Embora o Ibovespa tenha caído em agosto, as três maiores valorizações superaram 20% (Wragg/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 31 de agosto de 2019 às 12h01.
Última atualização em 6 de setembro de 2019 às 16h07.
São Paulo – Ao longo de agosto, a escalada da tensão comercial entre China e Estados Unidos e notícias sobre uma possível recessão global abalaram a Bolsa e ofuscaram os efeitos da aprovação da reforma da Previdência na Câmara. Embora o cenário internacional tenha provocado instabilidade, o Ibovespa terminou agosto próximo da pontuação do fim de julho.
Em momentos de maior estresse, o índice chegou a ficar abaixo dos 97 mil pontos. A recuperação só se deu nesta semana, quando a Bolsa avançou 3,55% após o crescimento do PIB ter surpreendido positivamente o mercado. A alta, porém, foi insuficiente para reverter as perdas e o Ibovespa fechou o mês com queda de 0,67%, a 101.134,61 pontos. Mesmo com a baixa, as ações do índice que mais subiram superaram as maiores depreciações.
O papel que mais rendeu em agosto foi o da Qualicorp, que teve valorização de 28,67%. Recentemente, a Rede D’Or, de hospitais e clínicas médicas, se comprometeu a comprar 10% das ações da empresa de assistência de saúde coletiva. Analistas veem a negociação como possibilidade de a Qualicorp passar a oferecer planos de saúde mais baratos em parceria com a Rede D’Or.
Além disso, investidores veem ações do setor de saúde como “defensivas” ao cenário externo, o que explica a maior demanda pelo ativo em tempos de volatilidade externa. Em 2019, a ação da Qualicorp acumula 121,80% de retorno.
A terceira maior alta ficou a cargo da Marfrig, que, no mês, aumentou seu valor de mercado em 25,94%. As ações da empresa de proteína animal subiram 7,41% no dia em que ela anunciou uma parceria com a americana Archer Daniel Midland para passar a comercializar carne de origem vegetal.
Os papéis da Marfrig também foram positivamente impactados pela peste suína na China, que precisou aumentar a importação de carne de porco para atender à demanda interna. BRF e JBS também foram beneficiadas pela doença que assola os rebanhos chineses.
Dois anos após protagonizar um dos episódios mais emblemáticos da história recente do país, a empresa da família Batista voltou a entrar no hall das ações mais queridas entre os investidores. Com rentabilidade de 164% no ano, a ação da JBS é a que mais tem proporcionando ganhos em 2019 entre as que integram o Ibovespa. No mês, o papel subiu 19,04% - a quarta maior alta de agosto.
Já a BRF, impulsionada pela exportação de suínos para a China, apresentou lucro inesperado e viu suas ações subirem 5% logo após a divulgação do resultado trimestral. No mês, a alta foi de 14,16%.
Com desempenho negativo até o fim de julho, as ações da B2W tiveram bom desempenho em agosto e reverteram as perdas do ano. A virada começou após a varejista apresentar aumento de 22% das vendas totais, fazendo com que seus papéis subissem 17%, a 43,54 reais. O movimento voltou a ganhar força nesta semana, quando o banco suíço UBS elevou o preço alvo do ativo para 56 reais. A ação se valorizou 26,04% no mês e 13,17% no ano.
Veja as maiores altas do Ibovespa em agosto:
Empresa | Tricker | Desempenho no mês (%) |
---|---|---|
Qualicorp | QUAL3 | 28,67 |
B2W | BTOW3 | 26,04 |
Marfrig | MRFG3 | 25,94 |
JBS | JBSS3 | 19,04 |
Eletrobrás | ELET6 | 18,56 |
Eletrobrás | ELET3 | 16,63 |
IRB Brasil | IRBR3 | 14,21 |
BRF | BRFS3 | 14,16 |
Raia Drograsil | RADL3 | 10,88 |
Magazine Luiza | MGLU3 | 10,09 |
Na outra ponta, os papéis da Kroton lideraram as piores quedas de agosto. O resultado do segundo trimestre frustrou o mercado e logo após a divulgação do balanço, o papel da controladora da Universidade Anhanguera caiu 11,51%. O movimento de baixa persistiu por dias, fazendo com que a ação se desvalorizasse 19,53% no mês.
A Gol foi outra empresa que teve seu valor de mercado reduzido. Embora a diminuição do prejuízo líquido no segundo trimestre tenha elevado em 6% o valor de sua ação, os papéis da companhia aérea foram afetados pela alta do dólar.
Como a empresa usa a moeda americana para arcar parte considerável das despesas, suas ações tiveram quedas significativas nos dias em que o dólar avançou. Enquanto a moeda subiu 8,72% em agosto, os papéis da Gol caíram 18,97%. Mesmo com as perdas recentes, o ativo acumula crescimento de 32,27% no ano.
A Braskem, por outro lado, vem reduzindo seu valor de mercado a cada mês. Desde o início do ano, a ação da petroquímica caiu 40,44%. Com 18 pregões no vermelho e somente quatro no azul, o papel fechou agosto em queda de 17,1%.
Neste mês, a empresa reportou redução de 76% do lucro no segundo trimestre do ano. Além do problema financeiro, a crise da Braskem tem esbarrado em questões ambientais. Em Alagoas, uma mina de sal-gema precisou ser paralisada por colocar em risco 600 famílias de um bairro de Maceió devido a rachaduras no solo.
Ainda no campo das commodities, a queda de cerca de 25% do preço do minério de ferro negociado na bolsa de Dalian, na China, derrubou o preço dos ativos ligados ao metal, como as ações da CSN, Usiminas e Vale, que no mês caíram 13,13%, 9,71% e 8,57%, respectivamente. Para analistas, a desaceleração da economia internacional e o cenário de conflito comercial reduzem a demanda por commodities, o que acaba por derrubar o valor do ativo.
Veja as maiores baixas do Ibovespa em agosto:
Empresa | Tricker | Desempenho no mês |
---|---|---|
Kroton | KROT3 | -19,53 |
GOL | GOLL4 | -18,97 |
Braskem | BRKM5 | -17,1 |
Grupo Ultra | UGPA3 | -16,3 |
CSN | CSNA3 | -13,13 |
Bradespar | BRAP4 | -10,09 |
Usiminas | USIM5 | -9,71 |
Azul | AZUL4 | -9,04 |
Vale | VALE3 | -8,51 |
Multiplan | MULT3 | -8,45 |