Alimentos mais caros: no Líbano, o grupo militante Hezbollah reforçou seu poder no país com a distribuição de alimentos (Bloomberg/Bloomberg)
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Publicado em 15 de setembro de 2021 às 21h23.
Última atualização em 16 de setembro de 2021 às 11h19.
Por Agnieszka de Sousa e Jeremy Diamond, da Bloomberg
Seja pão, arroz ou tortilhas, governos no mundo todo sabem que alimentos mais caros podem ter um preço político. O dilema é se podem fazer o suficiente para não ter que pagar.
Os preços globais dos alimentos subiram 33% em agosto em relação ao ano anterior, com óleo vegetal, grãos e carne em alta, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). E a situação não tende a melhorar com condições climáticas extremas, custos crescentes de frete e fertilizantes, gargalos de transporte e escassez de mão de obra. As reservas cada vez menores de moeda estrangeira também afetam a capacidade de alguns países de importarem alimentos.
Da Europa à Índia, políticos agora distribuem mais ajuda, ordenando que vendedores reduzam os preços e mudem as regras comerciais para mitigar o impacto sobre consumidores.
A questão é mais preocupante em mercados emergentes, onde o custo dos alimentos responde por uma parcela maior dos gastos das famílias, e em países atingidos pela crise. No Líbano, o grupo militante Hezbollah reforçou seu poder no país com a distribuição de alimentos. Mas mesmo os Estados Unidos tomam medidas para aumentar o acesso a alimentos, o que se tornou mais urgente durante a pandemia de coronavírus.
“Os governos podem intervir e se comprometer a apoiar a redução dos preços ao consumidor por um tempo”, disse Cullen Hendrix, pesquisador sênior não residente do Peterson Institute for International Economics, um think tank com sede em Washington. “Mas não podem fazer isso indefinidamente.”
A inflação dos alimentos tem provocado distúrbios na Ásia, Oriente Médio e África, tendo contribuído para os protestos da Primavera Árabe há 10 anos. Bolsões de descontentamento estão crescendo novamente. Manifestações na África do Sul, causadas pela prisão do ex-presidente Jacob Zuma em julho, passaram a ter como foco os alimentos em meio a saques de supermercados e restaurantes. A escassez de produtos em Cuba levou aos maiores protestos em décadas.
Ajustados pela inflação e anualizados, os custos já são mais altos agora do que em quase qualquer período nas últimas seis décadas, de acordo com dados da FAO. Na verdade, agora é mais difícil comprar alimentos do que durante os protestos de 2011 no Oriente Médio que derrubaram líderes na Tunísia, Líbia e Egito, disse Alastair Smith, professor sênior de desenvolvimento sustentável global na Universidade Warwick, no Reino Unido.
“A comida é mais cara hoje do que na maior parte da história moderna registrada”, disse.