6 grandes guerreiras (quase) desconhecidas
Nada de Joana D'Arc ou Elizabeth 1ª. As guerreiras da história foram piratas, quilombolas, faraós
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 18 de junho de 2017 às 06h00.
A celta irredutível
Boadiceia – séc. 1
Reuniu 100 mil celtas e derrotou Nero
Boadiceia era casada com Prasutagos, rei celta do século 1 d.C., e ficou viúva ainda jovem. Um pouco antes de morrer, Prasutagos estabeleceu que seus domínios na Grã-Bretanha fossem repartidos entre a esposa, suas filhas e o imperador romano Nero, então um aliado.
Roma não concordou com essa fragmentação: queria todos os territórios. Tão logo o rei celta morreu, Nero invadiu as terras e ordenou que Boadiceia e suas duas filhas fossem torturadas, estupradas e exiladas. Boadiceia se calou por dois anos.
O silêncio só foi rompido pela vingança. Por volta de 60 d.C., a rainha havia entrado em contato com líderes tribais e organizado um exército com quase 100 mil soldados.
À frente desses guerreiros, da noite para o dia, ela derrubou a sede do governo romano e, em alguns meses, os rebeldes – sob ordens de não fazerem prisioneiros – já tinham matado mais de 70 mil romanos.
Acuado, Nero se viu obrigado a abandonar o território. O destino de Boadiceia depois dessa sangrenta batalha é incerto.
Historiadores sugerem que suas filhas tenham sido mortas pelos romanos, e que a rainha, deprimida, tenha se matado logo após a vitória.
A faraó do êxodo
Ah-hotep 1ª – séc. 16 a.C.
Retomou o Delta do Nilo – num episódio que pode ter inspirado a Bíblia
Quando Ah-hotep nasceu, no início dos anos 1500 a.C., o Egito não era mais aquele. As terras mais férteis do reino, no Delta do Nilo, estavam ocupadas pelos Hyksos – povos de Canaã, a futura Terra Prometida.
Seu marido, o faraó Taá 2o, morreu em combate contra os Hyksos. Ah-hotep, então, assumiu o trono – e o comando das batalhas contra os invasores.
Com isso, treinou seus dois filhos, Kamose e Ahmose, que se tornariam faraós e acabariam expulsando de vez os cananeus.
O episódio, segundo teorias pouco ortodoxas, teria inspirado a narrativa do Êxodo bíblico, na qual os israelitas, um povo vindo de Canaã, abandona o Egito rumo à terra natal depois de sofrer hostilidades, igual os Hyksos. Seja como for, o fato é que Ah-hotep viveu dias de glória como guerreira.
Seu túmulo, recheado de armas, e inscrições encontradas no templo de Amon-Rá atestam que ela morreu como heroína militar.
A rainha pirata
Grace O’Malley – séc. 16
Liderou uma frota pirata e negociou com Elizabeth 1ª
Aos 13 anos, em 1543, Grace tinha apenas um sonho: trabalhar com navios. Filha de um rico comerciante marítimo e governante do reino de Umail, a menina ruiva cortou seus longos cabelos e, por um ou dois anos, se misturou à tripulação de uma das embarcações do clã O’Malley, atendendo pelo apelido de “Careca”.
A vida no mar provocou uma revolução em Grace. Quando seu pai morreu, deixou um testamento indicando o desejo de que a filha administrasse o reino e a frota comercial da família: um pedido que ela atendeu… em partes. Grace dispensou a maioria dos marinheiros e decidiu dedicar todos os navios sob seu comando à pirataria.
Em poucos meses, a força dessa frota já era temida por toda a costa irlandesa. Barcos que se atreviam a cruzar seus limites eram saqueados e tomados – e os capitães dos que não se atreviam eram sujeitos a “taxas” astronômicas para passagens seguras.
Quando O’Malley saiu vitoriosa de um combate contra a frota inglesa, a rainha Elizabeth 1a reconheceu sua força e decidiu entrar em contato. Grace e Elizabeth trocaram cartas misteriosas, e se encontraram alguns meses depois.
Não se sabe ao certo qual foi o tom dessa conversa, mas fato é que Grace negociou a soltura de seu irmão mais novo – previamente capturado pelos ingleses -, readquiriu algumas de suas cargas confiscadas e manteve o direito de “exercer” em paz a pirataria em mares irlandeses, contanto que deixasse os navios ingleses em paz.
A defensora de Palmares
Dandara – séc. 17
Segurou o quilombo e treinou ex-escravos
Dandara é mais conhecida como “a esposa de Zumbi dos Palmares”, mas sua vida – cercada de incertezas históricas – é muito maior do que isso.
Pesquisadores acreditam que ela tenha nascido em um navio negreiro e se estabelecido no Quilombo dos Palmares ainda criança.
Lá, foi treinada na luta com armas e capoeira. Ainda adolescente, Dandara foi escolhida para liderar a ala feminina de defesa do quilombo.
Seu prestígio acabou superando até mesmo o de muitos homens. Assim, acabou se tornando responsável pelo treinamento de crianças e mulheres , que deveriam conter as inúmeras tentativas de invasão a Palmares.
Foi a ferocidade de Dandara que conquistou Zumbi. Para ela, a rendição e a negociação “pacífica” não eram opção – a guerreira jamais se curvou às negociações do governo português, e preferia viver em guerra do que fora de Palmares, sob risco de ser escravizada.
Em fevereiro de 1694, acuados pelos portugueses, Dandara e dezenas de outros quilombolas foram mortos – dois anos antes de Zumbi.
A versão mais corrente diz que ela foi executada na prisão, antes mesmo do julgamento. Mas muitos defendem que Dandara tenha pulado de um penhasco, preferindo o suicídio à prisão.
A apache piedosa
Lozen – séc. 19
Liderou os apaches contra os brancos
Lozen e seu irmão, o chefe Victorio*, foram guerreiros apaches. Quando a tribo de ambos foi forçada a viver em uma reserva, longe de sua terra natal, em 1870, Lozen propôs a organização de uma resistência indígena, que em pouco tempo foi devastada pelo exército americano.
Ainda assim, entre 1876 e 1877, os dois irmãos lideraram uma ofensiva contra os administradores da reserva, invadindo terras e incendiando propriedades no Arizona e no Novo México.
Victorio era um guerreiro impiedoso, mas Lozen conseguiu convencer o irmão a poupar a vida de crianças, mulheres e idosos durante as ofensivas.
Lozen também teria se oferecido para conduzir essas pessoas a áreas seguras, onde elas recebiam água, comida e curativos de outros apaches.
O comportamento misericordioso foi um dos principais motivos para que os americanos reconhecessem os direitos dos nativos da região.
*Muitos índios célebres eram conhecidos por seus nomes espanhóis, como Jerônimo(oooo), porque o oeste dos EUA foi território mexicano até a década de 1840.
Estrategista persa
Artemísia 1ª – séc. 5 a.C.
Desafiou Xerxes e derrotou os gregos
Nomeada em homenagem à deusa grega da caça, Ártemis, ela governou Halicarnasso, na atual Turquia, no século 5 a.C.
Militarmente treinada desde a infância, Artemísia foi uma brilhante comandante naval, e uma das mais fortes aliadas de Xerxes, o rei da Pérsia, durante suas invasões às cidades-estados gregas. Seus maiores feitos foram registrados na Batalha de Salamina.
Durante o conflito, ela desaconselhou Xerxes a enfrentar as embarcações gregas de frente, porque estas seriam muito superiores às persas. Xerxes a ignorou.
A comandante, então, tomou uma decisão extrema: colidiu alguns de seus próprios barcos contra os de Xerxes, para que os gregos pensassem que ela era uma aliada.
O plano mirabolante funcionou: batedores gregos ordenaram que seus navios recuassem, e a frota do rei persa conseguiu se aproximar.
Até onde vão os registros, Xerxes – por fim derrotado – levou anos para descobrir que Artemísia, sua aliada, foi responsável pelo naufrágio de seus navios.
A ousadia da comandante teve um preço alto sobre sua reputação. Não há muitos registros sobre seus últimos anos, e é provável que ela tenha morrido em combate.
Contudo, registros anônimos do século 8 defendem que Artemísia se jogou de um penhasco depois de uma desilusão amorosa. Difícil de acreditar.
Este conteúdo foi originalmente publicado no site da Superinteressante.