A questão-chave é que, em investimentos, estamos sempre lidando com informações incompletas e com diferentes perspectivas (Reprodução/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 16 de julho de 2022 às 14h47.
Tenho 15 anos de análise de investimentos nas costas. É tempo mais do que suficiente para dizer o seguinte com bastante propriedade: nunca siga cegamente a ninguém.
Durante a maior parte de minha trajetória profissional, trabalhei assessorando investidores institucionais. Meus clientes eram, basicamente, gestores e analistas de fundos de investimento. Aliás, foi nesse contexto que tive o privilégio de conviver com algumas das pessoas mais brilhantes que já conheci.
Meu dia-a-dia consistia, basicamente, em caçar ideias de investimento e, ao apresentá-las para meus clientes, ser quase literalmente metralhado. Cada reunião era uma sabatina na qual meus argumentos eram impiedosamente dissecados; onde cada tese era testada pelos mais diversos ângulos.
E não tenho a menor vergonha de dizer que, não raro, saía dessas reuniões convencido de que, no final das contas, eu não sabia coisa nenhuma. É preciso resiliência de sobra para lidar com isso.
E veja bem: isto não era sinal de que meu trabalho era mal feito. Nunca foi. A questão-chave é que, em investimentos, estamos sempre lidando com informações incompletas e com diferentes perspectivas. Investir é, em alguma medida, um exercício de futurologia; sempre pode haver alguma nuance que ignoramos ou subestimamos.
E é exatamente por ter perfeita consciência de que minha experiência não me fez infalível que olho com preocupação para a postura da maioria dos investidores pessoa física diante de analistas e, ainda pior, influenciadores de investimentos.
Já faz algum tempo que venho realizando trabalhos de consultorias individual. E, nessas interações, um padrão muito comum se estabeleceu: quando vejo no portfólio alguma ação incomum e pergunto qual o racional por trás da posição, a resposta é foi dica de Fulano.
A pergunta seguinte é óbvia: OK, mas qual é o racional?
Não sei.
Por favor, não.
Acho extremamente proveitoso ouvir a todos. Ouvir os argumentos, pesá-los, compará-los… mas seguir cegamente a quem quer que seja é de uma irresponsabilidade sem fim.
Ouça a todos. Mas corte o baralho você mesmo(a),
E pior: irresponsabilidade para com seu próprio dinheiro; seu suado dinheiro.
“Mas Ricardo, eu não tenho tempo”.
Acho um argumento justo e legítimo. E vou além: a depender do tamanho da sua carteira de investimentos, o que mais faz sentido é que você aloque a maior parcela possível do seu tempo não na gestão dela, mas sim no seu trabalho – até certo patamar de acumulação de patrimônio, seu capital humano é seu maior ativo. E, portanto, é o capital do qual você mais deve se ocupar mesmo.
Mas nesse caso, terceirize a gestão de seu capital financeiro da maneira correta: invista via fundos. Contrate a expertise de um gestor e de sua equipe de análise. Eles se encarregarão de metralhar analistas por você – e confie em mim: eles são muito bons nisso.
O que não faz sentido – em bom português, é a verdadeira economia burra – é simplesmente fazer o que alguém lhe diz para fazer sem saber ao certo o porquê. Em alguns casos, tanto pior: os motivos sequer são apresentados, pois a premissa já é de que a turma não pensa por conta própria; apenas obedece.
O risco de você se tornar massa de manobra a serviço de interesses que não são os seus é gigantesco.
E as razões para isso são simples: os incentivos são completamente desalinhados. À medida que o resultado da recomendação impacta o seu patrimônio muito mais do que o de seu guru, o mínimo que você deveria exigir são evidências de que a lição de casa dele foi bem feita.
Isso para nem entrar no mérito da eterna possibilidade de motivações escusas de “recomendações”. Aí o buraco é mais embaixo.
E não: o propósito deste artigo não é alimentar a narrativa de que todo mundo tem más intenções. Longe disso.
O que defendo é que você cobre o mínimo de quem segue ao invés de obedecer passivamente.
É o seu dinheiro. Que, provavelmente, você se esforçou muito para fazer. Trate-o com o respeito que ele merece.
*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional.
Twitter: @_rschweitzer; Instagram: @ricardoschweitzer