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Afinal, por que é tão difícil combater o Estado Islâmico?

Para especialista, um dos maiores desafios para o combate ao grupo terrorista é resolver o que será feito de Bashar Al-Assad, ditador da Síria


	Estado Islâmico: segundo especialistas, o potencial de recrutamento do grupo terrorista é outro aspecto que o fortalece ainda mais
 (Reuters)

Estado Islâmico: segundo especialistas, o potencial de recrutamento do grupo terrorista é outro aspecto que o fortalece ainda mais (Reuters)

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Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2016 às 19h25.

São Paulo - Um dos grupos terroristas mais bem articulados e financiados da história, o Estado Islâmico se mostra um desafio e tanto para a comunidade internacional em 2016.

A célula terrorista, que em 2014 autoproclamou um califado no território da Síria e do Iraque, ganhou bastante destaque na imprensa internacional em 2015, com atentados no Ocidente (entre outros, o grupo assumiu a autoria pelos ataques contra a revista Charlie Hebdo e a série de ataques coordenados em Paris em novembro) e com vídeos chocantes que mostram execuções e crianças matando reféns.

"O Estado Islâmico é um grupo difícil de se combater, não apenas por ser não-estatal. O principal desafio das potências Ocidentais para 2016 é chegar num acordo em como o grupo precisa ser combatido. O fato de que é necessário lutar contra o Estado Islâmico já é consenso", explica Rodrigo Gallo, professor de Relações Internacionais na Fespsp e na FMU.

Segundo o especialista, um dos maiores desafios para o combate ao grupo é resolver o que será feito de Bashar Al-Assad, ditador da Síria que governa o país desde 2000.

Enquanto EUA, França e Grã Bretanha - países que têm sido mais atuantes no combate aos radicais - consideram Assad um ditador, a Rússia o tem como um aliado de longa data e uma das poucas bases amigas remanescentes no Oriente Médio.

"Como é que esses países ocidentais conseguirão fazer um acordo de ataque ao Estado Islâmico sendo que eles não conseguem entrar num acordo sobre a figura que assumiria o poder na Síria?", indaga Gallo.

De acordo com relatórios de inteligência, os ataques recentes - conduzidos especialmente pela França e pelos EUA - já enfraqueceram o grupo, mas sua derrota a longo prazo não é algo certo.

Especialista em segurança internacional, o professor Bernardo Wahl afirma que o combate ao Estado Islâmico vai continuar no centro das atenções em 2016, mas o desfecho do conflito pode se arrastar por anos.

"É bastante difícil que se alcance uma vitória militar decisiva contra o Estado Islâmico nos próximos anos. O grupo tem se mostrado bastante resiliente, que mostra que mesmo sob ataque não tem problemas em recrutar e mobilizar. Além disso, diversas vitórias táticas contra o grupo não estão se traduzindo em uma derrota estratégica do Estado Islâmico, e essa derrota não será vista nos próximos dois ou três anos", detalha.

O potencial de recrutamento do Estado Islâmico é, na opinião dos especialistas ouvidos pelo HuffPost Brasil outro aspecto que fortalece ainda mais o grupo, e torna seu combate mais complicado.

Há milhares de registros de jovens europeus que fugiram de casa para se juntar aos soldados extremistas. Os atentados recentes em Paris também foram cometidos por jovens europeus, assim como os ataques de janeiro, que vitimaram os cartunistas da Charlie Hebdo.

Para a professora Rita do Val, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina, o recrutamento tem raízes mais profundas, que podem ser explicadas, em parte, pelo histórico de xenofobia na Europa.

"Para entender o sistema de captação de novos soldados é necessário entender as causas sociológicas que fazem com que um jovem belga, do subúrbio, deixe sua família e vá para o EI. Isso tem a ver com xenofobia, exclusão social, preconceito religioso. Essas pessoas, que são empurradas para guetos, não se sentem parte de um grupo, e o Estado Islâmico se apresenta como um braço acolhedor."

Além disso, o fato de não ter apenas um quartel general, torna o Estado Islâmico ainda mais difícil de ser combatido.

"Esse grupo, na verdade, é constituído por células, que estão concentradas em vários lugares, não necessariamente em um único local. Ele está presente, inclusive dentro de países da Europa. Um bombardeio aéreo pode acabar com UM grupo, destruir o arsenal de UM grupo. Mas, estrategicamente, esse grupo não tem um único QG. Ele está espalhado e organizado em territórios e países distintos", explica Rita.

Todas as questões levantadas acima, entretanto, só são realidade devido a um robusto sistema financeiro construído por meio de contrabando de petróleo, saques, venda de antiguidades, negociação de reféns e outras atividades que mantém o Estado Islâmico de pé.

O presidente russo, Vladimir Putin, chegou a afirmar que países do G20 são responsáveis por manter o grupo pois, de certa forma (ainda que indiretamente), mantêm relações com o EI.

"O fato é que a saída não é simples, e ela envolve múltiplos e conflitantes interesses", afirma Wahl.

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