Poupança: mesmo com baixa rentabilidade, a caderneta de poupança tem mais depósitos do que saques (Artisteer/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de novembro de 2020 às 17h50.
Última atualização em 6 de novembro de 2020 às 19h09.
Ainda sob os efeitos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, as famílias brasileiras fizeram mais depósitos do que saques na caderneta de poupança no mês passado. Dados do Banco Central mostram que, em outubro, os depósitos líquidos somaram 7,017 bilhões de reais. Este é o maior volume de depósitos líquidos para um mês de outubro, em valores nominais, em toda a série histórica do BC, iniciada em 1995.
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O mês de outubro também foi o oitavo consecutivo em que houve registro de depósitos líquidos. Em março, quando a pandemia do novo coronavírus fez com que o isolamento social se intensificasse, com reflexos sobre a atividade econômica, as famílias haviam depositado 12,169 bilhões de reais líquidos na poupança. Em abril, foram 30,458 bilhões; em maio, 37,201 bilhões; em junho, 20,534 bilhões; em julho, 28,144 bilhões; em agosto, 11,403 bilhões; e em setembro 13,228 bilhões de reais.
Esta corrida para a caderneta é justificada pela postura das famílias em relação à crise e pelas ações do governo para manter a renda da população.
Nos últimos meses, o BC vem citando, por meio de documentos oficiais, que existe o risco de que a pandemia aumente a "poupança precaucional" no Brasil. Em outras palavras, o BC vê o risco de que as famílias, com medo do desemprego e da redução da renda, aumentem depósitos em aplicações como a caderneta de poupança, para formar um "colchão" em caso de emergências. Isso é visto com ressalvas, porque mais dinheiro na poupança significa menos consumo — e ainda mais dificuldades para as empresas brasileiras.
O pagamento do auxílio emergencial à população de baixa renda nos últimos meses, no valor de 600 reais, é outro fator que contribuiu para o aumento dos depósitos na poupança. O governo fez os pagamentos por uma conta de poupança digital. Os depósitos começaram a ser feitos em 9 de abril e parte deles segue depositada na poupança, por precaução. Além disso, o governo já começou a depositar na conta dos beneficiários a extensão do auxílio emergencial, no valor de 300 reais. Este valor continuará a ser depositado até o fim deste ano.
Os números de outubro mostram que os depósitos brutos na caderneta foram de 279,576 bilhões de reais, enquanto os saques atingiram 272,559 bilhões de reais. Com isso, chegou-se à captação líquida de 7,017 bilhões de reais. Considerando o rendimento de 1,619 bilhão de setembro, o saldo total da poupança atingiu 1,010 trilhão de reais no mês passado. Desde setembro — e pela primeira vez na história — o saldo da caderneta supera, em valores nominais, a marca de 1 trilhão de reais.
No ano até outubro, a poupança acumulou depósitos líquidos de 144,227 bilhões de reais. Chama a atenção o fato de que a poupança vem recebendo depósitos líquidos nos últimos meses a despeito de sua rentabilidade estar cada vez menor. Atualmente, a poupança é remunerada pela taxa referencial (TR), que está em zero, mais 70% da Selic (a taxa básica de juro). A Selic, por sua vez, está em 2,00% ao ano, no menor patamar da história. Na prática, a remuneração atual da poupança é de 1,4% ao ano — um percentual que pode nem mesmo compensar a inflação corrente.
Esta regra de remuneração da poupança vale sempre que a Selic estiver abaixo dos 8,50% ao ano. Quando estiver acima disso, a poupança é atualizada pela TR mais uma taxa fixa de 0,5% ao mês (6,17% ao ano).