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A vida na província que a China sacrificou para salvar o mundo

Cenas de caos e desespero emergem diariamente da província de Hubei, a região onde o novo coronavírus foi identificado pela primeira vez

Vista das ruas da cidade de Wuhan, marco zero da epidemia de coronavírus na China (China Daily/Reuters)

Vista das ruas da cidade de Wuhan, marco zero da epidemia de coronavírus na China (China Daily/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 8 de fevereiro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 8 de fevereiro de 2020 às 07h00.

A avó do músico Zhang Yaru morreu na segunda-feira depois de entrar em coma. Por várias vezes, ela não conseguiu ser atendida nos hospitais.

O universitário John Chen está desesperado em busca de ajuda para a mãe. Ela está com febre alta, mas não o suficiente para ficar na fila por horas e fazer o teste do vírus que assola sua cidade.

Na linha de frente, um médico infectologista, de 30 anos, dormiu apenas algumas horas em duas semanas.

Cenas de caos e desespero emergem diariamente da província chinesa de Hubei, a região sem litoral de 60 milhões de pessoas onde o novo coronavírus, batizado de 2019-nCoV, foi identificado pela primeira vez em dezembro.

Embora os casos tenham se espalhado pelo mundo, o impacto do vírus tem sido mais acentuado em Hubei, que registra 97% de todas as mortes causadas pela doença e 67% de todos os pacientes.

O número de infectados, que cresce a cada dia, reflete um sistema de saúde sobrecarregado pelo patógeno alienígena, que se move rapidamente, tornando impossível o atendimento mais básico. É também uma ilustração contínua do custo humano provocado pela maior quarentena do mundo, depois de a China ter efetivamente bloqueado a região a partir de 23 de janeiro para conter a propagação do vírus no resto do país e no mundo.

Mas Hubei - conhecida por suas fábricas de automóveis e pela movimentada capital Wuhan - está pagando o preço, com uma taxa de mortalidade para pacientes com o coronavírus de 3,1%, contra 0,16% no resto da China.

“Se a província não tivesse sido bloqueada, algumas pessoas teriam percorrido todo o país para tentar obter ajuda médica e transformado o país inteiro em uma área atingida pela epidemia”, disse Yang Gonghuan, ex-diretor geral adjunto do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China. “A quarentena trouxe muitas dificuldades a Hubei e Wuhan, mas foi a coisa certa a fazer.”

“É como lutar em uma guerra, algumas coisas são difíceis, mas precisam ser feitas.”

Wuhan, com 11 milhões de habitantes, é uma cidade chinesa de “segunda linha”, o que significa que está relativamente desenvolvida, mas ainda um grau abaixo das principais metrópoles da China como Xangai, Pequim e Guangzhou. Possui hospitais conceituados, mas os recursos ficam aquém dos disponíveis nas cidades mais importantes.

Nos primeiros dias da propagação do vírus, má administração e atraso das autoridades locais também permitiram que o patógeno circulasse mais amplamente entre um público desavisado.

Embora médicos tenham notado o vírus pela primeira vez - que pode ter sido transmitido de um animal para um humano em um mercado de alimentos em Wuhan - no início de dezembro e os sinais que estava sendo transmitido entre pessoas no início de janeiro, autoridades ainda permitiam a realização de grandes eventos públicos.

A escala da crise só se tornou totalmente evidente para o público geral nos dias que antecederam o início do feriado anual do Ano Novo Lunar da China em 24 de janeiro, quando surgiram casos em outros lugares.

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