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Afeganistão trava guerra contra o narguile e o tabaco aromático

O uso do narguile foi uma das muitas atividades que estiveram proibidas por leis "antiislâmicas" durante o estrito regime dos talibãs

Narguile: os reincidentes enfrentarão multas e inclusive penas de prisão (Carsten Koall/Getty Images)

Narguile: os reincidentes enfrentarão multas e inclusive penas de prisão (Carsten Koall/Getty Images)

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EFE

Publicado em 5 de dezembro de 2016 às 10h50.

Cabul - Enquanto o Afeganistão afunda no progressivo avanço dos talibãs e dispara a produção de ópio em um país que é o maior produtor mundial desta substância, as forças de segurança decidiram centrar seus esforços na erradicação de narguiles e tabaco aromático.

O narguile, shisha ou cachimba é um dispositivo de origem oriental para fumar tabaco aromático e seu uso foi uma das muitas atividades que estiveram proibidas por leis "antiislâmicas" durante o estrito regime dos talibãs (1996-2001).

Com a passagem dos anos, a nova geração de afegãos começou a abraçar aqueles passatempos um dia censurados e as "shishas" foram florescendo nos menus dos bares e restaurantes da capital afegã. Mas agora têm, mais uma vez, os dias contados.

A polícia da capital percorre nestes dias as ruas de Cabul confiscando todos os narguiles que encontra em suas batidas em estabelecimentos e arrancando qualquer cartaz que faça promoção da atividade, em complacência com sua recente ilegalização.

O Comitê Executivo para a Lei de Controle do Tabaco ilegalizou recentemente a utilização em lugares públicos dos narguiles, no Afeganistão conhecidos popularmente como 'hookahs'.

"É uma campanha conjunta da polícia e do Ministério da Saúde que começou na cidade de Cabul e vamos eliminar e colher todas as 'hookahs' em todas as zonas da capital", explicou à Agência Efe o chefe do policial Departamento de Investigação Criminal, Faraidoon Obaidi.

Nesta primeira fase, os infratores são tratados "suavemente", mas os reincidentes enfrentarão multas e inclusive penas de prisão, segundo avançaram as autoridades, que pretendem estender em breve a normativa a outras cidades, explicou à Aggência Efe o doutor Bashir Ahmad Sarwari.

A cargo da campanha por parte do Ministério da Saúde, Sarwari defende que o uso de narguiles em lugares públicos aumenta os problemas respiratórios dos habitantes, que já sofrem com a grande poluição da cidade.

O médico afirma que, de fato, estes cachimbos formados por um recipiente e um tubo pelo qual são aspirados vapores frutados, são inclusive mais prejudiciais do que o tabaco, ao contrário do que se costuma pensar.

O doutor adverte sobre problemas respiratórios, doenças cardíacas, câncer e níveis perigosos de pressão arterial.

Da mesma forma como ocorreu com outras modas como o fisioculturismo e as tatuagens, o uso de shishas -"tragicamente", ressaltou Sarwari- viveu uma explosão de popularidade após a queda do regime talibã com a invasão americana em 2001.

Aproveitando o vento a favor, muitos bares e restaurantes abusam de suas licenças para vender comida e bebida e, disse o médico, oferecem também ilegalmente tabaco aromático em narguiles.

A polícia mantém que, além disso, estes locais são frequentados por criminosos, por isso que favorecem o desenvolvimento de outras atividades delitivas.

No entanto, a comunidade hosteleira parece não estar de acordo com a medida, entre temores de que afunde seus negócios.

Rafiullah trabalha em um restaurante do luxuoso centro comercial Gulbahar Center e embora se mostre confiante de que a polícia não irá ao local por sua localização privilegiada, adverte que seguirão servindo narguiles enquanto for possível.

"A maioria de nossos clientes vêm aqui por nossas boas shishas de tabaco adoçado e de sabores, se deixarmos de servir narguiles, perderemos a maioria de nossos visitantes", lamentou em declarações à Agência Efe.

Cliente habitual destes restaurantes, aos quais comparece entre três ou quatro vezes por mês, Qaher Zamani lamenta as prioridades das autoridades e sua inação contra outros assuntos mais sérios.

O cultivo de ópio no Afeganistão, o maior produtor mundial desta substância, cresceu 10% em 2016 até alcançar 201 mil hectares, devido principalmente ao aumento da insegurança com a intensificação do conflito, segundo dados do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC).

Funcionário de uma empresa de construção, Zamani tem claro. "Nosso governo esqueceu de suas prioridades, não realizam batidas contra centenas de narcotraficantes nas cidades para salvar centenas de milhares de drogados".

"Em seu lugar -concluiu-, utilizam suas armas e seu pessoal para saquear bares e restaurantes onde os cidadãos desesperados comparecem para esquecer por alguns momentos as adversidades de suas vidas com 'hookahs'".

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