Aplicativo Caixa: aplicativo para pedido do auxílio de 600 reais tem apresentado erros (Marcelo Casal Jr/Agência Brasil)
Agência O Globo
Publicado em 28 de abril de 2020 às 16h10.
Muitos registros no Cadastro de Pessoa Física (CPF) vêm sendo recusados pela Caixa Econômica Federal no site e no aplicativo criados para inscrição no auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal, oferecido aos trabalhadores informais em função da pandemia do novo coronavírus.
Segundo denúncias recebidas pelo GLOBO, a mensagem de que os CPFs já teriam sido utilizados aparecem tanto para quem tenta pela primeira vez se inscrever para ter o benefício quanto para quem já se cadastrou, mas recebeu a indicação do próprio sistema de que deveria repetir o procedimento.
Este último é o caso de Luciana Dutra, de 47 anos, microempreendedora do ramo de eventos e mãe de duas crianças, de 7 e 14 anos, que não recebem pensão do pai. Quando ela fez o cadastro pela primeira vez, no dia 7, não tinha os CPFs das filhas e não sabia que iria precisar dessa informação.
O pedido ficou em análise por bastante tempo e, no dia 24, segundo ela, apareceu uma mensagem dizendo que deveria refazer o cadastro para informar os CPFs delas.
- Fiz os CPFs pelos Correios e incluí os dados no aplicativo, recebendo o informe de que haviam sido cadastrados com sucesso. Deveria, então, aguardar cinco dias para a análise. Três dias depois, quando resolvi dar uma olhada no andamento, apareceu novamente a mensagem, pedindo para recadastrar. Refiz todo o procedimento, mas dessa vez, quando fui colocar os CPFs das crianças, o informe era de que elas já estavam inclusas em outro grupo familiar — conta Luciana.
A empreendedora lembra que tentou repetir o procedimento outras vezes e, lendo sempre o mesmo aviso, decidiu consultar o andamento do pedido já feito pelo seu CPF. Segundo ela, ao cosultar o sistema, apareceu a informação de que não havia cadastro no seu CPF.
- Ou seja, eliminaram o primeiro cadastro. Comecei de novo, e o (novo) cadastro somente seguiria adiante se eu não colocasse os CPFs das crianças e não marcasse a opção "chefe de família". Tive que marcar a declaração de que não sou chefe de família. Para não ficar sem receber, dessa vez eu fiz o procedimento até o final, sem incluir minhas filhas. Ou seja, precisei abrir mão do direito de receber R$ 1.200 previstos na lei para conseguir receber R$ 600. Creio que o objetivo seja esse — avalia ela.
Por conta das proibições de aglomeração, as festas no Estado do Rio foram canceladas. Sem trabalho, Luciana não tem renda há mais de um mês. E tem contado com a ajuda de amigos e parentes para sustentar as duas filhas, que moram com ela em Teresópolis, na Região Serrana.
O tradutor e revisor de legendas Carlos Eduardo da Silva, de 33 anos, encontrou problema semelhante na ferramenta da Caixa Econômica Federal. Mas a mensagem de que seu CPF já havia sido cadastrado apareceu ainda em sua primeira tentativa.
— Eu baixei o aplicativo, não tinha cadastrado nada antes, mas apareceu essa mensagem. Então, liguei para o 111 (serviço de atendimento ao cliente) e, quando digitei o CPF, ouvi uma mensagem de que eu tinha sido selecionado para receber o benefício. Como assim? Só pode ser uma fraude. Alguém usou meu CPF e cadastrou seu telefone, seus dados
O morador de Bonsucesso complementa:
— Não consigo também consultar no aplicativo o registro do meu CPF, pois não tenho uma senha. Eu não cheguei a cadastrar meu celular para receber o código que pedem, pois fui impedido antes dessa etapa.
Nas redes sociais, muitas outras pessoas reclamam da mesma situação. Procurada, a Caixa Econômica Federal não enviou posicionamento sobre o problema até o fechamento desta reportagem.