10 pessoas que fizeram a diferença em 2015
Em um ano de turbulência e violência, houve quem conseguisse encontrar espaços para deixar contribuições positivas ao planeta. Conheça algumas dessas pessoas
Gabriela Ruic
Publicado em 10 de dezembro de 2015 às 08h13.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h24.
São Paulo – O ano de 2015 foi marcado pela violência e tragédias. Ainda assim, houve líderes e personalidades globais que conseguiram deixar importantes marcas para o mundo. Impactos esses que trazem alento e esperança de que dias melhores estão por vir. Inspirada pela dedicação e pela influência positiva dessas pessoas que trabalham em prol do próximo, EXAME.com selecionou neste fim de ano dez exemplos de pessoas que fizeram a diferença em um ano tão difícil e que deixaram marcas importantes em suas regiões. Confira nas imagens.
Ele é o presidente da maior potência do mundo e é claro que os impactos de suas decisões reverberam por todos os lados. Ainda assim, em 2015, Barack Obama conseguiu deixar marcas importantes para a política externa dos EUA e para a história, como a reaproximação com Cuba e o acordo nuclear com o Irã. No fim do ano passado, EUA e Cuba anunciaram o restabelecimento das relações diplomáticas depois de mais de cinco décadas de rompimento. Desde então, os países dão passos em direção à normalização. Em agosto, a bandeira americana foi hasteada na ilha, marcando a reabertura da embaixada americana, enquanto em setembro, os EUA receberam o primeiro embaixador cubano em 50 anos. A administração de Obama vem ainda trabalhando para suspender embargos comerciais e os presidentes já realizaram encontros bilaterais para aprofundar a cooperação. Quanto ao Irã, em julho, um grupo de cinco países liderados pelos EUA (China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha) alcançaram junto aos iranianos um acordo importante que visa a implementação de medidas para tornar o seu programa nuclear seguro e pacífico. Em troca, as potências se comprometeram em suspender sanções econômicas impostas ao Irã desde 2006. A expectativa, mostrou o jornal americano The Wall Street Journal, é que as sanções comecem a ser levantadas no início do ano que vem, mas a consolidação do acordo ainda é alvo de dúvidas, uma vez que há notícias de que o Irã segue testando mísseis balísticos. O ato violaria uma resolução da ONU de 2010 que segue válida até que o novo acerto seja implementado. O clima entre os EUA e o Irã, portanto, continuará tenso.
A chanceler alemã colecionou conquistas em 2015. Eleita “ Pessoa do Ano ” pela revista Time, ela exerceu impecável liderança em questões globais importantes como a crise de refugiados e a luta contra o terrorismo, sem deixar de lado a sua atuação em âmbito regional, como na crise econômica grega e a intervenção russa na Ucrânia. Embora tenha ressaltado que os atentados em Paris foram “ataques contra os valores fundamentais”, Angela Merkel segue a favor da abertura das fronteiras aos refugiados e defende estratégias que prevejam o estabelecimento de mecanismo de distribuição equilibrada de solicitantes entre os membros da União Europeia e também o apoio aos países que são os pontos de entrada, como a Grécia. Merkel está no poder desde 2005 e ajudou a Alemanha a navegar em meio à crise econômica de 2008 e as recentes turbulências na zona do euro. De acordo com a revista alemã Der Spiegel, ela teria decidido concorrer a um quarto mandato nas eleições de 2017. Até lá, sua agenda de compromissos promete seguir atribulada.
Cinco anos depois de ter sido libertada de sua prisão domiciliar, a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1991 Aung San Suu Kyi foi a protagonista de uma vitória histórica para o movimento democrático no Mianmar depois que seu partido, o Liga Nacional para a Democracia (LND), conquistou a maioria absoluta no parlamento nas eleições legislativas de novembro. Essa vitória permitirá que o partido tenha uma importante participação na eleição do novo presidente no ano que vem. Vale lembrar que um quarto do parlamento seguirá nas mãos de militares não eleitos. Ainda assim, o êxito do LND sob a liderança da ativista foi festejado pela população de Mianmar e as eleições foram elogiadas por observadores internacionais. O Mianmar foi governado por um regime militar entre 1962 e 2011, ocasião na qual a última junta cedeu espaço a um governo civil. Suu Kiy, por sua vez, passou 15 anos em prisão domiciliar por sua atuação em prol de reformas políticas no país e se tornou um símbolo da luta pacífica pela democracia . A ativista e Thein Stein, atual presidente do país, já discutem como serão os rumos da transferência de poder. Suu Kyi, cujos filhos têm passaporte britânico, não poderá se candidatar à presidência, uma vez que a Constituição do país proíbe que pessoas que tenham filhos estrangeiros tenham acesso ao cargo. No entanto, é inegável que ela exercerá forte influência sob aquele que se consagrar na posição de presidente em 2016.
Determinado a deixar um legado de mudanças, Francisco usou 2015 para viajar o planeta e espalhar mensagens de conciliação e compaixão, além de ter realizado visitas históricas em Cuba, Estados Unidos e na África. Na ilha caribenha, a qual visitou pela primeira vez, o papa foi recebido com festa por Raul Castro, que lhe agradeceu por sua contribuição no restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos. Nos EUA, se tornou o primeiro papa a realizar um discurso perante o Congresso do país e no qual criticou a pena de morte, pregou o fim da venda de armas e ainda cobrou ações para a redução do aquecimento global. Meses depois, em visita ao Quênia, Uganda e República Centro-Africana (RCA), países africanos assolados pela pobreza e por atividades terroristas, o pontífice apostou em promover o diálogo entre cristãos e muçulmanos. Em Bangui, capital da RCA, Francisco visitou um dos bairros mais violentos do mundo, no qual se refugiam muçulmanos escaparam de áreas centrais controladas por milícias cristãs. Lá, foi recebido com emoção e discursou ao lado de um líder religioso local. Eleito pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo, o papa foi elogiado pela sua postura livre de julgamentos quanto a questões delicadas para a Igreja Católica como orientação sexual e divórcio. “Ele trouxe esperança para milhões de católicos ao redor do mundo”, pontuou o arcebispo da Igreja Anglicana e Nobel da Paz Desmond Tutu. Sob sua liderança, foi ainda aprovada nesse ano a orientação de acolhimento dos católicos divorciados e recasados, apesar das críticas e oposição da ala conservadora da Igreja. Na ocasião, o papa ainda criticou aqueles que dão mais importância à doutrina que a misericórdia.
Líder do Partido Liberal no Canadá , Justin Trudeau conquistou em outubro o posto de primeiro-ministro do país, que deixa para trás quase uma década de governo conservador. Com o discurso de vitória afiado, ele tomou posse no mês passado e usou a ocasião para mostrar ao mundo o tom que adotará em seu governo. Na apresentação de seu gabinete, o novo líder explicou que desejava montar uma equipe que se parecesse com o Canadá, dividindo a composição entre homens e mulheres. Quando perguntado sobre por que a igualdade de gênero foi importante na escolha de seus ministros, Trudeau respondeu: “Porque é 2015”. Entre as outras mudanças que os liberais prometeram para o país é reforma na política de drogas, especificamente no que diz respeito à legalização da maconha. Se isso se concretizar, o Canadá poderá ser o primeiro país desenvolvido a tomar essa atitude.
Malala é, sem dúvidas, uma inspiração e seu trabalho vem deixando importantes marcas no mundo. Aos 18 anos, ela é a pessoa mais jovem da história a receber o Prêmio Nobel da Paz, já foi chamada de “orgulho do Paquistão ” pelo primeiro-ministro do país e é frequentemente elogiada por líderes mundiais pelo seu afinco na luta pela educação para mulheres e meninas. Em 2012, Malala foi alvo da ira de extremistas do Taleban que tentavam, em vão, proibir meninas de atenderam a escola na região do Vale do Swat. Ela levou um tiro na cabeça quando voltava da escola com suas amigas. Ela sobreviveu e viu a luta se tornar o centro dos holofotes mundo afora. "Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas. A educação é a única solução, a educação em primeiro lugar", afirmou em seu primeiro pronunciamento público, na Assembleia de Jovens da Organização das Nações Unidas (ONU), meses após o atentado. Nesse ano, Malala acumulou conquistas admiráveis pelo planeta. Em julho, ela comemorou seu aniversário de 18 anos no Líbano a brindo uma escola para meninas sírias refugiadas no país. O local atende atualmente 200 alunas com idades entre 14 e 18 anos. Em novembro, dessa vez na Índia, Malala atuou ao lado do ministro da educação que anunciou medidas para priorizar a educação para meninas em regiões nas quais elas sequer tem escolas. A decisão, explicou o jornal The Independent, impactará as vidas de oito milhões de crianças.
A médica canadense é a presidente de uma das maiores organizações não governamentais do mundo, a Médicos Sem Fronteiras, da qual é parte há quase duas décadas. Sob sua liderança, a entidade conseguiu estar nos lugares certos e atuar de maneira decisiva em 2015 em grandes catástrofes, como o terremoto no Nepal e também o resgate de imigrantes e refugiados que cruzam o Mediterrâneo. A ONG vem ainda tentando se recuperar dos efeitos de um dos episódios mais graves da sua história: o bombardeio ao seu hospital em Kunduz, no Afeganistão, que foi realizado pelo exército dos Estados Unidos. O local era o único posto de atendimento médico de milhares de pessoas que vivem nessa região que hoje é palco de conflitos entre tropas americanas e afegãs e militantes extremistas do Taleban. O posicionamento de Liu frente a esse grave problema não poderia ter sido mais louvável. De maneira firme, cobrou providências do governo dos Estados Unidos, lembrando “que mesmo as guerras têm regras” e pontuando que o ato foi uma violação da Convenção de Genebra. “Essa convenção não é um emaranhado de regras abstratas”, declarou ela na época, “é a diferença entre a vida e a morte nas linhas de frente”. Como resultado de suas manifestações, recebeu uma ligação do presidente Obama que se desculpou pelo ocorrido e garantiu total cooperação e transparência nas investigações do ocorrido. Sua entidade também se destacou no combate a pior epidemia de ebola já registrada no planeta e que atingiu com força os países da África Ocidental nos últimos anos. Para lidar com o problema, Liu mobilizou 3 mil profissionais da saúde que atenderam mais de quatro mil pessoas nos países afetados.
Em 1992, tocado pela guerra na Bósnia, o escocês Magnus MacFarlane-Barrow decidiu juntar doações para ajudar as famílias afetadas pelo conflito. Passou um tempo no país e, ao retornar para a Escócia e perceber o sucesso da sua inciativa, resolveu se mudar de vez para a região para se dedicar à sua recém-fundada entidade, a Scottish International Relief. Dez anos depois, sua iniciativa já atuava em diferentes países quando ele teve a ideia de lançar a Mary’s Meals (Refeições de Maria, em tradução para o português), que tem como objetivo oferecer ao menos uma refeição por dia escolar para crianças em regiões afetadas pela fome . O sucesso da iniciativa foi tanto que hoje, em pleno 2015, a entidade de Magnus garante comida durante os dias escolares de mais de um milhão de crianças em 1.300 escolas espalhadas por 12 países. Embora tenha atingido uma marca impressionante, o escocês não pretende diminuir o ritmo de sua entidade daqui para frente. “Com 57 milhões de crianças fora da escola hoje e outros milhões em todo o mundo que sofrem com a fome, está claro que nosso trabalho só está começando”, disse Magnus.
A renomada jornalista chinesa Chai Jing atraiu as atenções do planeta no ano no qual líderes globais se reuniriam em Paris para a COP 21 , a principal convenção das Nações Unidas sobre mudanças climáticas . No início de 2015, ela lançou o documentário “Under the Dome” que trouxe revelações impactantes sobre a poluição do ar na China , o país que mais consome carvão no mundo e é um que mais contribuem para o aquecimento global. O país vive um verdadeiro pesadelo ambiental há algum tempo e o governo já declarou estar em guerra contra a poluição. Os esforços, no entanto, ainda não parecem ter surtido grandes efeitos. Nessa semana, justamente num momento em que a COP21 se reúne em Paris, foi a primeira vez na história que Pequim emitiu um alerta vermelho sobre a qualidade do ar. O documentário de Chai, portanto, desembarcou em um momento decisivo para as estratégias de contenção das mudanças climáticas, que tem a China como um de seus principais causadores. “Under the Dome” é resultado de uma investigação independente conduzida e financiada pela própria jornalista. Descrito por críticos como a mais importante produção sobre o meio ambiente já feita sobre a China, o documentário recebeu mais de 150 milhões de visualizações apenas no primeiro dia em que foi disponibilizado na internet. O sucesso imediato atraiu a atenção do governo chinês, que dias depois do lançamento bloqueou o acesso ao conteúdo. Os efeitos do trabalho de Chai, contudo, parecem ter chegado ainda assim até a alta cúpula do governo. Após discurso de encerramento do congresso anual do Partido Comunista da China em Pequim, jornalistas questionaram o primeiro-ministro Li Keqiang sobre as acusações trazidas pelo documentário. Para a surpresa de muitos, ao invés de críticas, Li disse que o governo está comprometido na implementação da primeira emenda em 25 anos à lei de proteção ambiental chinesa e que prevê punições severas para os poluidores. “Precisamos fazer com que o preço pela poluição seja alto demais para ser suportado”, considerou ele. Resta aguardar para saber até quando os chineses seguirão atormentados pela fumaça que esconde os dias de sol e céu azul.
Atuar como ativista de direitos humanos em um dos países mais violentos do planeta não é tarefa fácil, mas é uma que Aura Elena Farfán executa com sensibilidade na sua Familiares de Detenidos e Desaparecidos de Guatemala (Familiares dos Presos e Desaparecidos da Guatemala), uma das organizações humanitárias mais antigas em atividade no país. Como tantas outras famílias, a família de Aura sofreu perseguições por parte do governo durante os anos de guerra civil que assolaram o país entre 1960 e 1996. Seu irmão desapareceu em 1984 ao sair do campus da Universidade de São Carlos, na Cidade da Guatemala e nunca mais foi visto. Graças ao seu trabalho na entidade, em 2011, 17 militares acusados de terem participado do massacre no vilarejo Dos Erres em 1982, no qual mais de 200 pessoas foram mortas, foram sentenciados a mais de seis mil anos de prisão. Quase todos os restos mortais encontrados no local do episódio foram identificados. A busca por seu irmão e por justiça para tantas outras vítimas dos anos de violência, contudo, continuará.
Mais lidas
Mais de Mundo
Refugiados sírios tentam voltar para casa, mas ONU alerta para retorno em larga escalaPanamá repudia ameaça de Trump de retomar o controle do CanalMilei insiste em flexibilizar Mercosul para permitir acordos comerciais com outros paísesTrump escolhe Stephen Miran para chefiar seu conselho de assessores econômicos