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Por que não trocar a renda fixa por aplicações arriscadas

Para planejador financeiro americano, não é hora de sair de investimentos mais seguros para buscar retornos maiores; segredo está em carteira equilibrada


	Segurança e preservação do patrimônio são os trunfos dos títulos do Tesouro e fundos de renda fixa
 (Joe Raedle/Getty Images)

Segurança e preservação do patrimônio são os trunfos dos títulos do Tesouro e fundos de renda fixa (Joe Raedle/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de abril de 2013 às 07h36.

São Paulo – Se você anda ponderando onde investir o seu dinheiro para ganhar mais do que a “ninharia” que a renda fixa mais conservadora paga atualmente, os conselhos do planejador financeiro certificado americano Harold Evensky, CFP, são dos mais pragmáticos. “Os mercados podem não estar felizes com os retornos atuais e procurar por investimentos que paguem mais. Mas fazer isso significa correr um risco que você pode não conhecer e não suportar”, disse Evensky em entrevista a EXAME.com.

Evensky estará de passagem por São Paulo no início de maio, para palestrar no 4º Seminário IBCPF de Planejamento Financeiro Pessoal, promovido pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). Em sua apresentação, o CFP pretende justamente mostrar a visão espartana comum aos planejadores financeiros que entendem que preservar o suado dinheiro de seus clientes é mais importante do que buscar altos ganhos por meio de investimentos.

O Brasil vive uma era de juro real baixo (diferença entre a taxa básica de juros e a inflação). Isso quer dizer que está difícil ganhar do aumento dos preços apenas aplicando nos investimentos mais seguros, como Tesouro Direto, fundos de renda fixa e poupança. Se quando os juros tinham dois dígitos era fácil fazer o bolo crescer na renda fixa, hoje em dia o investidor consegue apenas manter seu poder de compra e olhe lá.

Mas o que dizer dos Estados Unidos, um país onde o juro real é negativo? O Brasil ainda tem a quinta taxa de juro real mais alta do mundo, mas nos EUA a taxa de juros próxima a zero e uma inflação em torno de 1,5% faz com que a renda fixa mais conservadora perca da alta dos preços. Mesmo assim, diz Evensky, os títulos do Tesouro são parte importante da carteira de investimentos dos americanos. Em sua avaliação, o percentual pode variar de 30% a 60% do portfólio, dependendo do perfil do investidor.

Preservar o patrimônio deve ser prioridade

Mas por que os americanos aceitariam taxas tão baixas nos títulos do Tesouro de seu país? A resposta é simples: segurança. “Os investidores podem pensar no investimento em títulos do Tesouro como uma espécie de seguro. O prêmio que você ‘paga’ para não perder o seu dinheiro é aceitar um retorno baixo”, exemplifica Evensky.

“Sair da renda fixa é uma visão estreita. É preciso olhar para o longo prazo”, observa o especialista, que lembra que o mercado de ações pode ganhar muito, mas também pode perder bem mais que o mercado de títulos públicos. “A ideia é ter uma carteira diversificada, com ações e títulos públicos, porque nós não sabemos para onde o mercado vai”, explica.

Para Evensky, é mais importante preservar o patrimônio de um revés da economia ou do mercado de renda variável do que buscar altos retornos e acabar se machucando na empreitada. “Você tem que se proteger do risco futuro, não só do risco de hoje. O que quer que aconteça na economia, vai ser surpreendente”, diz. E completa: “Tentar ser tático pode ser perigoso, porque você tende a fazer a coisa errada.”


Se isso vale para um país onde o juro real é negativo - e onde as taxas de juros dos títulos do Tesouro de prazo de 30 anos não ultrapassam os 3% -, por que não haveria de valer no Brasil, onde ainda é possível ganhar da alta inflação com relativa tranquilidade nas aplicações mais conservadoras, ainda que só um pouquinho?

Investimentos seguros também visam ao longo prazo

Harold Evensky defende ainda que aceitar os baixos retornos em troca da preservação de capital tem a ver com uma visão de longo prazo. “Não acredito que se deva investir em ações ou mesmo em títulos públicos se você vai precisar do dinheiro em menos de cinco anos”, explica.

Para ele, objetivos financeiros de até cinco anos devem ser considerados de curto prazo, e o dinheiro destinado a eles deve mesmo é ficar no banco. “Você vai ter que aceitar que não vai receber nada pelo dinheiro que você precisa para comprar comida, viajar ou pagar sua festa de casamento, porque ele precisa estar lá”, afirma.

Investimentos atrelados à inflação merecem atenção especial

O planejador financeiro lembra que o mais importante ao se investir para o longo prazo é considerar a taxa de juro real, isto é, o ganho acima da inflação. É esse o verdadeiro fermento que faz o bolo crescer. E nada melhor para garanti-la do que uma aplicação cujos rendimentos sejam automaticamente corrigidos pela inflação oficial.

Nos Estados Unidos há mais de um tipo de título do Tesouro que protege o dinheiro da inflação. Seriam, grosso modo, como as Notas do Tesouro Nacional série-B (NTN-B) brasileiras, vendidas no Tesouro Direto. Só que por lá, um desses títulos, as TIPS, vem apresentando retorno negativo. Mesmo assim, afirma Evensky, esses títulos continuam sendo parte importante do portfólio dos pequenos investidores americanos.

“Ainda aconselhamos a aplicação de 15% da carteira nesses títulos, pois a inflação pode estar baixa hoje e aumentar muito com o tempo”, diz Evensky. Como no caso das TIPS a correção da inflação incide sobre o principal, e não sobre os juros, esses títulos se beneficiam da alta dos preços.

É hora de economizar nas taxas

Planejadores financeiros americanos, bem como acadêmicos da área financeira, costumam ser obcecados com a ideia de reduzir os custos dos investimentos ao máximo. E no Brasil de juros baixos essa é, de fato, uma ótima ideia. As taxas de administração dos fundos de renda fixa e mesmo as do Tesouro Direto são decisivas para determinar se vale a pena ou não aplicar nesses investimentos. Hoje em dia, um fundo DI de taxa de 1,0% ao ano – o que já foi considerado bem barato – perde da caderneta de poupança para aplicações de até um ano.

Mesmo no mercado de renda variável, as altas taxas de administração de fundos ou de corretagem podem ser fatais para os rendimentos do investidor. Evensky sugere, por exemplo, que 80% dos investimentos em renda variável sejam feitos por meio de fundos de índices, os ETFs, que apenas replicam índices de mercado.

Bastante populares nos Estados Unidos, esses fundos têm taxa de administração bem barata e cotas negociadas em Bolsa. No Brasil, porém, esses fundos ainda não têm tanta popularidade, e o mais negociado é o que segue o Ibovespa - não exatamente o indicador de melhores retornos nos últimos anos.

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