na França, indicou Van Leeuw.
"Fomos confrontados após o 13 de novembro com um verdadeiro quebra-cabeças", com "algumas peças que ainda estão faltando" e "outras que temos, mas não sabemos onde encaixar".
Oito suspeitos estão detidos na França como parte desta investigação, e seis na Bélgica, de um total de 19 indiciados neste país, suspeitos de envolvimento em diferentes graus na preparação dos ataques ou na fuga de quatro meses de Salah Abdeslam, o único sobrevivente dos comandos.
Quatro outros suspeitos também foram presos em Itália, Marrocos, Argélia e Turquia.
De acordo com o procurador federal, ainda é impossível prever uma data de processo judicial para qualquer um dos ataques. Ainda há "um monte de áreas obscuras no caso de 22 de março (ataques em Bruxelas)".
Há meses, os investigadores se interrogam sobre um nome misterioso, "Abu Ahmad", citado repetidamente na investigação da célula por trás dos ataques.
Este homem é suspeito de ter comandado dois dos homens-bomba do Stade de France e outro conjunto de potenciais atacantes, que se atrasaram em sua viagem a Paris e que acabaram presos na Áustria em dezembro.
Ele poderia ser Oussama Atar, que é "o único coordenador a partir da Síria identificado até o momento", informou na terça-feira à AFP uma fonte próxima à investigação na França.
Ex-prisioneiro de prisões americanas no Iraque na década de 2000, este belga-marroquino havia retornado para a Bélgica após a sua libertação em 2012.
Depois, Oussama Atar teria partido para a zona Síria-Iraque, mas seu rastro foi perdido pelos serviços de inteligência vários meses atrás.
"Tivemos que desistir dessa ideia de que é possível vigiar pessoas 24 horas por dia, é totalmente impossível", argumentou Frédéric Van Leeuw.
O movimento político e humanitário de apoio a Oussama Atar durante a sua detenção no Iraque e seu posterior desaparecimento do radar causaram polêmica na Bélgica no início do verão, quando meios de comunicação o apresentaram pela primeira vez como um dos suspeitos dos ataques.
Finalmente, os investigadores ainda estão procurando um dos três homens que Salah Abdeslam trouxe de Ulm (Alemanha) para a Bélgica em 3 de outubro de 2015.