Colunista
Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 15h52.
O Brasil tem experimentado uma transformação significativa em diversos aspectos socioeconômicos nos últimos anos, e um dos temas mais debatidos nas empresas e no setor público é a integração de práticas de sustentabilidade e governança corporativa (ESG – Ambiental, Social e Governança).
À medida que o mundo caminha para uma maior conscientização sobre as questões ambientais e sociais, as empresas brasileiras, especialmente as que atuam no mercado internacional, têm sido pressionadas a adotar estratégias mais transparentes e responsáveis.
No entanto, o cenário global continua a ser influenciado por eventos políticos importantes, como a eleição do governo nos Estados Unidos, com o retorno de Donald Trump à presidência, que pode alterar as dinâmicas comerciais e políticas, incluindo aquelas relacionadas à sustentabilidade e governança.
No Brasil, o tema ESG se consolidou como uma das principais bandeiras de empresas que buscam alinhar seus negócios às exigências do mercado global e à crescente demanda de consumidores por práticas empresariais responsáveis. O país, com seu vasto patrimônio natural, se vê na linha de frente das discussões ambientais, tanto para proteger sua biodiversidade quanto para combater o desmatamento na Amazônia, um dos maiores focos de atenção internacional.
Empresas brasileiras estão começando a perceber que adotar políticas sustentáveis não é apenas uma resposta a pressões externas, mas também uma estratégia inteligente para agregar valor e garantir sua longevidade. A governança corporativa no Brasil também tem evoluído, com a melhoria da transparência nas práticas empresariais e a implementação de medidas para prevenir a corrupção e promover a responsabilidade social.
Contudo, os desafios persistem, especialmente em um cenário de instabilidade política e econômica interna, que pode afetar a confiança de investidores e stakeholders.
Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, as empresas brasileiras e seus líderes precisam estar atentos às mudanças que podem ocorrer na política externa e nos acordos comerciais.
Durante seu primeiro mandato, Trump adotou uma postura frequentemente contrária aos esforços globais de sustentabilidade. Ele se retirou do Acordo de Paris, enfraqueceu as regulamentações ambientais e, muitas vezes, promoveu uma agenda econômica focada no curto prazo, com pouco foco nas questões ambientais.
A tendência é que as políticas mais protecionistas e com foco na expansão da indústria de combustíveis fósseis sejam retomadas. Isso pode afetar diretamente as empresas brasileiras, especialmente aquelas que dependem de exportações para os Estados Unidos ou de acordos bilaterais.
A pressão sobre o Brasil para manter compromissos ambientais e melhorar a governança pode diminuir, já que a administração Trump tende a relativizar tais demandas. No entanto, esse cenário não deve ser visto como uma licença para negligenciar a sustentabilidade.
Mesmo diante de um possível retrocesso nas políticas internacionais de sustentabilidade, como o esperado com um governo Trump, o Brasil não pode abrir mão de seus compromissos em relação ao ESG. As empresas brasileiras precisam entender que a pressão por práticas responsáveis não virá apenas de governos estrangeiros, mas também de consumidores, investidores e organismos internacionais que priorizam questões ambientais e sociais.
Além disso, a sustentabilidade pode ser um diferencial competitivo no longo prazo. Com o crescente interesse por investimentos ESG, as empresas que não se adaptarem a essas exigências correm o risco de ficar para trás. As iniciativas de redução de carbono, proteção de florestas e práticas de governança transparentes são cada vez mais um critério para o fluxo de capital internacional.
Por outro lado, o Brasil, sob o impacto de um novo governo Trump, pode encontrar oportunidades ao se posicionar como líder no debate sobre a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. O país tem os recursos naturais necessários para se tornar uma referência global em energias renováveis, agricultura sustentável e práticas de negócios responsáveis.
Em um mundo onde as empresas e governos estão cada vez mais exigindo ações concretas para combater as mudanças climáticas e promover o desenvolvimento social, o Brasil tem uma oportunidade ímpar de se destacar.
O novo governo Trump pode influenciar o ambiente econômico e político global, mas isso não deve ser um obstáculo para que as empresas brasileiras busquem inovação e soluções sustentáveis. A governança corporativa e a sustentabilidade não são apenas questões éticas ou políticas, mas são cada vez mais essenciais para garantir a competitividade, o acesso a mercados internacionais e a atração de investimentos.
O Brasil deve seguir na trajetória de fortalecer suas práticas de ESG, demonstrando ao mundo que, independentemente das mudanças políticas em outras partes do planeta, o país está comprometido com um futuro mais verde, transparente e justo.
Nesse sentido, o alinhamento com as tendências globais de sustentabilidade e boa governança será o diferencial para o Brasil continuar se destacando no cenário internacional, independentemente das oscilações políticas externas.