Angela Merkel: não é a primeira vez que Berlim se irrita com as reticências dos países do Magreb (.)
AFP
Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 11h22.
A chanceler alemã, Angela Merkel, irá se reunir nesta terça-feira, em Berlim, com o primeiro-ministro da Tunísia, Youssef Chahed, a quem solicitará o fim do bloqueio à repatriação de seus cidadãos e uma ajuda para frear a migração para o continente europeu.
O ataque com um caminhão contra uma feira de Natal em Berlim em dezembro, que deixou 12 mortos, cometido pelo tunisiano Anis Amri em nome do grupo Estado Islâmico (EI), trouxe o tema novamente à discussão.
Há vários meses, Tunísia, Marrocos e Argélia são acusados de impedir as repatriações de seus cidadãos, especialmente se estão vinculados ao movimento salafista.
O caso de Anis Amri reflete bem a situação, já que a Tunísia negou durante meses que ele fosse cidadão do país, apesar da identificação por parte de Berlim, que o classificou de "perigoso".
"Vamos falar sobre como podemos fazer (...) para que as coisas aconteçam mais rápido, especialmente quando se trata de indivíduos classificados como perigosos", disse Merkel no sábado, classificando ao mesmo tempo de positiva a atitude da Tunísia desde o atentado.
A chanceler, no entanto, pretende ir mais longe. Nesta terça-feira, em Berlim, ela deve abordar com Youssef Chahed o tema da criação na Tunísia de acampamentos para migrantes resgatados durante sua travessia pelo Mediterrâneo. Isto impediria que entrassem na Europa.
"Temos que falar, tranquila e respeitosamente, das possibilidades que existem neste âmbito", declarou.
"A Tunísia é uma democracia jovem, não acredito que possa funcionar e não temos a capacidade para ter campos de refugiados. É preciso encontrar uma solução com a Líbia", onde os traficantes aproveitam o caos e a ausência de um estado eficaz, disse por sua vez Chahed.
Este assunto se tornou espinhoso para Merkel porque sua política de portas abertas aos migrantes em 2015 é alvo de críticas, inclusive por uma ala conservadora de seu partido, em um ano eleitoral crucial na Alemanha.
O partido direitista anti-islã Alternativa para a Alemanha (AfD) aproveitou esta situação para se consolidar no cenário político, acusando Merkel de ter colocado o país em perigo.
Não é a primeira vez que Berlim se irrita com as reticências dos países do Magreb.
Há um ano, a Alemanha denunciou a lentidão das repatriações depois que a polícia estabeleceu que a maior parte dos autores das agressões sexuais cometidas na noite de Ano Novo eram cidadãos dos países do norte da África em situação irregular.
Também é preciso levar em conta que, segundo as estatísticas, tunisianos, argelinos e marroquinos só obtêm o status de refugiado na Alemanha em 0,8%, 2,7% e 3,5% dos casos, respectivamente.
No entanto, este é um tema delicado na Tunísia, um país atingido pelo desemprego dos jovens, onde muitas famílias vivem dos recursos enviados por seus parentes instalados na Europa.