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Venezuelanos terão uma dura escolha na eleição: abstenção ou voto

O pleito na Venezuela é considerado ilegítimo e sem credibilidade por países como Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Espanha e Peru

MADURO: EUA anunciaram novas sanções contra o seu governo (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

MADURO: EUA anunciaram novas sanções contra o seu governo (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 18 de maio de 2018 às 06h06.

Última atualização em 18 de maio de 2018 às 07h13.

Em meio a uma grave crise econômica e humanitária, a Venezuela realiza sua eleição presidencial neste domingo com a oposição dividida e acusações de farsa. O pleito é considerado “ilegítimo e sem credibilidade” por países como Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Espanha e Peru, que, no início desta semana, emitiram um comunicado conjunto pedindo ao governo de Nicolás Maduro, candidato à reeleição, o cancelamento da votação. Na semana passada, os EUA anunciaram novas sanções contra o governo de Maduro, e outra leva deve vir após a eleição.

O processo eleitoral é considerado fraude pela comunidade internacional e pela oposição venezuelana. Os principais líderes oposicionistas não poderão concorrer —alguns tiveram seus direitos políticos cassados, outros estão exilados ou presos. O calendário eleitoral foi alterado mais de uma vez em benefício do governo. Segundo o jornal britânico Financial Times, o apoio a Maduro é comprado pelo governo via cartões de alimentação distribuídos aos funcionários públicos.

Diante desse cenário, a maior parte da oposição venezuelana, representada pela coalizão Mesa de La Unidad (MUD), prega a abstenção no domingo. Uma minoria apoia o candidato Henri Falcón, um ex-militar dissidente do chavismo que rompeu com a MUD e decidiu concorrer. Além de Falcón, outros dois candidatos foram autorizados pelo governo a participar da disputa presidencial.

Parte da oposição acredita que um alto índice de abstenção facilitará fraudes no processo e dará a vitória a Maduro. Javier Corrales, professor de ciência política na Universidade Amherst, nos EUA, e co-autor do livro “Dragão nos Trópicos: O Legado de Hugo Chávez na Venezuela” afirma, em artigo publicado no New York Times, que a única saída para os venezuelanos é votar — mesmo em um processo considerado ilegal. Primeiro, porque a rejeição a Maduro está em torno dos 70% e, segundo, porque Falcón lidera a disputa.

Uma pesquisa do instituto Datanálisis, divulgada ontem pela oposição, deu 13 pontos percentuais de vantagem a Falcón — 33% ante 20% para Maduro. Mas o presidente divulga dados de outro instituto, o ICS, que lhe dá 55% das intenções de voto, ante 25% para Falcón. Porém, apenas 41% do eleitorado deve comparecer às urnas no domingo, a maioria, governista, segundo Luis Vicente León, presidente do Datanálisis, o que deve dar a vitória a Maduro.

O Fundo Monetário Internacional calcula que a inflação no país tenha chegado a 1.088% em 2017 e que, neste ano, vá a 12.870%. Várias empresas como Pepsi, Coca-Cola, Ford e, mais recentemente, a Kellogs, encerraram suas atividades no país. Fugindo da escassez de alimentos, remédios e outros produtos de necessidade básica, cerca de 5.000 venezuelanos deixam o país todos os dias, segundo a ONU, em direção ao Peru, Brasil e Colômbia — este último, já recebeu 1 milhão de venezuelanos.

No ano passado, uma onda de protestos populares levou milhares de venezuelanos às ruas, sendo duramente reprimida pelas forças de Maduro. Cerca de 150 pessoas foram mortas e mais de 5.000 venezuelanos, encarcerados. Desde então, as manifestações contra o governo diminuíram. Uma possibilidade de demonstrar descontentamento está nas urnas.

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