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A vida dos reféns do Estado Islâmico durante o cativeiro

Ex-reféns, libertados após o pagamento de resgates, contaram ao NYT sobre o período em cativeiro. James Foley, morto há poucos meses, recebia o pior tratamento

James Foley, jornalista americano, na Síria: sequestrado nos idos de 2012, Foley foi morto há poucos meses pelo Estado Islâmico (Nicole Tung/ Free James Foley)

Gabriela Ruic

Publicado em 31 de outubro de 2014 às 10h52.

São Paulo – Enquanto em cativeiro, James Foley, o jornalista americano que foi decapitado pelo Estado Islâmico ( EI ) em um vídeo que chocou o mundo, foi um dia retirado de sua cela e levado para uma sala isolada dos outros reféns.

Lá, ele teve que responder perguntas triviais sobre sua vida como, por exemplo, quem foi o capitão do time de futebol de sua escola. Horas depois, foi conduzido de volta ao local onde estava preso e se emocionou ao contar para os colegas o que havia acontecido.

Acreditava que o governo dos Estados Unidos estava negociando a sua liberdade. E tinha a certeza de que suas respostas seriam usadas para provar aos seus pais que ele estava vivo. Os detalhes sobre este episódio foram revelados por ex-colegas de cativeiro de Foley ao jornal The New York Times (NYT).

Os relatos ouvidos pela publicação trouxeram à tona informações sobre o dia a dia do grupo de reféns dos jihadistas, que chegou a contar com 23 pessoas de 12 diferentes países. Mostram ainda o clima de terror e incerteza ao qual foram submetidos durante todo o tempo em que estiveram sequestrados.

No início de 2013, todos eram tratados da mesma forma. A partir do final do ano passado, quando o EI se fortaleceu e conseguiu expandir o seu domínio, o cenário mudou. Muitos reféns eram de países europeus que tem um histórico de realizarem o pagamento de resgates, ainda que neguem oficialmente.

A atitude contrasta com a adotada pelos EUA e Reino Unido , que se sequer negociam com os jihadistas. Como consequência, a maioria dos colegas dos americanos Foley e Steven Sotloff e dos britânicos Allan Henning e David Haines foram libertados. Já os quatro foram brutalmente executados.

Sequestro

Os reféns foram sequestrados em diferentes épocas e regiões da Síria . De acordo com o site The International Business Times (IBT), o EI opta sempre por grupos de pessoas. A partir daí, faz uma espécie de triagem, libertando algumas e mantendo outras.

E uma das estratégias mais usadas pelos jihadistas para a ação é a partir da identificação do tradutor contratado como guia pelos estrangeiros. Uma prática comum entre jornalistas e organizações humanitárias. Com a ajuda de espiões espalhados por várias cidades, é possível saber com facilidade quem está auxiliando estas pessoas e por onde elas circulam.

Sotloff, por exemplo, foi sequestrado com outras três pessoas. O paradeiro de seu grupo foi revelado por um espião que cobrou entre 25 mil e 50 mil dólares dos jihadistas, conforme informou o site The Vocativ. Seus companheiros foram libertados dias depois.

Uma vez no cativeiro, os reféns têm seus dispositivos eletrônicos revistados. São vasculhadas as contas de e-mails e redes sociais. O objetivo desta etapa, contou o NYT, é o de descobrir se a pessoa tem vínculo com agências de espionagem.

Cativeiro

Os reféns viviam presos uns nos outros com algemas. Ao longo do tempo em que estiveram encarcerados, identificaram guardas de diferentes nacionalidades.

Um trio ficou especialmente marcado por conta da violência com a qual tratavam os presos. Apelidados de “Beatles”, estes homens falavam inglês com notável sotaque britânico. Todos os presos eram sempre espancados e torturados. Mas encontravam conforto uns nos outros.

Não tinham onde dormir e usavam pedaços de roupas velhas para se proteger do frio. A comida era escassa e, para se passar o tempo, inventavam jogos. Foley era o primeiro a propor as brincadeiras e a sua favorita era uma na qual se lembrava dos seus filmes favoritos e refazia as melhores cenas.

Na época do Natal, Foley organizou um amigo secreto. Os presentes eram feitos a partir de lixo e o jornalista ganhou um círculo de cera de uma antiga vela. Convertido ao islamismo, ele usava a sua lembrança para proteger a testa durante as orações.

Era Foley também o alvo do pior tratamento. Além de espancá-lo por muitas horas, os guardas encenavam a sua execução e o faziam passar por afogamentos simulados. Era assim, lembra o jornal, que os EUA conduziam interrogatórios na prisão de Guantánamo.

Quando ele voltava sangrando para a cela, seus colegas se aliviavam, pois sabiam que ele poderia ter enfrentado coisas ainda piores.

Situação atual dos reféns

Não há estimativas oficiais em relação ao número de reféns que ainda se encontram em poder dos jihadistas. Os únicos identificados até agora são John Cantlie, jornalista britânico que foi sequestrado junto com Foley, e Peter Kassig, um voluntário americano.

Segundo o site IBT, é possível que 12 pessoas se encontrem hoje em cativeiro. Em agosto, quatro jornalistas foram sequestrados no norte da Síria: dois italianos, um dinamarquês e um japonês. Há ainda três funcionários da Cruz Vermelha que desapareceram na mesma época.

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São Paulo – Enquanto em cativeiro, James Foley, o jornalista americano que foi decapitado pelo Estado Islâmico ( EI ) em um vídeo que chocou o mundo, foi um dia retirado de sua cela e levado para uma sala isolada dos outros reféns.

Lá, ele teve que responder perguntas triviais sobre sua vida como, por exemplo, quem foi o capitão do time de futebol de sua escola. Horas depois, foi conduzido de volta ao local onde estava preso e se emocionou ao contar para os colegas o que havia acontecido.

Acreditava que o governo dos Estados Unidos estava negociando a sua liberdade. E tinha a certeza de que suas respostas seriam usadas para provar aos seus pais que ele estava vivo. Os detalhes sobre este episódio foram revelados por ex-colegas de cativeiro de Foley ao jornal The New York Times (NYT).

Os relatos ouvidos pela publicação trouxeram à tona informações sobre o dia a dia do grupo de reféns dos jihadistas, que chegou a contar com 23 pessoas de 12 diferentes países. Mostram ainda o clima de terror e incerteza ao qual foram submetidos durante todo o tempo em que estiveram sequestrados.

No início de 2013, todos eram tratados da mesma forma. A partir do final do ano passado, quando o EI se fortaleceu e conseguiu expandir o seu domínio, o cenário mudou. Muitos reféns eram de países europeus que tem um histórico de realizarem o pagamento de resgates, ainda que neguem oficialmente.

A atitude contrasta com a adotada pelos EUA e Reino Unido , que se sequer negociam com os jihadistas. Como consequência, a maioria dos colegas dos americanos Foley e Steven Sotloff e dos britânicos Allan Henning e David Haines foram libertados. Já os quatro foram brutalmente executados.

Sequestro

Os reféns foram sequestrados em diferentes épocas e regiões da Síria . De acordo com o site The International Business Times (IBT), o EI opta sempre por grupos de pessoas. A partir daí, faz uma espécie de triagem, libertando algumas e mantendo outras.

E uma das estratégias mais usadas pelos jihadistas para a ação é a partir da identificação do tradutor contratado como guia pelos estrangeiros. Uma prática comum entre jornalistas e organizações humanitárias. Com a ajuda de espiões espalhados por várias cidades, é possível saber com facilidade quem está auxiliando estas pessoas e por onde elas circulam.

Sotloff, por exemplo, foi sequestrado com outras três pessoas. O paradeiro de seu grupo foi revelado por um espião que cobrou entre 25 mil e 50 mil dólares dos jihadistas, conforme informou o site The Vocativ. Seus companheiros foram libertados dias depois.

Uma vez no cativeiro, os reféns têm seus dispositivos eletrônicos revistados. São vasculhadas as contas de e-mails e redes sociais. O objetivo desta etapa, contou o NYT, é o de descobrir se a pessoa tem vínculo com agências de espionagem.

Cativeiro

Os reféns viviam presos uns nos outros com algemas. Ao longo do tempo em que estiveram encarcerados, identificaram guardas de diferentes nacionalidades.

Um trio ficou especialmente marcado por conta da violência com a qual tratavam os presos. Apelidados de “Beatles”, estes homens falavam inglês com notável sotaque britânico. Todos os presos eram sempre espancados e torturados. Mas encontravam conforto uns nos outros.

Não tinham onde dormir e usavam pedaços de roupas velhas para se proteger do frio. A comida era escassa e, para se passar o tempo, inventavam jogos. Foley era o primeiro a propor as brincadeiras e a sua favorita era uma na qual se lembrava dos seus filmes favoritos e refazia as melhores cenas.

Na época do Natal, Foley organizou um amigo secreto. Os presentes eram feitos a partir de lixo e o jornalista ganhou um círculo de cera de uma antiga vela. Convertido ao islamismo, ele usava a sua lembrança para proteger a testa durante as orações.

Era Foley também o alvo do pior tratamento. Além de espancá-lo por muitas horas, os guardas encenavam a sua execução e o faziam passar por afogamentos simulados. Era assim, lembra o jornal, que os EUA conduziam interrogatórios na prisão de Guantánamo.

Quando ele voltava sangrando para a cela, seus colegas se aliviavam, pois sabiam que ele poderia ter enfrentado coisas ainda piores.

Situação atual dos reféns

Não há estimativas oficiais em relação ao número de reféns que ainda se encontram em poder dos jihadistas. Os únicos identificados até agora são John Cantlie, jornalista britânico que foi sequestrado junto com Foley, e Peter Kassig, um voluntário americano.

Segundo o site IBT, é possível que 12 pessoas se encontrem hoje em cativeiro. Em agosto, quatro jornalistas foram sequestrados no norte da Síria: dois italianos, um dinamarquês e um japonês. Há ainda três funcionários da Cruz Vermelha que desapareceram na mesma época.

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