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Saiba como investir no ouro para se proteger da crise

Metal acumula alta de quase 20% nos últimos 12 meses, enquanto a bolsa despencou 18%

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

À medida que comprar ações torna-se tão arriscado quanto apostar sua aposentadoria em um jogo de dados, os investidores começam a buscar aplicações mais seguras. Uma das mais tradicionais, em tempos de crise, é investir em ouro. Nos últimos 12 meses, o ouro não decepcionou e acumulou uma alta de quase 20%, liderando o ranking dos investimentos. No mesmo período, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) encolheu 18% - veja quadro abaixo. "Em todos os momentos de turbulência, há um deslocamento dos investidores para ativos reais, como o ouro", afirma Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros.

O movimento na Souza Barros dá uma idéia de como o metal está ganhando destaque nos últimos tempos. Há cerca de dois meses, a corretora fechava menos de cinco negócios por dia, envolvendo 30 contratos - uma média de seis contratos (equivalente a lotes-padrão de ouro) por negócio. Na última sexta-feira (3/10), quando o humor do mercado já estava azedo com o agravamento da crise americana, o volume dobrou: foram dez negócios, envolvendo 93 contratos. "Se a crise continuar a piorar, a perspectiva de rentabilidade com o ouro aumenta", diz Vieira.

AplicaçãoRentabilidade (%)*
Ouro
19,4
Renda Fixa**
11,82
Fundos DI**
11,34
Fundos de Previdência Conservadores**
11,05
Poupança**
7,48
Dólar**
7,2
Fundos de Previdência de Risco Moderado**
-1,45
Ibovespa
-18
*Acumulada nos últimos 12 meses
**Em média
Fonte: Revista Veja

O ouro, que passou para o imaginário popular como o símbolo de riqueza e ostentação dos reis, é mais acessível ao investidor do que se pode supor. Há aplicações em ouro para todos os bolsos. Os pequenos investidores podem começar com cerca de 60 reais, operando no mercado de balcão. Para os mais sofisticados, há contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que exigem um investimento mínimo superior a 10.000 reais.

Passo-a-passo

Há duas formas de comprar ouro: no mercado de balcão ou na BM&F. Para investir em ouro na bolsa, a primeira medida é abrir uma conta em uma corretora de valores. Uma vez cadastrado, o investidor requisita a compra do metal por meio da corretora. Na BM&F, os contratos são negociados em lotes-padrão de 250 gramas de ouro. Não é possível comprar, por exemplo, 100 gramas de ouro. O aplicador só pode adquirir lotes inteiros - um lote (250 gramas), dois lotes (500 gramas), três (750 gramas) e assim por diante.

Por isso, quem optar por operar na BM&F deve estar preparado para desembolsos elevados. Pelo preço de fechamento do ouro nesta segunda-feira (6/10), 58,3 reais por grama, um lote padrão sairia a 14.575 reais. Este seria o mínimo que alguém desembolsaria para iniciar sua carteira.

A partir da compra, o investidor tem duas opções. A primeira é deixar seu ouro guardado na BM&F ou em algum banco cadastrado pela bolsa para tanto. Quem guarda o ouro é chamado de custodiante, e cobra uma taxa por isso - a taxa de custódia, que é bastante familiar para quem já investe em ações. Além disso, ao adquirir o metal, o investidor também contrata um seguro - afinal de contas, em um caso extremo, alguém pode roubar o banco e, por tabela, o ouro ali depositado. A custódia e o seguro saem por um total de 7 reais a 10 reais por lote-padrão. A outra opção é receber fisicamente o ouro - isto é, literalmente pegar as barras. Nesse caso, o principal inconveniente é a segurança. Alguém saindo de um banco com duas ou três barras de ouro está tão ou mais sujeito a ser assaltado do que uma pessoa que sacou algumas notas de real no caixa automático. Deixar o ouro no cofre de casa também expõe o investidor ao mesmo risco de ser assaltado e ver suas jóias e outros bens levados.

O outro custo envolvido na compra de ouro é o pagamento pelos serviços da corretora. Ao dar a ordem de compra, o investidor deve desembolsar de 0,5% a 0,8% do valor total envolvido na transação, de acordo com a corretora. Essa porcentagem envolve a taxa de corretagem, emolumentos e outros custos da instituição. Assim, no total, quem comprasse 250 gramas de ouro nesta segunda, ao preço de 14.575 reais, desembolsaria também até 126 reais, entre o seguro, taxa de custódia e taxas da corretora, ou 0,87% do investimento.

Venda e impostos

Para vender o metal, o investidor passará por uma de duas situações. A mais complicada é ele ter recebido fisicamente as barras. Neste caso, para voltar a vender o metal na BM&F, precisará primeiro contratar uma empresa especializada em certificar a qualidade e a autenticidade do metal, a fim de evitar fraudes. O preço não é baixo. Na média, esses especialistas cobram 2% do valor envolvido. Com o certificado de autenticidade, procura sua corretora, dá a ordem de venda e, uma vez fechado o negócio, entrega o metal em algum banco combinado.

Se o ouro ficou todo o tempo sob custódia da BM&F ou de alguma instituição, o caminho é mais simples. Basta ligar para a corretora e mandar vendê-lo. Em qualquer situação, haverá o custo da corretora - novamente, os 0,5% a 0,8% do valor total. O investidor recebe pela venda no dia seguinte ao fechamento da operação. No jargão do mercado financeiro, isso significa que a liquidação é feita em D+1.

O único imposto pago por quem investir em ouro é o Imposto de Renda. A alíquota é de 15% sobre o lucro da operação. Ao contrário de algumas aplicações, em que a própria corretora já deposita o dinheiro na conta do investidor líquida de impostos, no caso do ouro cabe à pessoa a tarefa de declará-lo.

Pequenos investidores

Mas não é necessário ter milhares de reais para incorporar o ouro ao seu repertório de investimentos. Também é possui aplicar no metal no chamado mercado de balcão. Nesse mercado, é possível investir em qualquer quantidade de ouro - até mesmo em um grama. Esse mercado é formado por corretoras especializadas em negociar o metal. A vantagem é justamente a flexibilidade de adequar o investimento ao tamanho do bolso do aplicador. Isso significa que, com menos de 60 reais (o custo de um grama), já é possível entrar no jogo. Pelas regras do Banco Central, para evitar lavagem de dinheiro, só é possível comprar até 10.000 reais em dinheiro. Acima disso, somente por depósito bancário.

"Notamos um crescimento por parte dos investidores. Muitos estão trocando a bolsa pelo ouro", afirma Mauriciano Cavalcante, operador de mercado da Ourominas, corretora especializada em negociar o metal e que atua tanto no mercado de balcão quanto com contratos da BM&F.

Comprar ouro no balcão é como comprar dólar na casa de câmbio: não há uma taxa de corretagem. O lucro da corretora vem do spread entre o preço que ela paga pelo metal e aquele pelo qual o revende ao investidor. A desvantagem é que, geralmente, o ouro comprado no balcão tem entrega física - ou seja, a pessoa sai da instituição com alguns gramas de ouro na pasta. Para compensar o risco de ser assaltado e perder o investimento, o aplicador precisa se preocupar com a contratação de seguro e aluguel de um cofre em algum banco, por exemplo, para guardar seu patrimônio.

Se quiser vender o metal, terá de transportá-lo novamente até a corretora especializada. A vantagem é que o pagamento é feito à vista, no mesmo dia, em vez de no dia seguinte. O Imposto de Renda segue as mesmas regras do ouro negociado na BM&F. "Negociar ouro é tão simples quanto comprar um carro", afirma Cavalcante, da Ourominas.

Riscos

Reserva de valor consagrada desde a Antiguidade, o ouro também é uma aplicação de risco, sujeito a reveses. Ter ouro não é garantia de que você ficará mais rico a cada dia. Como todo ativo, em alguns momentos, se a oferta for muita, o preço pode cair. Mas a flutuação tende a ser mais amena que o de outros investimentos, como as ações. "O ouro até se desvaloriza em alguns momentos, mas sua trajetória é mais estável. É uma aplicação mais conservadora", afirma Vieira, da Souza Barros.

Além disso, como todo investimento, é preciso conhecer o mercado. Muitos consultores financeiros afirmam que o ouro é um tipo de aplicação recomendado para investidores experientes, por causa da variação diária da cotação. Como o ouro é negociado mundialmente, a formação de seu preço segue os mesmos princípios do de qualquer commodity. Por isso, outro perigo para quem investe em ouro é o risco cambial. Como o preço é ditado pelo mercado mundial, pancadas no dólar podem derreter os ganhos de quem investiu reais no ouro.

Mas, em momentos de crise, os números deixam claro que o metal é uma das opções para se proteger. Para quem está cansado da montanha-russa em que se transformou o mercado financeiro, esta pode ser uma opção para recuperar o fôlego.

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