12 curiosidades sobre Bin Laden que só os EUA sabiam
O governo dos EUA divulgou informações até então desconhecidas sobre a vida de Bin Laden e a forma como gerenciava a poderosa rede Al Qaeda. Veja aqui
Gabriela Ruic
Publicado em 26 de fevereiro de 2016 às 13h49.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h42.
São Paulo – Detalhes até então desconhecidos sobre a vida de Osama Bin Laden foram revelados nesta semana por agências da inteligência dos Estados Unidos . Em uma página chamada “Estante de Bin Laden”, autoridades disponibilizaram mais de cem documentos descobertos no esconderijo do terrorista no Paquistão, morto durante uma operação em 2011. As informações desclassificadas, que incluem correspondências pessoais e até livros da biblioteca de Bin Laden, exibem lados jamais vistos deste que foi um dos mais perigosos e procurados terroristas do mundo. Comprovam ainda a força da sua autoridade perante os membros da rede que fundou, a poderosa Al Qaeda . EXAME.com teve acesso aos documentos e, para compor esta galeria, selecionou alguns dados interessantes sobre Bin Laden e a forma como liderou a sua rede. Confira nas imagens.
Datada de agosto de 2008, uma carta escrita por Bin Laden para uma de suas esposas, ele contou ter conseguido escapar da prisão graças à força de sua família, mas revelou estar passando por uma situação difícil e que, portanto, o reencontro iria demorar um pouco mais. Nela, o terrorista decidiu listar alguns de seus desejos, considerando a possibilidade de que pudesse morrer antes de encontrar sua família novamente. “Se eu morrer e você quiser voltar para a sua família, tudo bem, mas você deve garantir que nossos filhos sejam criados adequadamente”, pontuou. “Você é a luz dos meus olhos e a coisa mais preciosa que tenho neste mundo. Se você desejar se casar de novo, eu não tenho objeções, mas realmente gostaria que você continuasse a ser a minha esposa no Paraíso.”
Um dos documentos encontrados foi uma carta escrita por Hamzah, filho de Bin Laden, nos idos de 2009. O jovem encontrava-se na época preso no Irã e dizia temer ter de passar o resto de sua vida adulta atrás das grades. Na época com 22 anos de idade, Hamzah lamentou o fato de ter sido separado de seu pai antes de ter completado 13 anos e jurou lealdade ao movimento jihadista. Contou também ter se casado e que era pai de duas crianças: um menino, o qual chamou de Osama, e uma menina a quem deu o nome de Khayriyah em homenagem a sua avó, mãe de Bin Laden.
Em uma carta enviada para sua filha Umm Muadh, Bin Laden deseja saber todas as “notícias engraçadas” deste núcleo da família e pede desculpas por tê-la deixado brava tantas vezes. Pergunta ainda sobre o neto, Said, e pede que sua filha o ensine o básico em leitura, escrita e matemática e que leia diariamente para ele as histórias do Profeta. "Você é a melhor companhia para viagens", derreteu-se.
Uma das correspondências recebidas por Bin Laden no Paquistão, e enviada por um membro da rede que foi identificado apenas como Mahmud, mostra como o chefão se mantinha bem informado acerca das operações menores realizadas pelo grupo. Datada de 5 de abril de 2011, semanas antes da morte de Bin Laden, a carta revela que, na ocasião, o caixa da rede no Paquistão estava muito bem, obrigada. “O fluxo de dinheiro de fora e também dentro do Paquistão é bom”, contou Mahmud. “Claro que temos muitas despesas, pois tivemos que dar dinheiro para diferentes grupos jihadistas tribais e precisamos sustentar estas pessoas”, informou, “mas não temos muitas dívidas”. “Também compramos muitas armas e munição para nos prepararmos para uma possível guerra”.
Ainda nesta carta, Mahmud explicou ainda as opções pensadas por ele para que Hamzah, filho de Bin Laden, pudesse ser levado de um local não informado até onde seu pai estava com a ajuda de contrabandistas e sem que fosse necessário o uso de rotas oficiais. “A questão é: devemos contar aos nossos irmãos quem eles estarão acompanhando para que tornem a jornada mais segura ou devemos apenas pedir que o levem até Peshwar (cidade paquistanesa) e que ele irá se virar de lá?”, pergunta Mahmud, “mesmo assim, acho que as pessoas podem descobrir quem ele é”, pontuou. Ele lembrou ainda que as opções paralelas eram consideradas apenas para Hamzah e que sua mulher e seus dois filhos seriam transportados pelas rotas convencionais. “No mais, ele e sua família estão bem”, informou Mahmud para Bin Laden.
Depois de prestar contas e organizar as opções de transporte de Hamzah, Mahmud lembrou ainda seu chefe de que deveria escrever uma declaração em “comemoração” do aniversário de dez anos da queda das torres gêmeas nos EUA, mas levando em conta as revoluções no mundo árabe que ficaram depois conhecidas como “Primavera Árabe”. “Deve conter instruções e lembretes aos jovens e todas as nações. Deve ser genérica, sem muitos detalhes e deve incentivar as pessoas para que continuem no caminho do jihad, com alertas sobre a malícia dos americanos. E também deve dizer que o estado judeu está acabando e etc.” Um esboço, disse Mahmud, seguia “anexo”.
Outro documento sem data recuperado pelos Estados Unidos mostra um leve puxão de orelha dado por Bin Laden aos membros da rede Al-Qaeda quanto ao desempenho das tarefas do grupo. “Você pode medir o sucesso de uma tarefa se ela tiver atingido seu objetivo”, escreveu. Ele então listou três objetivos das campanhas do grupo contra os seus inimigos: realizar operações antes do final daquele ano, estabelecer uma estrutura básica de trabalho e transferir algumas de suas ideias para um grupo de confiança. “Esta era a nossa visão. Mas será que atingimos nossos objetivos?”, questionou antes de avaliar o desempenho de seus subordinados nas tarefas propostas. Aqui, é revelado que a rede tinha um claro plano de atacar alvos na Europa ocidental e na Rússia, mas que tais não se consolidaram “pois o Senhor não estava ao nosso lado”. Ao que tudo indica, Bin Laden contava com homens treinados e instruídos para cometer atos terroristas na Dinamarca. “Mandamos um grupo de três europeus para executar ataques em alvos americanos”, contou ele, “mas acreditamos que foram capturados”.
Em carta endereçada para Um Hamzah, uma de suas esposas, e seus filhos, Bin Laden pediu que ela deixasse no Irã, onde supostamente ela estaria vivendo na época, todos os seus pertences, desde roupas até livros. Ao que tudo indica, ela estaria viajando para encontrá-lo. “Alguns chips desenvolvidos recentemente são tão pequenos que podem ser escondidos até em uma seringa”, alertou Bin Laden. “Não confiamos nos iranianos e é possível que eles tenham implantado um chip em alguma das coisas que você tenha trazido na viagem.”
Outro interessante documento recuperado pelo governo dos EUA é uma espécie de formulário que deveria ser preenchido por pessoas que desejavam fazer parte da rede. Exigia-se, por exemplo, que todas as informações prestadas fossem verdadeiras e que a letra usada no preenchimento fosse legível. “Se você não fala árabe, então preencha no idioma que preferir.” A ficha conta com perguntas práticas, que incluem informações pessoais, bem como outras de caráter pessoal, como pedidos para listagem de hobbies, para que fosse possível conhecer os candidatos de maneira detalhada. No final, a pergunta crucial: “se você se tornar um mártir, quem devemos contatar?”
Dezenas de livros também foram encontrados no esconderijo de Bin Laden em Abbottabad, Paquistão. Há, por exemplo, obras do escritor americano Noam Chomsky e do jornalista americano Bob Woodward, entre outros materiais de temática militar.
Além de livros de diferentes temas, Bin Laden contava com uma coleção considerável de revistas em seu esconderijo. Dentre suas favoritas constavam a consagrada Foreign Policy, especificamente os exemplares de 2008, e as revistas Time e Newsweek.
Em um documento sem data, Osama Bin Laden elaborou uma carta endereçada ao povo americano e na qual afirmava que a guerra entre os EUA e a rede Al-Qaeda já era a mais longa enfrentada pelo país e também a mais cara. “E nós consideramos estar ainda apenas na metade do caminho”, provocou. “Como pretendem vencer uma guerra cujos custos são tão altos quanto o furacão devastador que atinge a sua economia e desvaloriza a sua moeda?”, questionou Bin Laden. “Estamos defendendo nossos direitos”, continuou, “o jihad contra nossos agressores é uma forma de louvor em nossa religião e nos matar significa uma honra perante nosso Senhor”.
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