ESG

Fintech cria bolsa de créditos de carbono para pessoas físicas

Startup aposta que a demanda por créditos deve superar a oferta, gerando forte valorização desses ativos. Mas, o potencial brasileiro é pouco explorado

Amazônia: desmatamento aumentou (Per-Anders Pettersson/Getty Images)

Amazônia: desmatamento aumentou (Per-Anders Pettersson/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 18 de junho de 2020 às 13h58.

Última atualização em 18 de junho de 2020 às 14h25.

O mercado de créditos de carbono é tido como uma solução para o aquecimento global. A ideia é que grandes poluidores compensem suas emissões pagando a quem não polui. As transações podem ser entre empresas ou países. O Brasil, por abrigar a maior floresta do mundo, a Amazônia, tem enorme potencial para se beneficiar desse mercado. 

No ano passado, a Amazon fez um compromisso de se tornar neutra em carbono até 2040. Dessa forma, se uniu a outras gigantes, como Microsoft e Apple, que também se comprometeram em zerar as emissões. Para atingir esse objetivo, elas terão de comprar créditos em larga escala. Somente essas três companhias vão gerar uma demanda superior a 60 milhões de toneladas, nos próximos anos. 

Atento a esse potencial, um ex-vice-presidente do Credit Suisse e gestor de um fundo de 500 milhões de dólares criou uma fintech para permitir que pessoas físicas participem desse mercado. A Moss vai funcionar como uma bolsa de créditos de carbono, em que investidores podem adquirir ativos quando ainda estão baratos, e vendê-los quando o preço subir. “Vai faltar crédito”, afirma Luis Felipe Adaime, fundador da startup. 

A compra e venda de créditos de carbono funciona como qualquer outro mercado de commodities. O preço é determinado pela lógica da oferta e da procura. Em momentos de escassez, o preço sobe. Adaime acredita que, agora, é um momento bom para entrar nesse mercado. “Com essa quantidade de compromissos assinados, haverá uma corrida por créditos de boa qualidade”, afirma o empreendedor. “E o Brasil tem os melhores créditos do mundo”. 

Em três meses de operação, a Moss já adquiriu 7,5 milhões de créditos de carbono. Por meio de sua plataforma, os investidores podem comprar esses créditos ao custo de 10 dólares cada um — 1 crédito representa 1 tonelada de carbono que teve sua emissão evitada ou foi retirada da atmosfera. Esses ativos estão associados a projetos certificados internacionalmente, a maioria deles na Amazônia. 

Quando uma empresa compra créditos de carbono de outra empresa, ela neutraliza aquelas emissões imediatamente. A partir dessa compensação, o crédito não pode mais ser utilizado. O que a Moss faz é permitir que o investidor não utilize os créditos imediatamente, ou seja, ele pode guardá-los e vendê-los posteriormente. Independentemente de quando a compensação for feita, o dinheiro investido é direcionado para o projeto no ato da compra. 

Luis Felipe Adaima, fundador da Mosso, bolsa de créditos de carbono

Luis Felipe Adaime, da Moss: "Vai faltar crédito de carbono no mercado" (Moss/Divulgação)

Segundo Adaime, o Brasil não utiliza todo seu potencial em créditos de carbono. “A demanda por créditos da Amazônia é imensa”, diz ele. A ideia da fintech ambiental surgiu de uma observação que fez quando ainda trabalhava no mercado financeiro.  “Eu falava com o pessoal de meio ambiente e eles reclamavam que o mercado era difícil por falta de demanda. Mas quando eu conversava com os investidores, eles me falavam que o mercado era difícil por falta de oferta”, relata. “Percebi que o pessoal não estava se comunicando.”  

Além do Brasil, a Moss tem planos de conquistar mercados externos. A fintech prepara o lançamento de uma plataforma em inglês, que vai aceitar pagamentos por meio de cartões de crédito internacionais. Para os brasileiros, o investimento deve ser feito por meio de boleto ou transferência bancária. 

Acordo de Paris

A regulamentação de um mercado global de carbono é uma das diretrizes do Acordo de Paris. As tratativas, no entanto, esbarram na falta de entendimento entre os países desenvolvidos e os emergentes. 

Atualmente, os principais mercados de carbono regulados estão na Europa, na China e nos Estados Unidos. Embora o presidente Donald Trump tenha retirado a maior economia do mundo do Acordo de Paris, boa parte dos estados americanos possui seus próprios mercados. Alguns estão entre os maiores do mundo, como o da Califórnia. 

O Brasil não possui um mercado regulado, o que não impede o país de negociar créditos. Há uma espécie de mercado paralelo, em que empresas compram livremente o carbono certificado. No ano passado, o Brasil emitiu cerca de 5 milhões em créditos. 

Até o início do governo Bolsonaro, o país era uma voz atuante nas negociações para a regulamentação desse mercado mundialmente. A nova administração, entretanto, mudou radicalmente a postura. Na última conferência do clima da ONU, a COP25, o Brasil foi um dos responsáveis pelo fracasso nas negociações sobre o artigo 6 do Acordo de Paris, que trata do tema. 

Apesar dessa dificuldade, Adaime mantém o otimismo. “O mercado de carbono vai acontecer, com os governos ou sem os governos”, afirma. Se a previsão se confirmar, quem entrar agora vai pegar um tsunami de valorização.

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