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Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2010 às 17h53.
O Brasil tem esportes que reúnem milhões de pessoas como o futebol, mas também tem outra categoria mais seleta, associada à riqueza, como o golfe e o pólo. Desse último grupo, o pólo é indiscutivelmente o mais restrito e também o mais caro. O investimento inicial para quem se interessar é 90 000 reais, entre equipamentos e cavalos. Isso sem contar os custos de manutenção dos animais (com estábulos adequados e alimentação apropriada) e as despesas que podem ser feitas para obter espécimes melhores. Há cavalos, como os da família Diniz, do grupo Pão de Açúcar, que custam até 100 000 dólares cada um. Se cada jogador precisa de seis cavalos por partida, já dá para imaginar o tamanho da despesa.
Justamente porque o pólo é caro, as marcas de luxo iniciaram um movimento de aproximação com o esporte. Grandes companhias, como Toyota, Mitsubishi, Budweiser e Banco Real, estão investindo na modalidade com dois objetivos. O primeiro é associar sua marca a um ambiente requintado. O segundo é estimular as pessoas envolvidas na atividade ou os simples aspirantes a ricos a comprar seus produtos. Um dos exemplos mais recentes dessa estratégia de marketing é a Mercedes-Benz. Neste ano, a montadora organizou um circuito próprio, considerado o torneio mais importante da temporada, a Copa Mercedes-Benz. Além de um evento para comemorar o fim da competição, houve um agrado extra aos participantes. Cada jogador do time campeão recebeu um automóvel Classe A como prêmio. "Os dois ganham com essa aproximação. As empresas e o esporte", diz Luiz Philipe Rezende Cintra Filho, empresário da área de construção e praticante da modalidade há mais de três décadas.
O pólo se desenrola em círculos sociais restritos e, por causa disso, é conhecido como "esporte dos reis". No Brasil, para ter uma idéia, só existem 400 jogadores. O centro de excelência é o Clube Helvetia (pronuncia-se "helvécia"), no município de Indaiatuba, interior de São Paulo. É o maior centro de treinamento de pólo no país, com quase 70 campos e cerca de 600 cavalos. Quase todos os freqüentadores têm casas nas redondezas e despertaram para o jogo da mesma forma: influência de pais, avós e tios (como num rito de família). A maioria deles é composta de fazendeiros ou empresários da região que ganharam dinheiro com o agronegócio. Junqueira, Novaes, Diniz e Kalil são os sobrenomes mais comuns. É impossível dissociar o esporte da história dessas famílias.
Assistir a um jogo de pólo é como participar de uma festa com pessoas de excepcional condição financeira. Em alguns momentos, lembra a disputa do Grande Prêmio Brasil no Jockey Club do Rio de Janeiro. Os carros estacionados são novíssimos, a atmosfera é quase européia e a platéia capricha nas roupas. As mulheres enfrentam o sol com chapéus e óculos escuros. Os homens usam jeans e botas.
Os torneios brasileiros, realizados de março a outubro, eram até há pouco tempo organizados pelas próprias famílias. Com a entrada das empresas isso mudou. O esquema está mais organizado e o amadorismo que caracterizava o esporte está dando lugar a uma nova filosofia. Atletas como Ricardo Mansur, namorado da bela Luana Piovani, e Fábio Diniz (o melhor jogador brasileiro da atualidade) são os expoentes disso. Eles têm patrocínios próprios e praticam o pólo como única atividade profissional. Com essa dedicação exclusiva, os esportistas brasileiros vêm realizando longos períodos de treinamento no exterior. Esse intercâmbio tem proporcionado uma boa evolução para o esporte. Surpreendentemente, o Brasil tornou-se campeão da modalidade no último Mundial, na França.
Jogar é definitivamente a parte mais complicada. Além de muito dinheiro, é importante ter cavalos resistentes e com um trote afeito ao jogo. Cada participante monta cinco ou seis animais por competição. Afinal, eles se cansam muito rapidamente e a disputa dura sete tempos. As regras misturam elementos do futebol e do tênis e os times são formados por quatro jogadores. Mas a maior diferença é que existe uma espécie de contagem individual para cada praticante. Os times são formados especialmente para cada competição, com base no desempenho individual. O conjunto nunca pode reunir muitos jogadores com performance excepcional, o que torna as partidas mais equilibradas. Trazido pelos ingleses nos anos 20, o pólo ensaia os primeiros passos para sair do círculo restrito de praticantes. O apoio das empresas pode ajudar nisso. Mas, enquanto custar tão caro, será difícil sair desse universo fechado.