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Acordo de paz histórico na África acaba com 17 anos de guerra

A economia do Sudão está em ruínas desde que o governo dos Estados Unidos incluiu o país na lista de nações que patrocinam o terrorismo

Militares sudaneses observam armas coletadas de cidadãos antes da destruição na base Hajar al-Asal, no estado do Rio Nilo, a 200 km da capital Cartum, em 29 de setembro de 2020 (AFP/AFP)

Militares sudaneses observam armas coletadas de cidadãos antes da destruição na base Hajar al-Asal, no estado do Rio Nilo, a 200 km da capital Cartum, em 29 de setembro de 2020 (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 3 de outubro de 2020 às 14h03.

Última atualização em 3 de outubro de 2020 às 14h14.

O governo sudanês e líderes rebeldes assinaram neste sábado um acordo de paz histórico, com o objetivo de acabar com 17 anos de guerra.

Representantes do governo de transição sudanês e movimentos rebeldes, assim como diplomatas do Chade, Catar, Egito, da União Africana e da ONU, participaram na cerimônia na capital do vizinho Sudão do Sul.

"Assinamos hoje um acordo de paz e estamos felizes, cumprimos a nossa missão", declarou Tutkew Gatluak, do Sudão do Sul, que foi um dos mediadores.

O governo de Cartum, formado por uma coalizão de civis e militares que assumiu o comando do país desde que um movimento popular derrubou em 2019 o presidente Omar al Bashir, considerava a paz com os rebeldes uma prioridade.

O acordo estipula que os movimentos armados devem ser desmantelados e que seus combatentes terão que aderir ao exército oficial, que se reorganizará para ser representativo de todos os componentes do povo sudanês.

O comandante paramilitar sudanês, Mohamed Hamdan Daglo, conhecido por seu apelido "Hemeti", assinou o acordo pelo lado de Cartum.

Por parte dos rebeldes o documento foi assinado por um representante da Frente Revolucionária Sudanesa (SFR) e outros líderes de grupos armados.

A SFR reúne grupos rebeldes da região de Darfur (oeste), devastada por anos de guerra e massacres étnicos, assim como dos estados de Nilo Azul e Kordofan Sul.

O acordo também inclui outros temas delicados, como a propriedade da terra, compensações e o retorno para casa de refugiados e deslocados.

Outros grupos rebeldes importantes, no entanto, não assinaram o documento, o que provoca dúvidas sobre a aplicação real do acordo.

O Sudão é um país marcado por rivalidades étnicas e religiosas. Durante três décadas, sob o punho de ferro de Bashir, o governo foi controlado pelos árabes e os conflitos com outras minorias logo tomaram a frente sobre outros problemas.

Nas vastas áreas rurais do país, um dos mais pobres da África, os agricultores muitas vezes têm que lutar pelos escassos recursos naturais com pastores, tradicionalmente árabes, que muitas vezes foram apoiados por Cartum.

Os incidentes são frequentes desde a independência do Sudão em 1956. Em 1983 teve início um conflito interno que terminou com a secessão do Sudão do Sul em 2005.

Internacionalmente, o conflito mais conhecido foi o de Darfur, que deixou pelo menos 300.000 mortos e 2,5 milhões de deslocados, de acordo com a ONU.

"Esta assinatura significa que deixamos a guerra para trás. Este acordo significa democracia, justiça, liberdade no Sudão, estamos muito felizes. Com o acordo de paz a economia no Sudão voltará a crescer", declarou à AFP Ismail Khalab, alto dirigente da SFR.

O governo do Sudão do Sul atuou como mediador nas negociações, mas seus próprios líderes lutaram durante décadas contra Cartum até conseguir a independência em 2011, e sua paz interna também é frágil.

A economia do Sudão está em ruínas desde que o governo dos Estados Unidos incluiu o país na lista de nações que patrocinam o terrorismo. A secessão do Sudão do Sul deixou o país sem 75% de suas reservas de petróleo.

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