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A tragédia dos soldados ucranianos em Ilovaisk

Ninguém consegue explicar o que aconteceu em Ilovaisk, onde as forças leais ao governo perderam pelo menos 87 homens

Veículo blindado destruído é visto ao lado da estrada que leva a Ilovaisk, na Ucrânia (Francisco Leong/AFP)

Veículo blindado destruído é visto ao lado da estrada que leva a Ilovaisk, na Ucrânia (Francisco Leong/AFP)

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Da Redação

Publicado em 4 de setembro de 2014 às 09h28.

Ilovaisk - Ninguém consegue explicar o que aconteceu em Ilovaisk, onde as forças leais ao governo perderam pelo menos 87 homens.

Na estrada que liga às cidades do oeste do país, blindados destruídos mostram a humilhação dos soldados ucranianos nesta cidade duramente disputada há várias semanas.

Quando Kiev anunciou a retomada da região no dia 19 de agosto, a satisfação foi grande, já que, com a queda de Ilovaisk, os separatistas perderam uma importante base no caminho para Donetsk, a noroeste.

A vitória ainda teve um forte componente simbólico por ter sido atribuída a voluntários que incorporaram o espírito patriótico do Maidan (movimento de contestação que derrubou o governo pró-russo).

Mas a conquista foi efêmera. A contraofensiva dos separatistas permitiu aos rebeldes retomar áreas em torno da cidade no final de agosto. Cercadas, as forças leais ao governo foram submetidas a duros ataques durante mais de uma semana.

Sua resistência comoveu a Ucrânia, mas os apelos em Kiev não mudaram a situação: elas não receberam os reforços que tinham solicitado.

O calvário desses combatentes está marcado nos muros de uma escola que eles tinham feito de base no oeste de Ilovaisk, crivados de balas e parcialmente destruídos por morteiros.

Os veículos e os ônibus escolares no pátio estão queimados.

No ginásio da escola, os combatentes cercados tinham montado um hospital de campanha.

Marcas de sangue, seringas espalhadas e frascos de anestésicos mostram que os feridos receberam tratamento em condições terríveis.

Nas salas de aula, em meio às caixas de munições, recipientes de conservas e garrafas de vodca, todos vazios, o que mais chama a atenção são as frases escritas nos quadros negros: "Liberdade ou morte", "Glória à Ucrânia" ou um X como sinal de alvo embaixo da palavra "Sniper".

Cerca de quarenta moradores da cidade estão refugiados no subsolo da escola.

Segundo a diretora Elena Toltsikova, as forças do governo se comportaram bem no início, mas depois maltrataram as pessoas para "forçá-las a dizer se conheciam alguém nas milícias" separatistas.

Grande parte da população não apoio os pró-Kiev.

"Eles avançavam atirando com armas automáticas em tudo que se movia depois de terem bombardeado a cidade desde julho", afirma a diretora em meio às ruínas de sua escola.

Disparos precisos

Separatistas afirmaram à AFP que quem se render será feito prisioneiro. Para eles, os voluntários cercados - chamados pelos insurgentes de mercenários - são menos dignos de perdão do que as tropas regulares.

As carcaças calcinadas de cerca de vinte blindados de transporte de tropas vistos na quarta-feira pela AFP na estrada que liga Ilovaisk a Osykove, a oeste, mostra que os rebeldes não pensam em abrir um corredor humanitário para a retirada dos combatentes leais a Kiev.

Os impactos nos veículos mostram que os disparos foram diretos, precisos. Há poucas marcas de ataques nas imediações ou em outras partes da estrada.

Para um especialista militar que foi à estrada, morteiros ou lança-foguetes múltiplos Grad - imprecisos - não causaram essa destruição.

As autoridades ucranianas indicaram a morte de 87 combatentes em Ilovaisk, mas esse número pode passar de 100.

Não se sabe se eles foram mortos durante o cerco ou quando se retiravam, ou por que não receberam reforços.

Ucranianos exigem que as circunstâncias dessas mortes sejam esclarecidas e culpam a Rússia.

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