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Abismo climático se amplia e emergentes querem transparência

Países industrializados prometem aumentar a ajuda para US$ 100 bilhões por ano até 2020 para países em desenvolvimento que buscam reduzir sua própria poluição

Ban Ki-moon, secretário geral da ONU, discursa durante as negociações da Organização das Nações Unidas sobre o clima, em Varsóvia (Kacper Pempel/Reuters)

Ban Ki-moon, secretário geral da ONU, discursa durante as negociações da Organização das Nações Unidas sobre o clima, em Varsóvia (Kacper Pempel/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 20 de novembro de 2013 às 21h00.

Varsóvia - Um debate sobre a ajuda climática está ampliando o abismo entre países ricos e pobres nas negociações da Organização das Nações Unidas sobre o clima, em Varsóvia, criando outro obstáculo na luta contra o aquecimento global.

Os países industrializados prometem aumentar a ajuda para US$ 100 bilhões por ano até 2020 para países em desenvolvimento que buscam reduzir sua própria poluição e lidar com tempestades mais intensas e níveis mais altos do mar, que ocorrem com as temperaturas mais altas. Os países mais pobres estão buscando um cronograma de financiamento previsível para ajudá-los a planejar, o que não está sendo fornecido pelas nações mais ricas.

A diferença entre o que os países mais pobres querem e os detalhes fornecidos pelas nações doadoras, lideradas por Estados Unidos, Japão e União Europeia, tornou-se uma das principais fontes de atrito nas negociações da ONU, que envolvem 190 países. Um programa de três anos de financiamento de início rápido dos países ricos terminou em 2012 com US$ 10 bilhões por ano em pagamentos. Não há um plano claro sobre quanto dinheiro fluirá, nem quando.

“Não existe outra área em que a diferença de expectativa seja tão grande” entre países ricos e pobres, disse o líder norueguês de negociação sobre o clima Aslak Brun, em entrevista. “É improvável que haja um anúncio de grande aumento de financiamento em prol do clima aqui em Varsóvia”.

A lacuna no financiamento é o terceiro assunto a dividir países em desenvolvimento e industrializados em Varsóvia. Desde que as conversas começaram, na semana passada, os dois blocos entraram em choque em relação à responsabilidade histórica pela causa do aquecimento global e a uma exigência do mundo em desenvolvimento por compensações pelas perdas e danos que estes países estão enfrentando como resultado disso -- um tópico colocado sob o holofote pela devastação causada nas Filipinas pelo furacão Haiyan.


‘Preocupação séria’

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou ao local das reuniões ontem dizendo que o financiamento é “fundamental” para o sucesso das negociações. “Há sérias preocupações a respeito de como mobilizar US$ 100 bilhões”, disse Ban.

As dificuldades para os países mais pobres surgem por três vias. O financiamento de início rápido terminou no ano passado e embora os doadores ainda estejam pagando, não há uma promessa firme até 2020. O Fundo de Adaptação das Nações Unidas está ficando sem dinheiro porque é alimentado pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, com o qual a ONU compensa a poluição, e que vem sofrendo com a redução da demanda. Enquanto isso, o Fundo Verde do Clima, criado pela ONU para canalizar parte dos eventuais US$ 100 bilhões, não estará pronto para levantar capital antes do ano que vem.

“Como você pode pedir que um país em desenvolvimento mostre uma grande ambição em relação a suas ações se ele não tem apoio?”, disse Tosi Mpanu-Mpanu, um diplomata congolês que negocia pelo grupo de 54 membros da África. “Se você não girar a chave do financiamento, a chave da mitigação também não será ligada”.

Fluxo de ajuda

O financiamento provavelmente continuará sendo uma questão espinhosa até 2015, o fim do prazo que os enviados estabeleceram para que eles mesmos cheguem a novo acordo sobre o clima em Paris. Christiana Figueres, que está gerenciando as negociações como secretária executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, disse que os países em desenvolvimento precisam saber “no mínimo” se a promessa de ajuda para 2020 ainda está sobre a mesa.

“Nós precisamos de investimentos significativos para ajudar os países em desenvolvimento a lidarem com os impactos das mudanças climáticas e a reduzirem as emissões”, disse Jake Schmidt, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, com sede em Nova York. “Esse será o obstáculo principal para um acordo em Paris se o assunto não for resolvido no caminho”.

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