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A visão do Barclays para a bolsa no terceiro trimestre

Banco vê tendência de alta nos mercados emergentes, mas aconselha investidor a embolsar ganhos após ralis

Bovespa: Barclays vê tendência de alta, mas sem ganhos extraordinários (.)

Bovespa: Barclays vê tendência de alta, mas sem ganhos extraordinários (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

O banco britânico Barclays continua otimista com a possibilidade de ganhos em bolsas de países emergentes. No relatório trimestral com as previsões para o período julho-setembro, os analistas Michael Gavin, Piero Ghezzi e Andrea Kiguel afirmam que o valor das ações parece neste momento mais interessante do que estava no final do ano passado e que ficar fora da bolsa implica em retornos “punitivamente baixos” devido aos juros baixos na maioria dos países. O banco, no entanto, acredita que o mercado ainda está muito machucado devido às sucessivas crises desde a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008. Por esse motivo, não é hora de ser muito ganancioso. "Taticamente continuamos otimistas com as bolsas de mercados emergentes. Mas à medida que o rali se materializar da forma como esperamos, aproveitaríamos para reduzir a exposição a ativos de risco na crença de que os desafios de longo prazo [para a economia mundial] justificariam a adoção de uma postura mais cautelosa."

Olhando para a economia mundial de forma geral, há diversos motivos para estar mais otimista sobre os resultados dos mercados emergentes em 2010 e 2011. No segundo trimestre, o banco elevou a previsão de crescimento para a Ásia, a Europa Oriental e a América Latina. Mesmo com o aquecimento econômico, poucos países têm adotado medidas agressivas contra a inflação - uma das exceções é o Brasil. Por isso, o banco acredita em uma recuperação moderada do preço das commodities e na manutenção das taxas de juros baixas ao redor do mundo. A maior fonte de cautela para os investimentos de países em desenvolvimento seria o atual nível de ansiedade dos mercados, que deve levar a recuperações curtas, interrompidas de tempos em tempos por preocupações externas.

O Barclays cita a forte queda das bolsas em maio para sustentar a tese de que é hora de realizar lucros após ralis. O banco admite que não esperava que a crise na Grécia pudesse contagiar os demais países europeus, levando a perdas pesadas nas bolsas. A situação só se resolveu quando a União Europeia e o FMI anunciaram um pacote trilionário de recursos para garantir que não haveria uma moratória no continente. Boa parte das baixas de maio já foram recuperadas, mas a lição a ser tirada do episódio seria de que os investidores ainda estão muito sensíveis a perdas.

O banco não enxerga um perigo iminente para a economia mundial, mas no médio prazo admite que há quatro fatores que podem azedar o humor dos investidores:


1) Bolha imobiliária e de salários na China. As pressões por aumentos salariais têm crescido com o fim da fartura de mão de obra barata no gigante asiático. Para o Barclays, ainda não há motivo para os mercados se preocuparem porque o esgotamento do estoque de mão de obra só é latente nas maiores cidades chinesas. Mesmo os reajustes salariais que já estão sendo concedidos só devem alimentar a inflação ao longo dos próximos anos. Para o banco, o principal risco chinês ainda se concentra nos preços dos imóveis. Depois da forte alta dos últimos anos, o Barclays acredita que as medidas adotadas pelo governo para elevar a oferta de imóveis devem causar uma desvalorização de 20% a 30% nos preços nos próximos trimestres. Se por um lado isso deve ajudar muitos chineses a alcançar o sonho da casa própria, por outro há um claro risco para o sistema financeiro. Nos países desenvolvidos, tamanha desvalorização imobiliária seria suficiente para levar o sistema financeiro à bancarrota. Mas na China, como é o governo quem determina o quanto de crédito os bancos vão liberar e como o país conta com uma fartura de capital após a forte acumulação de reservas nas últimas décadas, o Barclays acredita que a China terá condições de evitar um pouso forçado da economia mesmo quando a bolha imobiliária desinflar.

2) Temor fiscal na Europa. O Barclays acredita que há justificativas para a preocupação com o continente, mas que a chance de países como a Espanha não terem condições de arcar com suas dívidas é pequena. Como o resto do mercado não está tão convencido assim da saúde dos bancos espanhóis, no entanto, o próprio Barclays admite que novos momentos de tensão em relação às dívidas soberanas poderão ser vistos em breve. Todas as principais economias europeias terão de reduzir o endividamento nos próximos anos. Se o ajuste começar a ser feito já, as medidas poderão ser graduais. A menor demanda dos governos poderá ser compensada pelo aumento do investimento privado com a continuidade dos juros baixos. No entanto, a necessidade de conter gastos tornará os países europeus mais suscetíveis a novas crises, já que não poderão ser tomadas medidas anticíclicas em momentos de dificuldade.

3) Riscos para o sistema financeiro. Os investidores ainda não sabem exatamente qual será o tamanho das perdas dos bancos devido à desvalorização dos imóveis no mundo desenvolvido. O mercado parece estar especialmente de olho na Espanha, cujas instituições financeiras também estão expostas ao risco soberano de diversos países bastante endividados da Europa. Ainda existe a expectativa de que vários governos aumentem a regulamentação sobre o setor financeiro, enfraquecendo bancos já combalidos. Na visão do Barclays, entretanto, todos esses riscos são "gerenciáveis".

4) Riscos de endividamento dos países emergentes. Ainda que os países desenvolvidos tenham uma necessidade mais premente de reduzir seus débitos, há países na Ásia e na Europa Oriental que também terão de tomar medidas no médio prazo para que não haja riscos de solvência no futuro. O Brasil ainda aparece em uma situação confortável quando comparado a outras economias. No longo prazo, o Barclays mostrou preocupação com a situação de Índia, Polônia, Letônia, Lituânia, Malásia e Hungria. Esses países terão de crescer - ou continuar a crescer - a taxas elevadas para que cortes de gastos não tenham que ser anunciados nos futuro.


Brasil

A América Latina passa por um momento de tranquilidade. O banco acredita que a região continuará registrando ingresso de investimentos estrangeiros, o que provém "conforto" para investimento em ativos de risco. Após a Copa do Mundo, o mercado deve começar a dar mais atenção à sucessão do presidente Lula. O candidato tucano José Serra tenta se mostrar mais ético e eficiente. A petista Dilma Rousseff representa a continuidade do que tem dado certo. "Não esperamos de nenhum dos dois candidatos mudanças drásticas na política econômica", diz o Barclays. "O diabo são sempre os detalhes. E nós só vamos conhecê-los mais perto das eleições."

Caso o candidato que começar a se destacar nas pesquisas dê sinais de que cortará gastos logo no início de seu governo, o Barclays acredita que nada sairá do controle. Se a sinalização for de que medidas populistas serão tomadas, o banco acha que o dólar poderá caminhar para um patamar mais próximo de 2 reais às vésperas da eleição - ainda assim, algo pouco preocupante. Os resultados do PIB no primeiro trimestre fizeram o Barclays revisar a previsão de crescimento da economia brasileira para este ano de 6,5% para 7,3%. Após a alta insustentável do PIB entre janeiro e março, o banco acha que o ritmo de crescimento começou a diminuir no segundo trimestre. A retirada dos incentivos já reduz a venda de veículos. E a alta dos juros deve começar em breve a frear a demanda por crédito.

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