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Renda fixa – modo de usar

Quando o seu objetivo é construir uma reserva para gastos de curto prazo e imprevistos, tudo o que você precisa é proteger o valor do seu dinheiro e garantir a sua liquidez

Sigrid Guimarães: O verdadeiro desafio de quem investe um patrimônio pessoal é saber como manter o padrão de vida presente e, ao mesmo tempo, preservá-lo (Divulgação/Divulgação)

Karla Mamona

Publicado em 6 de agosto de 2022 às 08h14.

*Sigrid Guimarães

O fato é: hoje, em quase todo o mundo, a necessidade de conter a inflação tem comandado a alta dos juros. No Brasil, apesar do bom resultado em julho, o Ibovespa ainda acumula queda de 1,58% desde o início de 2022. Enquanto isso, a taxa básica de juros (Selic) chegou a 13,75%, e muita gente crê que a renda fixa seja solução para todos os problemas – e esse é o problema.

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Quando o seu objetivo é construir uma reserva para gastos de curto prazo e imprevistos, tudo o que você precisa é proteger o valor do seu dinheiro e garantir a sua liquidez. Nesse caso, não há nada mais adequado do que uma carteira de títulos bem selecionados, com alta liquidez e prazo conveniente para suas despesas. Não vai resolver seu futuro, mas dará tranquilidade ao presente, e esse é o benefício da renda fixa.

No entanto, em um cenário de juros altos, é fácil ser convencido de que a renda fixa seria um meio adequado de rentabilizar seu patrimônio. É aí que mora o perigo. O verdadeiro desafio de quem investe um patrimônio pessoal é saber como manter o padrão de vida presente e, ao mesmo tempo, preservá-lo ou, se for possível, incrementá-lo no futuro. Hoje, um investimento atrelado à Selic mal consegue garantir seu padrão de vida, já que a taxa ainda busca compensar a inflação. No longo prazo, a expectativa é, sim, que ela ganhe da inflação, mas por pouco, muito pouco, longe de viabilizar sua aposentadoria.

Essa é a natureza da renda fixa, e é quando somos convencidos de que podemos driblar essa natureza que a coisa começa a ficar perigosa.  Vamos, então, compreender o que é a renda fixa. Na renda fixa pura e simples, o investidor adquire títulos de crédito (semelhantes a contratos de empréstimo), entregando seu dinheiro a alguém que promete devolvê-lo em determinado prazo, acrescido de determinada remuneração. A rentabilidade do investimento não despenca nem dispara, o prazo de recebimento não se prolonga nem encolhe. Vale o escrito, o combinado não oscila e ponto.

Mas, caso você precise do dinheiro antes do vencimento, a coisa muda de figura. Se os mercados estiverem em crise e a capacidade de pagamento do seu devedor não for espetacular ou se a remuneração prevista para o seu título for inferior às expectativas do mercado, você terá que se contentar com uma rentabilidade inferior à contratada ou mesmo negativa. Talvez, simplesmente não haja interessados, e você não tenha outro remédio senão aguardar até o vencimento – sejam quais forem as modalidades de títulos e as operações que se façam com eles, essa é a lógica da renda fixa.

Não por acaso, tenho recebido no escritório investidores abarrotados de títulos de renda fixa. Até há pouco, sentiam-se tranquilos, apenas porque ignoravam o que suas carteiras abrigavam. Agora, andam bastante frustrados com o resultado; uma desagradável combinação de baixa liquidez no curto prazo e baixa rentabilidade no longo.

Uma carteira como essa não é só totalmente inadequada para reservas de curto prazo, é também irrelevante para o incremento do patrimônio, caso seja essa a proposta. Não poderia ser diferente. Pense comigo: por que uma empresa ou um banco em boas condições financeiras toma dinheiro no mercado, senão para usá-lo em um negócio que renderá mais do que os juros a serem pagos pelo empréstimo? Não importa qual seja o negócio específico, você pode estar certo de que, no final das contas, a fonte desses resultados superiores está na economia real, na produção de bens e serviços, no trabalho. Só há dois meios de gerar riqueza: produzindo ou investindo em quem produz, e o caminho mais simples e acessível para essa última alternativa são as ações.

Por essa simples razão, propostas para “aproveitar o momento” e auferir lucros extraordinários concentrando investimentos em renda fixa não têm como fazer sentido, especialmente quando aplicadas à gestão de longo prazo. Por sua natureza, a longo prazo, a renda fixa sempre será menos rentável do que a economia real. Tentar driblar esse fato concreto só eleva o risco de perda e consome energia e recursos na tentativa de transformar ferro em ouro.

Agora, se você dispõe de um colchão de liquidez, alocado em renda fixa e suficiente para cobrir as suas necessidades pelos próximos três ou quatro anos, e deseja valorizar o seu patrimônio a longo prazo, o caminho é construir, junto com gestores experientes, uma carteira de multimercados e ações diversificada e acompanhar com atenção.

*Sigrid Guimarães é sócia e CEO da Alocc Gestão Patrimonial

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