Bana al Abed: menina se tornou um símbolo da tragédia síria (Umit Bektas/Reuters)
AFP
Publicado em 23 de dezembro de 2016 às 14h15.
A menina síria de 7 anos que tuitava sobre sua vida em meio aos bombardeios no leste de Aleppo disse nesta quinta-feira que quer falar para o mundo inteiro em nome das crianças da cidade síria devastada pela guerra.
Após abandonar Aleppo na segunda-feira, Bana al Abed e sua família foram acolhidas em Ancara, onde a menina conversou na véspera com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
"Queremos que o mundo ouça a voz das crianças de Aleppo", explicou Bana à AFP. "Falamos dos bombardeios e tuitamos para que as pessoas vejam a guerra".
"Tenho medo da guerra, porque ele (o presidente sírio, Bashar al-Assad) quer nos matar. Tenho muito medo. Tenho medo por meus irmãos, tenho medo por meus pais".
Com mais de 364 mil seguidores no Twitter, Bana se tornou um símbolo da tragédia síria. Ela e sua mãe enviavam mensagens contando a rotina de destruição na cidade e sua luta para sobreviver.
Para o governo sírio, eram uma manobra de propaganda e alguns chegaram a afirmar que a conta no Twitter, @AlabedBana, era falsa.
"Penso que os que dizem isto são invejosos. Sabem que somos reais, simplesmente querem nos fazer sentir mal", explicou à AFP.
"Nossa vida em Aleppo era um inferno", contou Fátima. "Não podíamos fazer nada, nossas crianças não podiam ir à escola, não podíamos nem dormir, caíam bombas por todas as partes".
"Não podem imaginar o que era a vida lá. Estávamos cercados, não tínhamos o que comer e nem havia água potável. Não podíamos ir ao hospital porque nos bombardeavam".
"Era difícil, eu tinha medo. Sempre havia bombardeios, inclusive à noite", acrescentou Bana.
Fátima contou à AFP que a ideia da conta no Twitter veio de Bana quando lhe perguntou: "Mamãe, porque ninguém sabe o que acontece aqui, porque ninguém nos ajuda"?
"Decidimos criar a conta no Twitter para garantir que o mundo todo ouvisse a voz das crianças e nos ajudasse, para que prestassem atenção nos sofrimentos de Aleppo".
"Gostaria de agradecer a todos que ajudaram as crianças de Aleppo", declarou Bana à AFP.
Ao menos 15 mil crianças faleceram no conflito sírio, que já deixou 310 mil mortos desde 2011.