Adriano Pires: Pré-sal está levando o Brasil a uma era pré-industrial
Segundo o especialista em energia, falta vontade política no atual governo para conciliar a exploração de petróleo e desenvolvimento sustentável
Vanessa Barbosa
Publicado em 10 de novembro de 2010 às 20h31.
São Paulo - A descoberta do pré-sal lançou luz em uma nova discussão no cenário das políticas para o crescimento econômico sustentável. Será que é possível explorar uma riqueza energética de origem fóssil sem pôr em risco o desenvolvimento de um Brasil mais sustentável, com foco em fontes renováveis? Para o especialista em mercado energético Adriano Pires conciliar desenvolvimento sustentável com a exploração do pré-sal é viável desde que se tenha um governo comprometido com uma estratégia ambiental.
"Mas não vejo isso no Brasil. As políticas que estão sendo adotadas pela atual gestão vão na direção contrária. Enquanto o mundo caminha para uma era pós-industrial, a atual política do pré-sal, na forma como se encontra, está levando o Brasil a uma era pré-industrial", disse Pires durante o EXAME Fórum Energia, nesta quarta (10).
"Estamos indo na contra-mão do que o mundo todo tem feito, que é investir em energia limpa",disse. Segundo o sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o volume de investimento que a Petrobras anuncia para os próximos quatro anos, de 224 bilhões de dólares, está bem acima do que se investe em tecnologia para energias renováveis.
Para outro participante do Fórum, o professor e reitor da Unimonte, Ozires Silva, o petróleo é uma matéria-prima extraordinária. Mas o pior fim que ele pode ter é para a produção de energia mecânica, que é o que o Brasil faz hoje para abastecer a industria automotiva. "É importante pensar em meios menos poluentes, ou talvez, nova tecnologias que evitem a emissão de CO2 na atmosfera", disse ele.
O cenário de Pires sobre o futuro do Brasil e do pré-sal é ainda mais nebuloso. "É preocupante que a industria brasileira vá completamente a reboque do que acontecer no setor de petróleo", afirmou, destacando que a produção nacional deverá crescer para fornecer bens e serviços para o pré-sal. "O risco dessa empreitada é cairmos na maldição do petróleo, que pode levar o país a uma desindustrialização de diversos setores e uma industrialização em cima de uma energia suja que, com certeza, não será a energia do século XXI".