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Acusado de massacre em Charleston queria guerra racial

Uma das vítimas tentou conversar com Roof durante o ataque para evitar mais mortes, "mas ele disse 'não, vocês violentaram nossas mulheres e estão tomando o país. Tenho que fazer o que tenho que fazer'"


	Dylann Roof, autor do massacre em Charleston, Estados Unidos
 (REUTERS/Jason Miczek)

Dylann Roof, autor do massacre em Charleston, Estados Unidos (REUTERS/Jason Miczek)

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Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2015 às 10h11.

O jovem branco Dylann Roof admitiu à polícia nesta sexta-feira que matou nove pessoas em uma das igrejas mais emblemáticas da comunidade negra de Charleston, Carolina do Sul (sudeste dos Estados Unidos).

No Twitter, a polícia de Charleston anunciou que Roof foi acusado formalmente pelo assassinato de nove pessoas e participou da audiência hoje à tarde, por teleconferência.

Ele foi acusado pelos assassinatos, além de posse de arma de fogo durante um crime violento.

Um oficial da polícia disse ao canal CNN que o jovem de 21 anos declarou aos investigadores que desejava "iniciar uma guerra racial" quando entrou na Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel de Charleston, na quarta-feira à noite, e abriu fogo em uma aula de estudos da Bíblia.

Todas as vítimas eram afro-americanas.

O massacre também reavivou o debate sobre o controle de armas nos Estados Unidos, com o presidente Barack Obama apelando mais uma vez para um maior controle da venda de armas de fogo. O objetivo é, segundo ele, evitar esse tipo de "mortes sem sentido".

Durante a audiência em um tribunal de Charlestone, na qual se ordenou a prisão de Roof sem direito à fiança, parentes das nove vítimas manifestaram sua profunda tristeza, mas disseram perdoar o atirador.

Com olhar fixo, Roof ouviu por videoconferência na prisão a acusação pelos nove homicídios.

A polícia prendeu Roof durante uma operação rodoviária no estado vizinho da Carolina do Norte, informou o chefe de polícia de Charleston, Gregory Mullen.

Imagens da televisão mostraram o suspeito entrando em um pequeno avião com as mãos algemadas e o uniforme de prisioneiro, quando era levado para uma prisão de Charleston.

A governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, afirmou nesta sexta-feira que Roof deve ser condenado à morte, se for considerado culpado. A pena capital é legalizada no estado.

"É um crime absolutamente racista", declarou ao canal NBC.

"Queremos incondicionalmente a pena capital. É o pior crime racista que vi e que o país viu em muito tempo", completou.

Em seu perfil no Facebook, Dylann Roof aparece em uma foto com um casaco preto com a estampa da bandeira da África do Sul durante o Apartheid, símbolo do segregacionismo, e em outra com a bandeira do ex-regime segregacionista da Rodésia (atual Zimbábue).

Sylvia Johnson, parente de uma das vítimas, disse à CNN que uma sobrevivente contou que o atirador falou coisas de teor racista.

Uma das vítimas tentou conversar com Roof durante o ataque para evitar mais mortes, "mas ele disse 'não, vocês violentaram nossas mulheres e estão tomando o país. Tenho que fazer o que tenho que fazer'" - relatou.

Na noite desta sexta-feira, centenas de pessoas realizaram uma vigília para lembrar as nove vítimas, em uma cerimônia que reuniu negros e brancos em um estádio, incluindo muitos familiares dos falecidos.

Os participantes da vigília cantaram "We Shall Overcome", canção emblemática das passeatas pelos direitos dos afro-americanos nos Estados Unidos.

'Não vou matar você'

Segundo as autoridades, o tiroteio aconteceu por volta das 21h locais. O suspeito entrou na aula de estudos bíblicos e permaneceu sentado por quase uma hora, antes de abrir fogo contra as vítimas - três homens e seis mulheres -, informou Mullen.

O agente especial do FBI John Strong anunciou que a polícia investiga se o suspeito cometeu um crime de ódio, um delito federal.

A líder local do movimento de direitos dos negros NAACP, Dot Scott, relatou à CNN que uma vítima teria sido poupada pelo assassino para testemunhar sobre o massacre.

"Sua vida foi poupada porque o assassino disse: 'eu não vou matar você, porque eu quero que você diga a eles o que aconteceu", contou Scott.

As vítimas tinham entre 26 e 87 anos, incluindo o pastor da igreja Clementa Pinckney (41 anos).

"Ele era amado por todos. Nunca ouvi uma palavra dura contra ele. Ele era um pacificador, (...) uma voz marcante e tranquilizadora não somente para a igreja, mas para o estado", disse seu primo Kent Williams à CNN.

Tensão racial

A tragédia representa um novo golpe para a comunidade afro-americana nos Estados Unidos. Nos últimos meses, o país foi vítima de crimes aparentemente motivados por racismo, em particular homicídios cometidos por policiais brancos contra homens negros desarmados.

Em Nova York, uma manifestação reuniu cerca de 60 pessoas para lembrar os nove mortos em Charleston e exigir o fim do massacre de negros nos Estados Unidos.

"As vidas dos negros importam! Que acabem as mortes!" - diziam alguns cartazes do protesto, realizado na Union Square de Manhattan.

"O fato de que isso tenha ocorrido em uma igreja negra gera, evidentemente, questionamentos sobre uma página sombria da nossa história", afirmou o presidente Obama na quinta-feira.

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