Quando o Twitter faz você perder dinheiro
Principais tuiteiros revelam os cuidados que você deve tomar ao utilizar as informações da rede social sobre investimentos
Da Redação
Publicado em 7 de setembro de 2012 às 09h26.
De música a programas de tevê, basta que as notícias cheguem ao Twitter para ganhar repercussão imediata. Quando o assunto é investimento financeiro, a situação não é diferente. O microblog dá visibilidade a estratégias e sugestões de profissionais e leigos que acompanham o mercado de capitais. Um comentário daqui, um tweet de lá, e o que era apenas um rumor repercute nas bolsas de valores. Em janeiro de 2011, um tweet do rapper americano 50Cent deu o que falar. Ele postou para seus 3,8 milhões de seguidores: "Você pode dobrar seu dinheiro agora mesmo.
Não é brincadeira, entre já". Ele se referia aos papéis da H&H Import, empresa de varejo que era um mico na bolsa americana. A frase seria apenas uma sugestão de investimento se o músico não tivesse comprado 30 milhões de ações da companhia em outubro de 2010. No dia em que ele fez o post, os papéis da H&H Import subiram 290%, fazendo com que o popstar ficasse 8,7 milhões de dólares mais rico. No dia seguinte, agências de notícias informaram a abertura de uma investigação contra o músico, que teve de dar explicações às autoridades. A Securities and Exchange Commission, o xerife do mercado de ações americano, no entanto, informa que não divulga o andamento de processos.
O episódio é um exemplo de que é preciso muito cuidado com as informações que vêm das redes sociais. No Brasil, há 8,8 milhões de usuários do Twitter. Centenas de investidores, economistas, agentes de investimentos e curiosos falam sobre finanças pessoais no microblog. Você deve ficar atento na hora de acatar as sugestões. A diferença entre indicações de quem entende do mercado financeiro e a tentativa de manipular o preço das ações é tênue. Ninguém fica rico de uma hora para outra nem se torna um grande estrategista ou investidor sem estudo e dedicação. É claro que há informações relevantes sendo veiculadas nos posts de 140 caracteres.
Por isso, a VOCÊ S/A conversou com os principais tuiteiros que escrevem sobre finanças, que contam, nesta reportagem, quais cuidados você deve ter. O perfil @bovespabrokers foi criado em 2009 pelo gestor financeiro Claudio Fonseca, de 31 anos, para buscar notícias rápidas sobre mercado financeiro e economia. Não demorou muito para que a situação mudasse. Hoje, mais de 7 000 pessoas, empresas e corretoras ficam de olho no que ele escreve. Claudio evita influenciar demais seus seguidores. "Eu posto informações bem soltas, que consigo por aí, mas tento não induzir as pessoas a comprar esse ou aquele papel." Para reduzir o poder de influência, ele alterna os posts de investimentos com as dicas de educação financeira.
Há quem goste de ter acesso a todas as informações disponíveis para traçar uma estratégia de investimento. Nesse clube está @fabi_gold, pseudônimo da publicitária Fabiane Goldstein, de 41 anos, que fez carreira na área de relação com investidores, de onde saiu em 2009 para fundar a RICCA RI, assessoria especializada em comunicação com investidores e acionistas. Ela segue mais de 200 perfis.
Como profissional da área de finanças, a publicitária é seguida por mais de 1 200 pessoas e não gosta de espalhar especulações. "Para mim, vale o que os educadores financeiros escrevem no Twitter: se você estuda e leva a sério seus investimentos, você vai longe." É justamente para fugir das especulações e informações de bastidores que, ao contrário das sardinhas do mercado — apelido dado a investidores iniciantes —, @lambari_trader (seu autor pediu para não ser identificado) procura não seguir dicas. Para ele, muitas informações sobre um assunto podem levar a conclusões enviesadas na análise de ações. Por isso, ele prefere seguir poucos perfis, como os sites de notícias.
Na vasta fauna do mercado, @picapautrader (seu autor pediu para não ser identificado) também prefere se informar a seguir dicas de gurus. Ele entrou no Twitter para extravasar suas ideias sobre investimentos. "Muitas vezes dá para perceber movimentos no mercado nos quais ainda não havia prestado atenção", diz o investidor de 42 anos, que mantém um perfil cheio de bom humor e distribui piadas aos 2 300 seguidores. Embora as notícias divulgadas por meio do Twitter pareçam úteis para antever os movimentos do mercado, a legislação considera ilícita a utilização de informações privilegiadas para benefício próprio. Além disso, o que está no microblog pode não ser verdadeiro.
Há 20 anos no mercado financeiro, @bastter é um dos chamados tubarões do mercado, graças a sua experiência na bolsa. Seu autor é o carioca Maurício Hissa, de 47 anos, coordenador do portal Bastter. com, especializado em educação financeira. "Não trabalho com dicas de investimentos", diz. Assim como @picapautrader, com quem trava cômicos embates virtuais, @bastter recebe centenas de mensagens diretas com pedidos de informações e solicitações de estratégias de investimentos.
"O pequeno investidor não vai seguir uma sugestão de compra ou venda pontual e ganhar dinheiro. Isso é ilusão", afirma @bastter. Ao contrário do irmão, que prefere o Twitter para trocar lições de investimentos, @preda_bastter, perfil de Ricardo Hissa, professor de análise técnica do portal Bastter.com, divide seu conhecimento pelo YouTube. Em vídeos caseiros, ele expõe temas polêmicos. "Não dou dicas porque a bolsa não é lugar para ganhar dinheiro fácil."
Ganho de 10 000 reais
Há três anos na rede de microblogs, o administrador de empresas Pedro Henrique Dutra, de 28 anos, já ganhou dinheiro com informações do Twitter.
Após trocar ideias com colegas, @phdutra fez uma operação financeira com contratos de etanol que rendeu 10 000 reais a cada um dos três clientes que entraram na transação. Ele conta que demorou vários dias até se convencer de que esse seria um negócio bem-sucedido.
"Depois de muita análise, percebi que era uma boa oportunidade", diz. "Se você souber filtrar o que recebe, não tem como dar errado." Pedro afirma não temer que os colegas investidores roubem suas estratégias.