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Títulos públicos têm valorização de até 96% em um ano: hora de vender?

Queda de juros fez preço de alguns títulos disparar, mas ganhos só valem para quem resgatar antes da validade. Vale a pena?

Tesouro: Títulos com prazos mais longos são soque mais se valorizam com a queda de juros (Artisteer/Getty Images)

Tesouro: Títulos com prazos mais longos são soque mais se valorizam com a queda de juros (Artisteer/Getty Images)

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Juliana Elias

Publicado em 30 de setembro de 2019 às 05h03.

Última atualização em 30 de setembro de 2019 às 05h03.

São Paulo - Quem comprou títulos do Tesouro Direto nos últimos anos pode estar sentado sobre uma pequena fortuna sem saber. Isso acontece porque, do ano passado para cá, com a queda nos juros pagos pelo Tesouro, os títulos mais antigos e com juros mais altos passaram a valer mais.

No caso mais extremo deles – o do Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045 – essa alta chega a 96,4% em 12 meses, considerados os preços em 26 de setembro. O Ibovespa, por exemplo, principal índice da Bolsa brasileira, subiu “apenas” 33% no mesmo período, mesmo batendo recordes sucessivos de lá para cá.

Tipo do títuloVencimentoEm 12 mesesÚlimos 30 dias
IPCA+15/05/204596,4%0,89%
IPCA+15/05/203556,3%0,70%
IPCA+ com Juros Semestrais15/08/205052,8%0,56%
IPCA+ com Juros Semestrais15/05/204547,5%0,54%
Prefixado com Juros Semestrais01/01/202942,2%1,12%
Prefixado01/01/202541,6%1,31%
IPCA+ com Juros Semestrais15/05/203538,5%0,81%
Prefixado com Juros Semestrais01/01/202737,8%1,29%
Prefixado com Juros Semestrais01/01/202531,5%1,20%
IGPM+ com Juros Semestrais01/01/203130,7%0,50%
Prefixado01/01/202328,5%1,37%
IPCA+ com Juros Semestrais15/08/202626,7%1,14%
IPCA+15/08/202426,0%1,19%
Prefixado com Juros Semestrais01/01/202324,1%1,29%
IPCA+ com Juros Semestrais15/08/202422,7%1,18%
Prefixado01/01/202115,5%0,90%
Prefixado com Juros Semestrais01/01/202114,3%0,90%
IGPM+ com Juros Semestrais01/04/202112,7%0,70%
IPCA+ com Juros Semestrais15/08/20209,3%0,65%
Prefixado01/01/20209,2%0,53%
Selic01/03/20216,3%0,50%
Selic01/03/20236,3%0,48%
Prefixado01/01/2022-1,22%
Selic01/03/2025-0,46%

 

O dilema é: essas valorizações monumentais nos títulos públicos valem apenas para quem se desfizer deles agora, antes da data de vencimento original. É a chamada marcação a mercado dos títulos. Resgatá-los antes do vencimento significa aceitar este preço do momento em troca de perder os juros gordos de remuneração que já estavam contratados pelos anos seguintes. É uma troca que vale a pena?

De acordo com corretoras consultadas pela EXAME, embolsar agora o lucro repentino pode valer em algumas situações específicas, de quem tem planos de usar o dinheiro em breve (como para comprar um carro ou casa) ou quer aproveitar para diversificar e turbinar os ganhos no curto prazo. Já para os investidores conservadores e que têm objetivos de longo prazo, como a aposentadoria ou um investimento para os filhos, a indicação é resistir à tentação e seguir com o título nas mãos.

“Se a pessoa vender, ela não vai mais encontrar outro título com os mesmos juros para comprar por um bom tempo”, disse Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest. "Para os planos de longo prazo, resgatar para reinvestir não faz sentido."

Um exemplo: quem comprou em setembro do ano passado aquele título IPCA+ para 2045 contratou juros de quase 6% ao ano, mais a inflação. Daqui até 2045, isso representa mais de 320% de lucro (ou multiplicar o dinheio por mais de quatro), já descontada a inflação. Para quem comprar hoje o mesmo título (IPCA+ 2045), os juros estão em 3,4%, quase a metade dos rendimentos anteriores.

Como funciona a oscilação nos preços dos títulos

Os títulos públicos são um investimento de renda fixa e os rendimentos a serem pagos para quem segura o papel até o vencimento, sejam pré ou pós-fixados, não mudam. Só quem resgata antes do vencimento fica sujeito ao preço de mercado. Esses preços variam diariamente e podem estar tanto maiores quanto menores do que o valor original.

No geral, a regra é a mesma: se os juros daquele título sobem, o preço dele cai; se o juro cai, o preço sobe. Essa oscilação acontece por causa de um simples reajuste matemático no preço do título em relação à mudança dos seus juros.

Um exemplo: se eu comprei 1.000 reais em um papel prefixado que paga 10% e vence daqui a um ano, eu tenho que receber 1.100 reais no vencimento (1.000 reais mais os 10% de juros). Se, nesse meio tempo, o juro cai de 10% para 5%, passam a ser necessários 1.048 reais, hoje, para chegar aos mesmos 1.100 reais ao final (1.048 mais 52, dos 5% de juros). Daí a mudança no valor presente dele.

O Tesouro remarca os juros de seus papéis várias vezes ao dia de acordo com as expectativas do mercado para os juros e a inflação no futuro. No geral, eles tendem a acompanhar as tendências de alta ou de baixa da taxa básica de juros do país, a Selic.

Tesouro Selic é a exceção

Essas regras valem para todos os títulos que têm juros prefixados, ou seja, pré-definidos em parte ou a totalidade de sua remuneração. A única exceção é o Tesouro Selic, que é o único pós-fixado e, por isso, não sofre a marcação de mercado. Os juros pagos por ele remuneram exatamente a taxa Selic, e seu rendimento, a qualquer momento, é sempre proporcional ao que a Selic subiu até ali, mesmo se resgatado antes do vencimento.

Todas essas variações de juros e taxas podem ser checadas na página do Tesouro Direto. É também este valor de mercado que aparece no saldo do banco ou da corretora para quem já possui títulos. No site do Tesouro também é possível ver quais são os títulos ofertados e como funciona cada um.

Se eu vender agora, invisto em que?

O resgate antecipado pode ser uma boa estratégia para quem não tem planos de longo prazo definidos para aquele dinheiro aplicado e pensa mais em usá-lo em um horizonte menor, de até cinco anos mais ou menos. Pode ser uma pessoa que já pretendia comprar um carro ou uma casa em breve ou simplesmente prefere turbinar os ganhos em um horizonte mais curto.

“Se falta pouco tempo para pagar minha viagem ou minha casa, pode valer fazer o resgate antecipado e colocar o dinheiro em uma opção menos volátil até lá, como o Tesouro Selic”, disse Macedo, da Easynvest.

Resgatar um pedaço e colocar na bolsa de valores é também uma opção para os mais arrojados. “São as empresas e a bolsa que ganham em um cenário de juros mais baixos, porque fica mais barato investir”, disse Dex, da XP.

Ele lembra que não é preciso resgatar tudo. Como os títulos podem ser comprados e vendidos em pequenas frações de até 30 reais, uma boa estratégia é vender um pedaço do que tem, como 10% ou 30%, para diversificar na bolsa ou mesmo em outros tipos de títulos. “Mesmo dentro do Tesouro, o ideal é sempre ter um portfolio com tipos e vencimentos diferentes”, diz.

Vale lembrar que os títulos que tiveram as maiores valorizações foram aqueles com prazos longos, de 2030 para frente. Títulos com vencimentos mais curtos, ou com pagamentos de juros semestrais, tiveram valorizações menores.

Quero entrar agora para ganhar com o resgate antecipado. Vale?

Quem comprar, hoje, títulos públicos para especular no mercado do resgate antecipado pode ter ainda alguma valorização nos próximos meses, dado que a expectativa é de mais um pouco de queda na Selic. Hoje ela está em 5,5% ao ano e as projeções de mercado indicam que ainda deve chegar a algo próximo de 4,5% até ano que vem.

É, entretanto, uma variação muito pequena perto do que se viu nos últimos anos, quando a Selic saiu de um pico de 14,25% em 2016 para os atuais 5,5%, sua mínima histórica. É por isso que, de acordo com os especialistas, a janela das grandes valorizações já passou.

Os títulos de validade longa e sem pagamento de juros semestrais são os que mais oscilam quando há uma mudança na marcação de juros do Tesouro.

Vale lembrar, entretanto, que este é um mercado que lida com a expectativa futura para a Selic, e não com a Selic atual em si. Essas expectativas podem mudar conforme o andamento da economia e a valorização esperada pode não vir, mesmo que a Selic ainda passe por novos cortes nos próximos meses.

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