Roberto Lee: CEO da Avenue afirma que o brasileiro não abre conta fora só para comprar ações da Apple (Avenues/Divulgação)
Publicado em 11 de novembro de 2023 às 07h52.
Última atualização em 11 de novembro de 2023 às 09h45.
Para investimentos ou preservação de capital, mandar dinheiro para fora tem se tornado cada vez mais comum entre os brasileiros. Dados do Banco Central mostram que as posições de brasileiros no exterior têm crescido significativamente nos últimos anos. No fim do segundo trimestre, esse montante era de R$ 505 bilhões. A Avenue é uma das empresas que tem facilitado o acesso dos investidores locais ao maior mercado do mundo. Em 2017, ainda antes da criação da corretora, os investimentos de brasileiros no exterior eram 21% menores. A corretora hoje tem 3 bilhões de dólares sob gestão e 800 mil clientes.
Com cinco anos desde sua criação, a Avenue tem notado uma evolução na forma como o brasileiro acessa o mercado internacional. "O brasileiro não abre conta fora só para comprar ações da Apple", afirmou Roberto Lee, CEO da Avenue, em entrevista exclusiva à EXAME Invest.
A percepção sobre a importância de reservar parte dos recursos fora do país, segundo Lee, tem mudado gradativamente. "Era muito comum o cliente abrir uma conta para comprar ações de empresas de tecnologia listadas nos Estados Unidos. Hoje, a demanda está muito mais associada à busca por proteção. Há muito menos volatilidade no dólar do que no real. O real é volátil, não o dólar."
O CEO da Avenue afirma ainda que existia uma visão protecionista de parte do mercado sobre enviar dinheiro ao exterior. " Tem gente do mercado financeiro que é super liberal, mas quando ouve sobre abertura de fronteira argumenta que não podemos 'exportar a poupança nacional'. E de fato, pode ter um problema porque se o dinheiro vai para um banco estrangeiro, o país perde estatística e não consegue proteger o dinheiro fora." Entretanto, ele afirma que o que ele defende é diferente. É sobre a expansão de serviços feitos no Brasil para fora do país. Para Lee, este é o futuro que a indústria do setor financeiro está caminhando.
A opção por alternativas mais conservadoras tem aumentado o espaço de títulos nos portfólios brasileiros no exterior. No caso da corretora, a renda fixa representa mais de 20% da custódia da Avenue. Mas esse movimento não deve parar por aí. Para Lee, é apenas uma questão de tempo até que todos os principais bancos do Brasil passem a oferecer a possibilidade de reservar uma parte do dinheiro em dólar.
"Ao longo dos próximos cinco anos, será uma realidade ter todas as contas indexadas ao mercado internacional", disse Lee. A previsão do executivo é de que esse fenômeno promoverá um mar de oportunidades para os brasileiros para além das fronteiras do país. "Quem fala em inglês, fala com pessoas do mundo inteiro. Em dólar, você faz negócio com o mundo inteiro. Isso tem o potencial de criar incontáveis oportunidades."
É proibido manter dinheiro em dólar no Brasil. Mas nada impede que uma instituição brasileira mantenha os recursos de seus clientes em dólar, desde que o dinheiro esteja no exterior. "Bancos e corretoras já têm operações no exterior há décadas. Mas o cliente era ou do Brasil ou dos Estados Unidos. Ele passará a ser um cliente conjunto, transnacional. Há uma diferença entre ser fácil e ser natural", comentou Lee.
A expectativa de recessão dos Estados Unidos não deve limitar a internacionalização esperada pelo executivo. Lee acredita que um cenário adverso deve trazer mais oportunidade para o investidor. "O brasileiro é meio rentista. Uma possível recessão teria mais impacto em renda variável do que renda fixa. Então, há uma busca por proteção e rebalanceamento. Isso já está acontecendo." Ele acrescenta que diante desse cenário, as pessoas buscam mais ativos de baixa volatilidade.
Esse caminho até naturalidade já foi iniciado. Os clientes do Itaú, por exemplo, já têm acesso a conta e a cartões de débito em dólar por meio da Avenue, recentemente adquirida por R$ 493 milhões. Mas ainda há uma longa estrada pela frente, disse o executivo.
"Todas as contas do Brasil terão o componente off-shore. Mas ainda estamos em uma fase inicial. As pessoas não veem muita utilidade na conta em dólar, além de seu uso em viagens para o exterior. A evolução dessa parte da indústria avança para serviços financeiros de uma forma mais ampla. As relações financeiras irão ampliar, passarão a falar em real e em dólar. As pessoas vão poder pagar e receber dólar por serviços prestados para o exterior, mesmo morando no Brasil."
Essa demanda, disse Lee, deverá abrir oportunidades especialmente para o setor financeiro brasileiro. "Vai ser muito mais natural um banco brasileiro dar crédito para um brasileiro no exterior do que um banco estrangeiro, que não conhece o contexto do Brasil."
Lee contou que, diferentemente do mundo dos investimentos, há pouca regulação sobre o sistema bancário internacional. Isso, afirmou, deverá levar a uma "proliferação enorme de contas globais". Essa maior interação com a economia internacional, segundo ele, deverá exigir uma infraestrutura mais robusta por parte das instituições financeiras. "Essa deverá ser o próximo passo."