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Um mundo a decifrar

O que se passa na cabeça do consumidor evangélico? Ganha um doce quem souber

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h55.

O rápido crescimento das religiões evangélicas é uma das mais importantes -- e menos conhecidas -- transformações sociais do Brasil contemporâneo. Entre 1991 e 2000, o número de evangélicos cresceu 74%, segundo o IBGE. O Censo 2000 registrou o impressionante total de 26 milhões de evangélicos, número superior à população de estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro. Hoje, para cada cinco católicos, há uma pessoa que professa a fé evangélica, e tudo indica que a maioria católica continuará a diminuir rapidamente.

Na região metropolitana de São Paulo, assim como em outras metrópoles brasileiras, os evangélicos são mais comuns nas classes populares. Eles têm presença destacada em municípios da periferia, como Osasco, Itaquaquecetuba e Ferraz de Vasconcelos. A religião evangélica é também mais forte entre as mulheres e cresce rapidamente entre os jovens. Sem dúvida, esse fenômeno já está tranformando a cultura, a comunicação de massa e o consumo entre nós.

Quais são mesmo os valores culturais associados a essa religião? Segundo o sociólogo Max Weber, a ética do trabalho e a valorização de uma trajetória de ascensão individual seriam traços essenciais da fé protestante. Seguindo essa lógica, poderíamos supor, por exemplo, que os evangélicos brasileiros seriam mais freqüentemente empreendedores e poupadores. Eles evitariam consumir produtos condenados pela comunidade religiosa, tais como cigarros, bebidas e jogos de azar.

Mas não podemos meramente transpor esse modelo de comportamento aos evangélicos brasileiros do século 21. Esse grupo religioso no Brasil é sobretudo do ramo pentecostal, onde proliferam novas igrejas, como a Universal do Reino de Deus e a Deus É Amor. Tais profissões de fé são provavelmente muito diferentes das igrejas luterana e calvinista, que serviram de inspiração ao trabalho de Weber.

A verdade é que tanto os sociólogos quanto os profissionais de marketing ainda estão engatinhando no entendimento do que se passa na cabeça e no consumo desse segmento emergente. Na maioria das pesquisas de opinião e de mercado, o quesito religião não é considerado ou não serve como critério para o recrutamento de entrevistados. Mesmo assim, em algumas pesquisas realizadas em São Paulo, pudemos identificar tendências surpreendentes no comportamento de consumo desse grupo religioso. Observamos, por exemplo, evidências de rejeição dos evangélicos a determinadas marcas consagradas. Por mais que tais estudos exijam aprofundamento, eles evidenciam o respeito e o reconhecimento que essa nova identidade religiosa demanda tanto das empresas como da sociedade em geral. Pesquisadores, mídia, agências de publicidade e anunciantes precisam começar a se preocupar com a linguagem e os ícones com que se dirigem a esse segmento cada vez mais numeroso.

Haroldo da Gama Torres é demógrafo e doutor em ciências sociais, consultor da Popular Comunicação e do Data Popular, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole -- CEM (Cebrap/Seade)

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