Lula: ex-presidente deixou a sede da Polícia Federal em Curitiba nesta sexta-feira (8) (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 8 de novembro de 2019 às 18h32.
Última atualização em 14 de novembro de 2019 às 08h49.
A Bolsa abriu em forte queda nesta sexta-feira (8), após o Supremo Tribunal Federal, decidir contra a prisão em segunda instância na véspera. O movimento de baixa se intensificou nesta tarde, quando as expectativas sobre a soltura de Luiz Inácio Lula da Silva se concretizaram com a decisão da 12ª Vara Federal de Curitiba de liberar o ex-presidente da prisão. O Ibovespa fechou em baixa 1,78%, em 107.628,98 pontos.
Para o time de analistas da XP Investimentos, Lula solto prejudica as condições de aprovação da agenda de reformas do governo. “Apesar do petista poder criar fatos e tumultuar o ambiente, o governo tem elementos e ferramentas para neutralizar o apelo desse discurso”, escreveram em boletim.
O sócio fundador da Nord Research, Bruce Barbosa também vê riscos de Lula dificultar a tramitação das reformas. “Isso é no curto prazo. No médio, é ele se candidatar em 2022”, disse. Por outro lado, Barbosa vê bons resultados de empresas no horizonte, além de ter a percepção de que a economia está acelerando. “Mas com a Bolsa na máxima, faz sentido aliviar um pouco o pé”, avaliou.
Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, acredita que o movimento de queda vai permanecer por algum tempo. Segundo ele, já havia um “belo espaço para a realização [de lucros]”, que somado aos acontecimentos recentes pode impulsionar o movimento de queda. “Agora o mercado vai acompanhar os próximos passos do Lula. Na dúvida, o mercado fica defensivo”, afirmou.
Economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira acredita que a decisão contra a prisão em segunda instância enfraquece a operação Lava-Jato e amplia a insegurança jurídica, o que “prejudica a atração de investimentos externos. Ele também projeta turbulências políticas com a soltura do ex-presidente. “Lula será o opositor de Bolsonaro, aumentará a polarização e pode ocasionar muitos ruídos”, escreveu em relatório a clientes.
No exterior, as bolsas fecharam em queda, após o presidente Donald Trump negar a reversão de tarifas sobre a China. Nesta quinta-feira (7), o mercado havia engatado o tom de otimismo após o porta-voz do Ministério do Comércio chinês afirmar que “a guerra comercial deverá terminar com a remoção de todas as tarifas”.
No mercado de câmbio, o dólar teve valorização de 1,83% encerrou o dia sendo negociado a 4,168 reais na venda - o maior valor em três semanas. Para Laatus, a moeda americana sofreu pressão interna, da questão Lula, e externa, motivada por maiores dúvidas sobre um possível acordo comercial entre China e Estados Unidos.
Na Bolsa, as ações da CVC despencaram 14,15%, após a agência de turismo divulgar, na noite de quinta, lucros menores no terceiro trimestre. Na apresentação do resultado, a empresa admitiu que vem enfrentando “muitos desafios” em 2019, citando a Avianca.
A quebra da companhia aérea vem acarretando perdas milionárias para a CVC. Nos últimos dois trimestres, A CVC teve que desembolsar mais de 120 milhões de reais para resolver questões relacionadas à Avianca.
Outro problema citado pela companhia são as manchas de óleo no nordeste, que segundo a própria CVC, se tornou mais relevante em outubro. Ou seja, é possível que o estrago causado pelo derramamento de petróleo seja sentido pela empresa no balanço do quarto trimestre.
A forte valorização do dólar na semana, que vem subindo desde que a participação de investidores estrangeiros no megaleilão do pré-sal ficou aquém do esperado, também impactou a Bolsa. Na semana, as ações das companhias aéreas, que dependem da moeda americana para pagar parte significativa de suas despesas tiveram quedas. No período, os papéis da Gol caíram 6,68% e os da Azul, 4,91%.
Queridinho dos investidores, os papéis da Magazine Luiza também tiveram uma semana de fortes baixas na Bolsa, recuando 7,16%. O movimento vem após valorização de 12,36% na semana anterior, motivada pelo balanço do terceiro trimestre acima das expectativas.
Outra ação que vem tendo um ótimo desempenho, mas entrou em queda foi a do Banco Inter. O papel recuou 5,69% nesta quinta, após a empresa apresentar redução dos lucros. Nesta sexta, o ativo voltou a se desvalorizar e caiu mais 3,27%. Na semana, o papel teve depreciação de 9,42%. Ainda assim, a ação da fintech acumula alta de 140,69% no ano.
Por outro lado, papéis que vinham em baixa no ano, esboçaram alguma reação nesta semana. Um exemplo disso são as empresas do setor de papel e celulose. Com a expectativa de que o preço do produto já tenha atingido o piso no mercado internacional e com aspectos positivos, como redução dos estoques e planos de expansão, as ações da Suzano e da Klabin fecharam a semana em alta de 8,54% e 16,95%, respectivamente.
Já as ações da Braskem subiram 1,73% nesta sexta, sendo uma das poucas do Ibovespa a fechar o dia no azul. No semana, o papel da petroquímica teve valorização de 12,13%. O desempenho, porém, não foi suficiente para reverter as perdas dos últimos tempos. No ano, o papel acumula queda de 34,04%
*Colaborou Tais Laporta