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Alepo prepara enterro em massa e clama por vingança

Os sírios retiraram do fundo do rio Quweiq mais de 80 corpos na última terça-feira (29)

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2013 às 16h48.

Alepo - A moradora Um Mohamad caminha, amparada por dois soldados rebeldes, entre os 32 corpos que jazem em uma escola de Alepo (norte da Síria), para diante de um deles e afasta o lençol que cobre o rosto do morto; seu estado dificulta a identificação. Afasta um pouco mais o lençol e identifica uma tatuagem no braço direito. Leva as mãos ao rosto e começa a chorar.

"É seu sobrinho. Desapareceu em julho. Era médico em Maara… Agora temos que ligar para sua família para que venham buscar o corpo", disse Abu Ahmad, seu marido.

A mulher ajudou na terça-feira a retirar do fundo do rio Quweiq mais de 80 corpos, em sua maioria de homens jovens -também havia mulheres e crianças- executados com um tiro na cabeça, muitos com as mãos atadas. As vítimas que estão na escola de Alepo ainda não foram identificadas.

"Sabíamos que estava morto… e hoje confirmamos isso", lamenta Abu Ahmad. "Quando o colocamos no chão, me dei conta de que era ele. O pior será comunicar à mãe; ela ainda tinha alguma esperança de voltar a vê-lo com vida".

Ninguém assumiu a autoria do terrível massacre. Os rebeldes acusam o regime de Bashar al-Assad, enquanto este atribui a matança à frente islamita Al-Nusra.

Mas nesta escola, situada na região rebelde de Alepo, a outrora florescente capital comercial da Síria, ninguém duvida da culpa das tropas de Assad.

"Vingaremos o ocorrido. As mortes desses inocentes não ficarão impunes", disse à AFP Abdel Khader al-Sada, um comandante do Exército Sírio Livre (ESL).


"Todos os civis que vivem nas zonas liberadas são inimigos do regime. Todos os sírios são inimigos do regime; Assad está disposto a acabar com seu povo para manter o poder", afirma.

"Não esqueceremos o sangue de nossos mártires", gritam centenas de jovens reunidos fora da escola Yarmouk, onde são preparados os funerais.

Vários homens retiram um corpo envolvido em um lençol branco coberto com a bandeira da revolução, aos gritos de "Allah u Akbar!" (Deus é grande), acompanhados por salvas de kalashnikov por cada um dos mortos.

Às 12h30, centenas de pessoas lotam o pátio central. Um imã leva as mãos ao rosto e inicia a oração. A multidão se ajoelha em silêncio. A cerimônia é concluída com um "Allah u Akbar" dos presentes.

"Conseguimos recuperar mais um corpo do rio durante a noite. E hoje verificamos que há, pelo menos, duas mulheres boiando na água e várias crianças", afirma o capitão Abu Seikh, responsável pelo necrotério improvisado. Retirar os corpos é perigoso, por causa dos franco-atiradores.

No total, 46 corpos foram identificados e seus parentes os levaram para suas cidades natais. "Os outros, se não forem reconhecidos por nenhum familiar, serão enterrados em uma fossa comum", indica o oficial rebelde.


O ativista Mohamad al-Madi fotografa todos os corpos que apodrecem no chão da escola.

"Criaremos uma base de dados com cada um dos rostos para que, no futuro, as famílias possam reconhecer seus entes queridos e saber onde estão enterrados. Cada corpo está identificado com um número que corresponderá ao túmulo onde será enterrado", explica.

Rada, outro comandante rebelde, denuncia a passividade da ONU e das potências ocidentais frente a um conflito que em 22 meses já deixou mais de 60.000 mortos.

"Nações Unidas e Ocidente são, a partir deste momento, responsáveis de todas e cada uma das mortes de homens, mulheres e crianças na Síria. Não se pode negociar com alguém que massacra seu povo", afirma.

"Assad voltou a demonstrar que não quer negociar nada, porque vive sob o guarda-chuva da impunidade dado pelo Ocidente", acrescentou.

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