Economia

Geração Y fica atolada em brecha de valor

Para as famílias lideradas por pessoas de 40 anos ou mais jovens, riqueza ainda está em média 30% abaixo dos níveis de 2007


	Casa a venda nos EUA: famílias jovens estiveram mais expostas à queda imobiliária porque as casas representavam uma maior proporção da sua riqueza antes da crise
 (Getty Images)

Casa a venda nos EUA: famílias jovens estiveram mais expostas à queda imobiliária porque as casas representavam uma maior proporção da sua riqueza antes da crise (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 31 de março de 2014 às 23h42.

Washington - O dano feito às famílias americanas pelo colapso do mercado imobiliário e pela recessão não foi distribuído equilibradamente. Basta perguntar a Jason e Jessica Alinen.

O casal, que mora perto de Seattle, declarou a bancarrota em 2011, quando o valor da casa que possuíam na época despencou para menos de US$ 200.000 de US$ 349.000 que pagaram por ela apenas quatro anos antes, logo quando a queda da economia estava prestes a começar. Jason até deixou de cortar o cabelo para poupar dinheiro.

“Achávamos que teríamos uma cerca de postes brancos de madeira, dois filhos, dois cachorros e um patrimônio de US$ 100.000”, disse Jason, 33, que tem sim dois filhos. “É simplesmente muito frustrante”.

Para as famílias lideradas por pessoas de 40 anos ou mais jovens, a riqueza ajustada segundo a inflação ainda está em média 30 por cento abaixo dos níveis de 2007, conforme pesquisas de economistas no Banco da Reserva Federal em St. Louis. O valor líquido para os americanos mais velhos já se recuperou das perdas.

Tal divisão geracional tem implicações negativas para o gasto dos consumidores, que representa quase 70 por cento da economia. As famílias mais jovens tendem a gastar uma maior proporção da sua renda em mobiliar casas novas e em comprar automóveis, diferentemente dos seus correspondentes mais velhos, que economizam mais à medida que se aproximam da aposentadoria.

“Essas mudanças em andamento nos balanços individuais poderiam impactar na economia inteira”, disse William Emmons, economista do Fed de St. Louis e um dos autores do estudo publicado em fevereiro junto com Bryan Noeth. “Talvez seja uma das razões pelas quais tem sido tão difícil entender essa recuperação fraca. Não há suficientes pessoas olhando essas mudanças”.

Mais expostas

As famílias jovens estiveram mais expostas à queda imobiliária porque as casas representavam uma maior proporção da sua riqueza antes da crise, grande parte daquela financiada com dívida, segundo Emmons e Noeth. À medida que os valores das propriedades despencavam e os empregos sumiam, muitos descobriram que não podiam pagar os empréstimos, portanto, como os Alinen, eles desalavancaram ou enfrentaram embargos.


As taxas de propriedade de casas entre pessoas de 35 a 44 anos caíram 6,3 pontos porcentuais para 60,9 por cento entre o final de 2007 e o quarto trimestre de 2013, mostram dados de censos. Para as famílias de menos de 35 anos, a taxa caiu 4,2 pontos para 36,8 por cento. Entretanto, 71,3 por cento das pessoas dentre 45 e 54 anos e 77 por cento daqueles dentre 55 e 64 anos possuem uma casa.

“O fato de que seus níveis de riqueza caíram, de que têm menos probabilidades de possuírem casas, de que sequer estão confortáveis estabelecendo suas próprias famílias com aluguéis, tudo tem consequências”, disse Richard Fry, pesquisador do Pew Charitable Trusts, em Washington, em referência a famílias mais jovens. “Eles não estão comprando pacotes de TV a cabo nem esfregões e vassouras do Home Depot”.

Recuperação perdida

Como menos jovens possuem casas, nem tantos estão se beneficiando com a recuperação dos preços destas, disse Fry.

A disparidade vai além das casas. As rendas das famílias mais jovens declinaram abruptamente durante a recessão e a recuperação tem sido lenta. Para as famílias jovens americanas no meio da escala de renda, os lucros caíram 2,3 por cento em 2010 frente à média entre 1992 e 1995, conforme um estudo do Fed de St. Louis de 2012. O conjunto das famílias percebeu um aumento de 9,4 por cento durante o período.

Os Alinen, que trabalham com um consultor de crédito, mudaram para uma casa menos cara para fugir de seu patrimônio negativo e atravessaram a bancarrota. Agora eles estão passando por dificuldades para manter sua casa atual e já tiveram que modificar o pagamento mensal da hipoteca, em parte porque Jason perdeu um emprego em 2012 e agora está ganhando menos do que ele esperava ganhar. A redução de US$ 100 não é suficiente para ajudar muito, disse ele.

“Trabalhamos a tempo completo, vemos nossos filhos duas horas por dia”, disse ele. “Simplesmente não é como essas pessoas uma década atrás”.

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