Líderes Extraordinários

Saber ouvir será o maior diferencial para o líder do futuro

Entenda a importância desse hábito na gestão e conheça 5 práticas para desenvolver uma boa escuta ativa

É exatamente por ser escassa – e essencial – que pode ser o grande diferencial dos líderes no futuro. (Hinterhaus Productions/Getty Images)

É exatamente por ser escassa – e essencial – que pode ser o grande diferencial dos líderes no futuro. (Hinterhaus Productions/Getty Images)

Publicado em 13 de janeiro de 2025 às 10h02.

No imaginário geral os líderes são sempre vocais. E essa não é uma imagem distorcida. Devem, sim, se posicionar, dar a visão, a direção, dizer o que pensam e sobre o que discordam. Mas tão importante quanto falar é saber ouvir. A famosa escuta ativa é uma competência tremendamente subestimada no desenvolvimento das lideranças, seja nas empresas ou na própria academia. É exatamente por ser escassa – e essencial – que pode ser o grande diferencial dos líderes no futuro.

Lideranças na história surgiram frequentemente em ambientes hierarquizados; as corporações herdaram e propagaram o estilo. Assim, foram criadas gerações de colaboradores que esperam sua liderança dar a direção e a meta, sem questionamento ou debate.

Desta forma surgem os CEOs messiânicos, que tudo sabem e têm as respostas para o crescimento. A tomada de decisão é mais rasa, o comprometimento, também. O problema se torna maior porque a cultura brasileira não é de discordar do chefe. Quanto mais você cresce na carreira menos as pessoas te falarão a verdade, mais filtros a empresa criará e menos informado você será. Por isso, ouvidos abertos são a única saída.

Você já contou quantas horas da semana gasta ouvindo versus falando? Já observou quantas das suas ideias foram modificadas, melhoradas ou descartadas após passá-las pelos ouvidos de outra pessoa? O quanto do resultado de cada reunião vem majoritariamente apenas pela ideia ser compartilhada com os demais? O resultado é reflexo de um debate em que pensamentos foram sendo enriquecidos com diversas opiniões? São todos sintomas de um hábito bem, ou nada desenvolvido, de escutar de verdade, ainda mais pelos executivos C-Levels da companhia.

Com o passar dos anos, criei hábitos para ouvir mais e melhorar a tomada de decisão. Aprendi muitos deles lendo sobre liderança, observando ou testando no dia a dia. Nesse ponto tenho a vantagem de ser introvertido, pois pessoas introvertidas tendem a escutar primeiro, processar e depois contribuir. Extrovertidos se energizam com o ambiente externo e ficam mais tentados a falar primeiro.

Mas as preferências não impedem que ninguém desenvolva essa competência. Confira a seguir 5 ações para colocar em prática e desenvolver uma boa escuta ativa:

  • Fale por último.

Se você é a pessoa de maior hierarquia na sala, segure suas ideias e contribuições e fale por último. Estimule que os demais expressem suas opiniões primeiro, explore as ideias deles sem julgamento, faça o grupo debater sem dar a sua opinião. Se você falar primeiro, há uma boa chance de te seguirem, pois são poucos os que discordam do chefe.

  • Ouça a organização um a um, para além dos seus diretos.

Eu tenho conversas um a um, três vezes ao ano, com cerca de 60 pessoas da organização. A grande maioria não se reporta diretamente a mim. São quase 200 reuniões individuais de 30 minutos cada. São 200 chances de ouvir o que a organização tem a dizer sobre estratégia, execução, produtividade, cultura, desenvolvimento de habilidades. Mas atenção: não é para passar por cima do gestor imediato daquela pessoa, pois caso surja um tema sensível, é ele quem deve entrar em ação.

  • Ouça os novos de casa.

A cada mês, tenho uma reunião para ouvir o que aqueles que estão fazendo três meses de empresa têm a dizer sobre a casa nova. Sim, eles estão em lua de mel, mas não os subestime. Neste período já conseguem dizer o que tinham na empresa antiga e o que não encontraram no novo local.

  • Se a decisão é crítica, circule a ideia primeiro.

São raras as tomadas de decisão da alta liderança que não permitem tempo algum para consulta. Qualquer decisão de impacto que eu tenha a fazer, busco ouvir primeiro aqueles da minha confiança. Ouça especialistas, os mais experientes, os que te conhecem bem, seu cônjuge, e, se possível, os que serão impactados em primeiro lugar. Pode retardar a implementação, mas na maioria das vezes a assertividade é mais importante do que a velocidade.

  • Identifique quem é bom de feedback e cultive-os.

Em toda empresa tem gente que é mais aberta a dar feedback para os líderes da organização. São profissionais que têm um “mindset” menos hierárquico, que se sentem à vontade para falar o que pensam, quase sem filtros. Identifique-os e tenha-os por perto. Da mesma forma, mantenha os bajuladores distantes da tomada de decisão.

E, é claro, quando estiver de frente com quem está ali para compartilhar uma aflição, problema, descoberta, dúvida, choro, hipótese, denúncia... ouça. Esteja realmente atento. A prioridade é ouvir, mesmo que ao final você não tenha nada para falar. Afinal, primeiro é sobre o sentimento do outro, a necessidade de ser ouvido, e, só depois, as suas vontades e ideias.

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