Minhas Finanças

Por que vale a pena comprar ações na baixa

Gestor de fundo que rendeu mais de 800% desde 2006 mostra que quem investe em bolsa após quedas de 35% obtém retornos extraordinários após três ou cinco anos

Bradesco e Itaú: duas ações que estão com preço atrativo, segundo a Bogari Capital (Fotomontagem/EXAME)

Bradesco e Itaú: duas ações que estão com preço atrativo, segundo a Bogari Capital (Fotomontagem/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 10h04.

São Paulo – Um estudo realizado pela gestora de recursos Bogari Capital mostra quão lucrativo pode ser comprar ações em períodos de pessimismo generalizado. O levantamento considerou os sete períodos em que a bolsa brasileira recuou 35% ou mais nos últimos 18 anos. Quem investiu em ações nessas oportunidades com a expectativa de colher lucros no longo prazo levou para casa um retorno médio de 105% após três anos e de 254% em cinco anos, conforme mostra a tabela abaixo:

Pico Vale Queda Retorno após um ano Retorno após três anos Retorno após cinco anos
set/94 jan/95 -40,70% 41,30% 178,80% 420,60%
jul/97 nov/97 -35,10% -7% 69,50% 10,90%
abr/98 ago/98 -35% 26,90% 64,10% 81%
nov/98 jan/99 -38,20% 208% 141,90% 326,20%
mar/00 set/01 -35,30% -20,70% 83,60% 199,50%
mar/02 jul/02 -36,30% 49,20% 169,80% 484,70%
mai/08 set/08 -37,60% 31,20% 24,60%  
Média   -36,90% 47% 104,60% 253,80%

Flavio Sznajder, sócio da Bogari Capital, admite que rendimentos passados não são garantia de ganhos futuros e que o investidor que entra na bolsa hoje também pode ter decepções no curto prazo. Mas, para ele, seria ir contra a lógica não considerar que quem compra bolsa na baixa entra no mercado em um ponto mais próximo ao fundo do poço, corre menos riscos e pode embolsar ganhos maiores.

Em teoria, o investimento ótimo em ações consiste em comprar no patamar mais baixo do mercado e vender no pico. Na prática, entretanto, o gestor considera a execução disso impossível porque a humanidade não faz a menor ideia de quando a maré vai virar.

Ninguém sabe, por exemplo, se e quando os líderes europeus chegarão a algum acordo que garanta a solvência dos países excessivamente endividados e dos bancos entupidos de títulos públicos de Grécia, Portugal e Irlanda. Além disso, quando houver uma solução definitiva para os problemas europeus, é provável que muitos investidores já tenham se antecipado e que os melhores preços tenham ficado para trás.

A estratégia do fundo da Bogari Capital consiste em comprar ações aos pouquinhos, quando a bolsa cai muito e os preços se tornam atrativos demais para serem ignorados. A crença de que o mercado em algum momento voltará a subir tem rendido bons frutos. O fundo registrou, desde sua criação em novembro de 2006, um retorno de 883%, contra alta de apenas 41,5% do Ibovespa.


Sobre esse ponto, Sznajder chama a atenção para a importância da escolha de boas ações para ganhar dinheiro na bolsa. A economia brasileira tende a se desenvolver, as empresas devem continuar a se expandir, os preços das ações vão se beneficiar em algum momento, mas não é com qualquer papel que todo mundo vai enriquecer. Apesar de garantir uma carteira diversificada, o próprio investimento passivo em Ibovespa não tem sido uma boa opção para os investidores nos últimos anos. “Muitos fundos de ações têm conseguido bater consistentemente o índice”, diz.

Sznajder acredita que os investidores devem aproveitar os momentos de baixa não para comprar os papéis que mais caíram, mas para colocar na carteira as empresas que sofreram demais injustamente. Ele cita as ações dos bancos como exemplo. Atualmente o preço das instituições financeiras brasileiras tem sido influenciado pelo fluxo de recursos negativo.

Os investidores estrangeiros têm vendido ações de bancos no mundo inteiro devido ao temor de que as instituições voltem a enfrentar dificuldades em caso de moratória das dívidas de países europeus. Alguns dos bancos com melhor reputação no mundo têm sido negociados em bolsa por valores inferiores ao patrimônio líquido.

Esses mesmo investidores sabem que instituições como o Bradesco e o Itaú não têm exposição relevante à Europa e não correm os mesmos riscos. Entretanto, também não faz sentido para eles que os bancos brasileiros sejam negociados a duas vezes o patrimônio líquido ou mais em um momento como esse. Então as ações se depreciam.

Já no longo prazo, Sznajder diz que costuma haver uma convergência entre o preço de mercado e o valor intrínseco de uma ação. No caso do setor bancário, as instituições brasileiras não precisam se preocupar neste momento com o aumento da concorrência com os estrangeiros, já que eles podem estar correndo riscos demais lá fora para pisar no acelerador aqui.

Outras ações que o gestor considera em um momento interessante para a compra são Redecard, Cosan e Brasil Insurance. Para os investidores que não têm sangue frio suficiente para entrar na bolsa neste momento, Sznajder cita Benjamin Graham, o inventor da profissão de analista de investimentos e maior guru de Warren Buffett: “No curto prazo, as ações são avaliadas por sua popularidade, mas, no longo prazo, pela sua substância”.

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