Uma nova forma de gestão de patrimônio
Com a tecnologia, surgiram ferramentas e oportunidades de investimentos inéditas para que o assessor se dedique mais ao planejamento e às demandas do cliente
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2022 às 12h02.
Última atualização em 30 de maio de 2022 às 14h47.
*Por Karina Saade
Com a tecnologia, surgiram ferramentas e oportunidades de investimentos inéditas para que o assessor se dedique mais ao planejamento e às demandas do cliente.
Não é novidade que a pandemia de covid-19 acelerou a digitalização dos negócios. Mudaram as formas como trabalhamos e consumimos. Com os investimentos não poderia ser diferente. Surgiram canais inéditos, acessíveis a um grande número de pessoas e fáceis de usar, e oportunidades pouco conhecidas agora estão disponíveis para um público cada vez maior. Um novo perfil de investidor emergiu, mais jovem e digitalmente apto, assim como demandas originais em termos de objetivos de investimentos, customização e diversificação.
A faixa etária de 26 a 35 anos, por exemplo, reúne o maior número de investidores hoje na B3, segundo dados divulgados em maio de 2022 pela instituição. A bolsa brasileira informa que em 2021 houve um aumento de 56% no total de usuários pessoas físicas em relação a 2020. O valor inicial dos investimentos é cada vez menor, o que indica que o mercado está sendo acessado por interessados com diferentes perfis, e cresce a busca por papéis variados, reflexo da diversificação.
Do lado dos gestores de patrimônio, a tecnologia trouxe ganhos de eficiência e escala. Pouco tempo atrás, um assessor de investimento destinava cerca de dois terços de seu tempo para realizar operações, e apenas um terço no relacionamento com clientes antigos e captação de novos. Esta lógica está mudando. Com a digitalização, o assessor tem condições de atender mais investidores, de diferentes faixas de renda, e pode responder melhor aos anseios de cada um.
A cartilha dos gestores daqui para a frente será calcada em três pilares: planejamento, personalização e digitalização. No primeiro quesito, metas de curto prazo dão lugar a objetivos mais amplos, como a compra de uma moradia, o financiamento de um curso no exterior ou até mesmo a segurança da aposentadoria. A liquidez imediata passa a ter menor importância, abrindo as portas para investimentos fora de mercados públicos.
Este movimento promove uma mudança na composição de portfólios. Os chamados “mercados privados” começam a ser adicionados na carteira do investidor médio. São ativos não listados publicamente, como “hedge funds”, “private equities” e crédito privado. Considerados investimentos “alternativos”, representam novas frentes de diversificação e ganham força ao redor do mundo.
No Brasil, tal processo está em fase inicial, mas é possível vislumbrar uma aceleração no futuro próximo. A invasão da Ucrânia e as sanções contra a Rússia, por exemplo, deixam claro que os mercados de ações e de títulos listados estão muito correlacionados ao redor do mundo. Crises geopolíticas geram intensa
volatilidade. Os produtos alternativos podem servir como forma de proteção, diminuindo a correlação dos ativos dentro da carteira.
Oportunidades em mercados privados, antes reservadas a investidores de alta renda, hoje estão disponíveis para um público maior. O gestor de patrimônio pode ajudar seus clientes a acessá-las, gerando maiores possibilidades de retorno em longo prazo com um risco aceitável.
A personalização ganha especial importância na montagem de carteiras também. Ferramentas digitais dão ao assessor maior flexibilidade. Profissional e cliente podem atuar de maneira colaborativa na construção de um portfólio adaptado a necessidades específicas, sejam questões tributárias, riscos jurídicos ou uma reflexão de valores do cliente, como sustentabilidade e responsabilidade social.
A tecnologia dá escala ao negócio e permite que gestores e clientes usem estes blocos já prontos para produzir uma carteira única.
A demanda por digitalização será cada vez maior, mas ela não irá substituir o papel das pessoas na assessoria financeira, pois este é um negócio baseado na confiança entre investidor e profissional. Pelo contrário, a tecnologia libera tempo para o fortalecimento desta relação.
*Karina Saade é head da BlackRock no Brasil