Claudia Sheinbaum, presidente eleita do México (Yuri Cortez/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 3 de junho de 2024 às 12h33.
Última atualização em 3 de junho de 2024 às 12h54.
A eleição de Claudia Sheinbaum como nova presidente do México traz uma oportunidade de aproximação com o Brasil, especialmente na área ambiental.
Sheinbaum, 61 anos, tem doutorado em engenharia de energia, pela Universidade Autônoma do México. Ela também estudou na Universidade da Califórnia em Berkeley e trabalhou no IPCC, painel da ONU sobre as mudanças climáticas, que faz estudos e alertas sobre a necessidade de conter o aquecimento global.
Sua entrada na política foi pela área ambiental: a partir de 2000, ela foi chefe da área de meio ambiente quando Andrés Manuel Lopez Obrador, atual presidente em fim de mandato, era prefeito da Cidade do México.
Na campanha, Sheinbaum prometeu investir cerca de US$ 14 bilhões em energia limpa, em ações como aumentar a frota de ônibus elétricos e de trens e novos projetos de geração de energia, até 2030, quando seu mandato terminará.
Se ela cumprir a promessa, fará uma mudança em relação ao seu antecessor e aliado. Em seu governo, Obrador buscou fortalecer a estatal petroleira Pemex e deixou de lado os investimentos em energia verde.
Um maior foco do México em energias verdes poderá aproximar o pais do Brasil e do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que busca avançar pautas nesta área. O Brasil, além de presidir o G20 neste ano, receberá a COP 30 em 2025, em Belém.
"Sheinbaum tem uma agenda ambiental forte, e isso pode aumentar uma aliança entre Brasil e México, pois há pautas convergentes. Uma aliança em relação a mudanças nas estruturas do sistema internacional também é possível", aponta Denilde Holzahacker, professora de relações internacionais na ESPM.
“No entanto, os dois países competem muito em termos industriais e comerciais, então, mesmo que haja um discurso de aproximação, na prática há poucos movimentos”, pondera a professora.
Em 2023, o Brasil exportou R$ 8,5 bilhões em produtos para o México, e importou R$ 5,5 bilhões, segundo dados do ComexStat, do governo brasileiro.
O Brasil exporta ao México principalmente soja, automóveis e milho. E compra especialmente automóveis e peças. Os mexicanos enviam mais ao Brasil veículos com motor de potência entre 1.5 e 3.0. Já o Brasil exporta mais carros menos potentes, com motor entre 1.0 e 1.5.
Há ainda a questão de que a principal relação estrangeira do México é com os Estados Unidos, tanto pela integração econômica quanto pelas questões de fronteira. Assim, a relação com outros países do continente fica em segundo plano.
"Obrador não se interessou em ter uma agenda ativa no âmbito internacional. Ele se concentrou no âmbito interno e deixou a política exterior para a Secretaria de Relações Exteriores", diz Gerardo Maldonado, professor no Cide, um centro de pesquisa econômica ligado ao governo mexicano.
Em seu mandato, Obrador fez críticas a Jair Bolsonaro quando ele era presidente e deu apoio a Lula. Ambos, assim, como Sheinbaum, são de esquerda, o que também favorece uma aproximação. No entanto, Obrador fez poucas viagens ao exterior ao longo de seu governo, e Lula tampouco não foi ao México.
Sheinbaum tomará posse em 1º de outubro, e poderá vir ao Brasil em novembro, para as reuniões de cúpula do G20, bloco do qual o México também faz parte.