Minhas Finanças

Quem ganha e quem perde com a Selic no chão

Selic não deve mais sofrer cortes bruscos e pode se manter ou se elevar ao longo de 2013; veja os investimentos que se tornam atrativos e os que perdem atratividade


	Prefixados perdem atratividade por ora, mas títulos atrelados à inflação continuam interessantes
 (CLAUDIA)

Prefixados perdem atratividade por ora, mas títulos atrelados à inflação continuam interessantes (CLAUDIA)

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Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2012 às 15h30.

São Paulo – O corte sem fôlego e sem consenso da taxa Selic nesta quarta-feira pode ter tido um significado diferente para as aplicações de renda fixa. Será que os títulos públicos prefixados vão continuar a se valorizar? Ainda é vantajoso comprar papéis atrelados à inflação? Vale a pena investir em pós-fixados para caso os juros comecem a subir?

Essas perguntas fazem mais sentido hoje do que se tivessem sido feitas há alguns meses. Isso porque há alguns indícios de que o ciclo de queda nos juros está desacelerando e pode mesmo ver uma reversão. O corte de 0,25 ponto percentual desta quarta-feira foi menor do que os cortes anteriores, e nem mesmo houve consenso da equipe do Copom. Boa parte do mercado esperava, na verdade, manutenção da Selic em 7,5% ao ano, conforme o último Boletim Focus. Além disso, a inflação, embora ainda controlada, pressiona.

Segundo o último Boletim Focus, o mercado espera que 2012 termine com uma inflação de 5,42%, acima dos 5,20% previstos pelo governo. A previsão do mercado é que 2013 termine com uma inflação um pouco mais alta, de 5,44%. Para o final de 2013 é esperado que a Selic esteja em 8,0% ao ano, levemente acima do patamar atual. “Não está mais tão claro que o caminho dos juros é apenas de queda. O risco ficou muito maior, então não há uma posição tão clara de investimento”, diz Renato Roizenblit, gestor de wealth management da corretora SLW, que oferece produtos de renda fixa.

“Achamos que a Selic só deve subir lá para metade do ano que vem”, diz Nastassia Romanó, economista da corretora Omar Camargo, que elabora carteiras recomendadas de renda fixa. O mercado de juros futuros, na BM&F, negocia o DI de um dia prevendo uma queda muito modesta até o meio do ano que vem, a partir de quando os juros negociados entram em elevação. Este também é o entendimento de outras instituições financeiras.

Com este cenário, veja quais investimentos se tornaram atrativos e quais estão perdendo a atratividade:

Títulos prefixados (LTN e NTN-F): perdem a atratividade

Os títulos públicos prefixados – que acordam uma taxa de juro no ato da negociação – perdem a atratividade neste cenário de incerteza, em que o mercado espera manutenção com posterior elevação de juro. Esses papéis se valorizam quando a Selic cai – quem comprou a LTN que vence em janeiro de 2013 no início de julho de 2011, antes do início do ciclo de queda de juros, viu seus títulos valorizarem 18% desde então. Mas como não são mais esperadas grandes reduções para a taxa de juros, o grande momento de ganho desses títulos já passou.

Quem pretende investir a partir de agora: “A partir de agora, prefixados não seriam os mais indicados, pois a curva de juros já fechou e as perspectivas não estão mais positivas”, diz Nastassia Romanó.

Quem já tem prefixados na carteira: Há duas opções: não fazer nada, esperar o vencimento do título e embolsar o juro pré-acordado; ou realizar o ganho com a valorização do papel. Vai de caso a caso, sendo necessário avaliar qual a alternativa mais rentável. A primeira opção é a mais conservadora e menos arriscada. Se a taxa prefixada era de 8,0% ao ano, esta será a rentabilidade do investidor no vencimento, não importando se seu título ganhou ou perdeu valor. A segunda opção é mais arriscada, pois é especulativa. Se os juros de fato continuarem a cair, quem vendeu seus títulos ficará de fora da valorização posterior. “Nosso fundo de renda fixa saiu de alguns prefixados para aproveitar esse momento. Às vezes você perde uma boa oportunidade se espera até o vencimento”, observa a economista da Omar Camargo.


Papéis atrelados à inflação (NTN-B e CDB-IPCA): continuam atrativos

Os papéis atrelados à inflação contam com uma parte da remuneração prefixada e a outra parte corrigida de acordo com a inflação pelo IPCA. Há títulos públicos com esse perfil, as NTN-B, e também CDBs, vendidos por bancos, especialmente os médios. Embora os títulos públicos atrelados à inflação se valorizem quando as taxas de juros estão em queda, em função da porção prefixada da remuneração, o atual momento econômico continua favorecendo investimentos ligados à inflação em geral, uma vez que os índices se mantêm em patamares altos.

“Vai chegar um momento em que a inflação vai pesar. Por isso, esses títulos têm perspectiva positiva”, observa a economista da Omar Camargo. Ela lembra que uma retomada econômica, os gargalos de infraestrutura, o baixo nível de desemprego e os salários em alta são fatores que pressionam a inflação brasileira.

Quem pretende investir a partir de agora: Para Nastassia Romanó, a perspectiva é positiva em função da inflação alta. Isso favorece quem deseja investir para carregar o papel até o vencimento, uma vez que o investidor garante uma remuneração, ainda que baixa, acima da inflação. E preservar o poder de compra em tempos de inflação alta vale ouro. Para quem quer especular, as NTN-B já se tornaram arriscadas, uma vez que sua valorização provavelmente já não será tão grande daqui para frente.

Quem já tem papéis atrelados à inflação na carteira: Para a economista, devem ser mantidos. Considerando a NTN-B com vencimento em 2015 (uma vez que esses títulos são mais indicados para aplicações de prazo mais longo), quem comprou um título desses em julho do ano passado acumulou uma rentabilidade de quase 21% desde então, em valorização do papel. Assim como no caso dos prefixados, o investidor até pode sair do papel agora para embolsar o lucro da valorização. Mas essa operação envolve o risco de perder a oportunidade de garantir um ganho real alto, uma vez que as NTN-B vendidas hoje oferecem taxas prefixadas bem menores do que no meio do ano passado, por exemplo. Enquanto quem comprou o título lá atrás garantiu juro real de mais de 6% ao ano, quem comprar uma NTN-B longa hoje ganhará em torno de 4% de juro real. Por isso, é preciso avaliar caso a caso qual foi a valorização e qual é o objetivo do resgate.

Investimentos isentos de IR: ganham atratividade

O atual momento favorece os investimentos em renda fixa isentos de IR. Eles costumam oferecer uma rentabilidade um pouco superior à da caderneta da poupança e dos demais investimentos pós-fixados por serem isentos de taxas e de imposto de renda sobre os rendimentos. Trata-se de títulos de crédito privado pré ou pós-fixados oferecidos por instituições financeiras, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito Agrícola (LCA) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). Normalmente, porém, esses papéis não têm liquidez diária: a carência varia de poucos meses a mais de um ano.

As LCI são as mais indicadas para pequenos investidores, pois seu valor unitário costuma ser mais acessível, e elas contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para quantias de até 70.000 reais por CPF por instituição. Emitidos por bancos grandes e médios, esses títulos são lastreados nos recebíveis imobiliários da instituição emissora, isto é, nos financiamentos de imóveis concedidos por ela. Podem ser pré ou pós-fixados ao CDI.


Em razão disso, o maior risco desses papéis é a quebra do banco emissor. Mas se o investimento for feito dentro do limite de 70.000 reais – sempre deixando uma folga para que a rentabilidade também seja garantida – esse risco fica bastante reduzido. Assim, o investidor conta com uma aplicação de baixo risco, boa rentabilidade e isenta de impostos ou taxas que possam comer o rendimento.

Renato Roizenblit, gestor de wealth management da SLW e entusiasta desses produtos, lembra que bancos médios podem oferecer uma rentabilidade maior, mas que o risco de crédito também é mais elevado que o dos bancos grandes. Por isso é importante respeitar os limites do FGC, nem que seja para montar uma carteira com papéis de diversas instituições, com valores inferiores a 70.000 reais em cada uma. “Assim dilui-se o risco do emissor. É uma estratégia interessante”, observa Roizenblit.

CRI e LCA não contam com a garantia do FGC e costumam ter valor de face alto, sendo indicadas apenas para investidores qualificados, ou seja, que têm ao menos 300.000 reais em aplicações financeiras. As CRI são emitidas por securitizadoras responsáveis por estruturar os créditos imobiliários. O risco aqui é de calote dos próprios tomadores do empréstimo, mas pode haver a garantia da alienação fiduciária do imóvel ou outras garantias da própria securitizadora. Já a LCA é um título pós-fixado ao CDI, emitido por bancos e vinculado a direitos creditórios originários de negócios na área rural, como financiamentos e empréstimos para a produção agropecuária.

Fundos imobiliários: ganham atratividade

Os fundos imobiliários não são investimentos de renda fixa, mas ganham atratividade justamente por causa de seu "componente de renda fixa": os aluguéis pagos, que ainda por cima são isentos de IR. Só se paga imposto sobre a eventual valorização das cotas que, estas sim, estão sujeitas às oscilações do mercado de renda variável. Além disso, esse investimento conta com uma proteção contra a inflação: “Os contratos de aluguel costumam ser reajustados pelo IGP-M, que continua alto”, lembra Nastassia Romanó, da Omar Camargo.

Pós-fixados: perdem atratividade, mas continuam importantes

A nova queda nas taxas de juros sacrificou ainda mais a rentabilidade da poupança, dos fundos DI, dos CDB-DI e das LFT, os títulos públicos atrelados à Selic. Esses investimentos são indexados à taxa básica de juros e perdem em rentabilidade sempre que a perspectiva de juros é de queda.

Com a rentabilidade atual, essas aplicações nem conseguem, em alguns casos, repor a inflação. Se a previsão do BC para a inflação se concretizar, por exemplo, e o IPCA fechar o ano em 5,20%, poupança e fundos DI com taxas de administração de 1,0% ao ano perdem para a inflação. CDBs que paguem 90% do CDI empatam e as LFT superam o índice por pouquíssimo. Veja como ficaram os rendimentos dessas aplicações após o último corte de juros.

Manter investimentos de alta liquidez e baixíssimo risco, porém, é importante para os objetivos de curto prazo do investidor. Até seis meses, a poupança ainda é a aplicação mais vantajosa. Acima desse prazo, já é melhor buscar outros tipos de aplicações pós-fixadas. Seja como for, o desafio agora é buscar fundos DI que cobrem taxas de administração inferiores a 1,0% ao ano, corretoras que cobrem taxa de administração inferior a 0,7% ao ano para investimentos no Tesouro Direto e CDBs que paguem mais de 90% do CDI.

No caso dos CDBs, existem as alternativas dos bancos médios, que oferecem 100% ou mais do CDI para diferentes prazos. Atualmente, o Sofisa Direto e o CDB Direto, do banco Ficsa, oferecem essa modalidade. O mais importante, porém, é investir menos de 70.000 reais em uma única instituição, para contar com a cobertura do FGC até mesmo para a rentabilidade.

Fundos

As estratégias descritas nesta reportagem podem ser encontradas também em fundos de renda fixa que invistam em títulos públicos e crédito privado, além de fundos multimercados da modalidade juros e moedas. A vantagem dos fundos, lembra Renato Roizenblit, é que eles podem surfar as tendências de mercado sem que as vendas de ativos se configurem em fatos geradores de IR para o cotista. Assim, os fundos conseguem vender um título prefixado e comprar uma NTN-B sem que o cotista precise pagar IR, que só é cobrado semestralmente na forma do come-cotas.

“É claro que é preciso escolher um bom gestor, esse é o ponto mais sensível”, lembra o gestor da SLW. Afinal, fundos de investimento cobram taxas de administração para remunerar os seus gestores, e elas também não podem ser tão altas que os ganhos não as compensem.

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