Sírios caminham em meio a construções destruídas em Alepo em 23 de outubro (Philippe Desmazes/AFP)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2012 às 13h04.
Alepo - Como vários sírios que vivem nas zonas de combate, Abu Hamid não festejará este ano o Aid el Kabir (a festa do sacrifício), a grande festividade muçulmana, que, para este pequeno comerciante de Alepo, a principal preocupação é sobreviver.
"Este ano não haverá nem festa nem celebração", declarou ele em um dos mercados de cordeiros de Alepo, a segunda cidade do país e cenário há três meses de uma batalha crucial entre o exército e os rebeldes.
"Tenho medo de morrer", explica, acrescentando que os bombardeios o obrigaram a deixar sua casa para se refugiar com a esposa, cinco filhos e os pais em sua loja, que fica na periferia da cidade.
No mercado dos cordeiros, as vendas são escassas faltando poucos dias para o Aid, a festa em que as famílias costumam tradicionalmente sacrificar um cordeiro para comê-lo com a família e dar um pouco aos pobres.
"Vim ao mercado só para passar tempo e ver o que está acontecendo, pois não posso comprar um cordeiro por falta de dinheiro", admitiu Abu Hamid.
Animais à venda não faltam, mas são poucos os fregueses interessados.
"Este ano não será como os outros. Este ano, não haverá Aid el Kabir na Síria" comentou pesaroso Mohammed Aasi, de 20 anos, dono de uma loja de roupas em Alepo.
"Vim comprar um cordeiro, mas não encontro o que busco. Os preços estão muito caros. Falamos de 15.000 libras sírias (220 dólares). No ano passado, custavam em torno das 11.000 libras", explicou.
"As pessoas sequer têm dinheiro para comprar roupa, e não haverá nada de especial, todo mundo está muito triste", acrescentou.
O emissário internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, afirmou nesta quarta-feira ter obtido um acordo com o governo de Damasco e os chefes rebeldes para uma trégua durante a festa, que começa nesta sexta-feira. Mas as esperanças são poucas de que um cessar-fogo seja efetivo no terreno.
No hospital de campanha de Alepo, um administrador comentou ter notado uma diminuição dos combates.
"Hoje não houve muitos combates", afirmou, acrescentando ter tratado de apenas seis feridos.
Em uma rua comercial da cidade, Um Ahmed, usando o tradicional véu negro, percorre as lojas com suas irmãs e filha para comprar sapatos para o inverno. Ela também não espera um Aid muito feliz.
"Só estamos sobrevivendo. Pedi dinheiro emprestado ao meu irmão para poder comer. As escolas de Alepo estão fechadas e as crianças têm que passar o dia todo em casa. Tenho tanto medo que sequer as deixo sair para comprar doces", comentou a mulher de 36 anos.
Na pequena sapataria, tomada pela umidade, a única luz é a que entra pela vitrine. Hamud Mohamed Ali, um amigo do proprietário, diz que há dois dias não há eletricidade.
"Não há trabalho nem dinheiro. Tudo está tão caro e nem podemos sair do bairro por causa dos franco-atiradores. Há dois dias, por exemplo, um homem quis sair e morreu baleado por um franco-atirador instalado em um dos imóveis mais altos", contou.