África tenta conter pânico provocado pelo ebola
Epidemia do vírus na África já causou mais de mil mortes na região
Da Redação
Publicado em 13 de agosto de 2014 às 15h13.
Monróvia - Os países do oeste da <strong><a href="https://exame.com.br/topicos/africa">África</a></strong> que apresentam casos de ebola tentavam nesta quarta-feira conter o pânico da população ante uma <strong><a href="https://exame.com.br/topicos/epidemias">epidemia</a></strong> que já causou mais de mil mortes na região.</p>
A autorização de tratamentos experimentais na terça-feira pela Organização Mundial da Saúde ( OMS ) provocou uma pequena esperança, mas apenas poucas pessoas serão beneficiadas entre as centenas de casos registrados.
"Devemos evitar o pânico e o medo, é possível evitar o ebola", afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que anunciou a nomeação de um coordenador das Nações Unidas para a doença, o epidemiologista britânico David Nabarro.
"Nos próximos dias, a ONU vai reforçar as ações para conter o ebola", prometeu Ban, que citou o envio de médicos e de material de proteção aos países afetados.
O Canadá anunciou que entregará à OMS entre 800 e 1.000 doses de uma vacina experimental contra o vírus do ebola para tentar controlar a epidemia sofrida pela África Ocidental.
A vacina (VSV-EBOV), desenvolvida pelo laboratório de microbiologia da Agência de Saúde Pública em Winnipeg (Manitoba, centro), ainda não foi testada em humanos, mas "se revelou promissora na pesquisa em animais", segundo a ministra da Saúde, Rona Ambrose, em um comunicado.
A Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciou a morte na cidade de Lagos, capital financeira da Nigéria, de um de seus funcionários, o que eleva a três o número de óbitos no país, o de maior população do continente africano.
A Libéria informou que o soro experimental americano ZMapp, que apresentou resultados positivos em dois americanos, mas que não conseguiu salvar um padre espanhol que faleceu na terça-feira depois de ter sido repatriado a Madri, será administrado apenas a dois médicos liberianos, os doutores Zukunis Ireland e Abraham Borbor.
"A Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos autoriza o fabricante a enviar o remédio ao ministério da Saúde apenas para que seja utilizado nos dois médicos. O medicamento chegará ao país nas próximas 48 horas", afirma um comunicado da presidência da Libéria.
Na vizinha Serra Leoa, um segundo médico que participava na luta contra a epidemia de ebola morreu após contrair o vírus mortal.
O médico Modupeh Cole, que trabalhava no hospital Connaught de Freetown, foi transportado em 9 de agosto para o centro de tratamento especializado em ebola de Kailahun (leste), que anunciou a sua morte.
O ministério da Saúde desse país informou que escreveu uma carta ao grupo americano que produz o soro para obter o medicamento.
"A OMS aprovou nosso pedido para que o medicamento ZMapp esteja disponível tanto em Serra Leoa como na Libéria", declarou Sidi Yahya Tunis, porta-voz do ministério, que espera uma resposta nos próximos dias.
Doença de pobre
Até o momento o governo da Guiné não solicitou o soro, segundo uma fonte oficial.
O grupo farmacêutico americano que produz o ZMapp anunciou na segunda-feira que enviou todas as doses disponíveis para o oeste da África, sem revelar os países, e destacou que isto aconteceu de forma gratuita.
Diante da magnitude da epidemia, um comitê de especialistas reunidos pela OMS na terça-feira concluiu que é "ético oferecer tratamentos - cuja eficácia ainda não foi demonstrada e dos quais os efeitos colaterais são desconhecidos - como potencial tratamento ou de caráter preventivo".
A diretora-geral adjunta de organização, Marie-Paule Kieny, admitiu, no entanto, a falta de estoques do tratamento, pois o ebola é "uma doença de pobres, em países pobres, nos quais não há mercado para os grupos farmacêuticos".
O presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, fez um apelo à comunidade internacional para obter 18 milhões de dólares de ajuda necessários para financiar a luta contra a epidemia.
Na região, o primeiro-ministro de Guiné Bissau, Domingos Simões Pereira, anunciou o fechamento das fronteiras com Guiné, outro país afetado, até nova ordem.
A Confederação Africana de Futebol (CAF) solicitou à Federação Guineana (FGF) a mudança de local dos jogos da seleção do país até meados de setembro.
Na entrada do continente europeu, no estreito de Gibraltar e no território espanhol de Melilla, os membros da Guarda Civil, que enfrentaram nos últimos dias uma grande chegada de imigrantes, estavam equipados com luvas de borracha e máscaras médicas para evitar um eventual contágio.
A epidemia de ebola, a mais grave desde o surgimento da febre hemorrágica em 1976, provocou 1.013 mortes na África Ocidental, incluindo 373 na Guiné, 323 na Libéria e 315 em Serra Leoa, segundo o balanço da OMS de 9 de agosto.