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Além do Brasil, outros países também reabrem economia no pico da epidemia

Pressionados pelo prejuízo econômico, outros governos também ignoram orientação de especialistas e liberam atividades não essenciais

Coronavírus: dos 136 mil novos casos relatados no domingo, 75% se concentraram em apenas 10 países (Gavriil GrigorovTASS/Getty Images)

Coronavírus: dos 136 mil novos casos relatados no domingo, 75% se concentraram em apenas 10 países (Gavriil GrigorovTASS/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de junho de 2020 às 12h28.

Última atualização em 11 de junho de 2020 às 12h40.

O Brasil não é o único país que decidiu retomar as atividades econômicas sem ter atingido o pico da pandemia de coronavírus. Outros também optaram pelo fim do isolamento rígido no momento em que o vírus mais avança. Presos entre as catástrofes econômica e sanitária, a determinação de governos de América Latina, África, de Estados americanos, além de Rússia e Índia, aumenta o risco de agravamento da crise.

Dois meses atrás, quando havia 1 milhão de casos confirmados de coronavírus no mundo, a recomendação era quarentena, muitas vezes com um duro lockdown, e fechamento de estabelecimentos não essenciais. Nesta semana, o número de casos ultrapassou 7 milhões, com 136 mil novas infecções detectadas só no domingo, 7 recorde em um único dia desde o início da pandemia. A ordem do dia? Reabertura.

Para as autoridades de saúde, este é um momento perigoso. "Não é hora de nenhum país pisar no freio", alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) em entrevista no início da semana. "A crise está longe de terminar."

Embora as taxas de infecção nas grandes cidades americanas e na Europa tenham diminuído, o vírus vem se espalhando pelo mundo. O pico global de infecção pode demorar meses a chegar. Na ausência de uma vacina ou tratamento, a única estratégia comprovada contra o vírus ainda é limitar o contato humano.

Mas administrar as incertezas e a impaciência de um lockdown não é tão simples na maioria dos lugares. Em muitos países, os governos temem o impacto do vírus na economia, que limita a vontade política de manter os estabelecimentos fechados ou de decretar uma nova quarentena.

Na terça-feira, 9, o principal especialista em doenças infecciosas dos EUA, Anthony Fauci, descreveu a covid-19 como seu "pior pesadelo". "Em quatro meses, devastou o mundo inteiro" disse. "E ainda não acabou."

Dos 136 mil novos casos relatados no domingo, 75% se concentraram em apenas 10 países, a maioria no continente americano e sul da Ásia - entre eles Índia, Brasil, México e África do Sul. Carissa Etienne, diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), disse que a crise "levou a América Latina ao limite".

O coronavírus vem se espalhando rapidamente por países governados por líderes acostumados a suprimir informações para moldar a narrativa política. Na Rússia, o presidente Vladimir Putin suspendeu o lockdown nesta semana, mesmo com o número de infecções detectadas aumentando constantemente.

No México, o governo de Andrés Manuel López Obrador não vem registrando centenas de mortes na Cidade do México e demitiu os funcionários que denunciaram que a capital tem o triplo do número de óbitos que é divulgado oficialmente.

Tudo indica que López Obrador está de mãos atadas. Como a maioria da população depende do setor informal e não tem uma rede de segurança estatal, ele não consegue impor uma quarentena rígida. Agora, no momento em que o país registra recordes diários de mortos, o governo decidiu reabrir estabelecimentos de forma gradual.

A Índia vive um drama parecido. "Haverá proibição total de sair de casa", disse o primeiro-ministro, Narendra Modi, no dia 24 de março. "Todos os Estados, distritos, todas as ruas, todas as cidades estarão em lockdown." Logo, o desejo de isolar 1,3 bilhão de habitantes se mostrou ambicioso demais. A maioria da população indiana é pobre, vive em áreas urbanas lotadas, com falta de saneamento e serviços de saúde ruins.

Agora, a Índia enfrenta a onda de infecções mais forte da Ásia, com mais de 10 mil novos casos diários e 290 mil contaminados. Enquanto especialistas alertam para uma escassez iminente de leitos e de médicos, nesta semana, os indianos foram autorizados a jantar fora, fazer compras e orar em templos religiosos.

Na América Latina, os casos de covid-19 estão aumentando tanto em países que adotaram medidas de isolamento precocemente, como Peru e Bolívia, quanto naqueles que ignoraram as recomendações de saúde pública, como Brasil e Nicarágua. Ontem, a África ultrapassou a marca de 200 mil infectados - um quarto deles na África do Sul. Mesmo assim, o governo sul-africano anunciou na terça-feira que as aulas serão retomadas na semana que vem.

O manual de resposta contra o vírus usado por europeus e americanos parece não funcionar em todos os lugares. Sociedades com economias informais não podem impor lockdowns sem o risco de colapso social. Mas o fenômeno não se restringe aos países mais vulneráveis.

O New York Times informou que, enquanto o país retoma as atividades econômicas, o vírus ainda está se espalhando por 21 Estados americanos. A situação é pior em Oregon, Texas, Carolina do Norte, Califórnia, Arkansas, Mississippi, Utah e Arizona, que ontem pediu que os hospitais estaduais reativassem os protocolos de emergência.

UE diz que a China divulgou mentiras para dividir bloco

Nesta quarta-feira, 10, a União Europeia acusou a China de espalhar informações falsas durante a pandemia para dividir o bloco. "A pandemia mostrou que a desinformação não prejudica apenas a saúde das pessoas, mas também a saúde de nossas democracias", disse Vera Jourova, principal autoridade da UE sobre Estado de Direito.

Em pelo menos duas oportunidades, a China teria tentado causar discórdia. Em uma, enviou suprimentos à Itália e disse que os parceiros europeus não ajudavam na crise. A outra foi quando a embaixada chinesa na França divulgou uma notícia falsa que funcionários de asilos tinham abandonado seus postos e deixado os idosos para morrer. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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