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Os fundos DI correm risco de extinção?

Aplicação que já concentrou um terço dos investimentos em fundos no Brasil hoje responde por só 12,4% da indústria - e tende a minguar ainda mais

Dinheiro poupado: fundos DI tendem a perder atratividade com a queda dos juros (Tatjana Krstic/Dreamstime.com)

Dinheiro poupado: fundos DI tendem a perder atratividade com a queda dos juros (Tatjana Krstic/Dreamstime.com)

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Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 19h10.

São Paulo – Os fundos DI já foram uma das aplicações financeiras mais populares do Brasil. Em 1999, quando o então presidente do Banco Central Armínio Fraga fixou a taxa Selic em estratosféricos 45% ao ano, esses fundos respondiam por um terço de toda a indústria brasileira de fundos. De lá para cá, muita coisa mudou em relação às taxas de juros do país, e os investimentos em renda fixa ficaram menos vantajosos.

Atualmente, os fundos DI ainda estão longe da extinção e respondem por 12,48% dos recursos captados. O patrimônio de 232 bilhões de reais, porém, é inferior ao da caderneta de poupança, que geralmente paga uma remuneração menor. Segundo especialistas ouvidos por EXAME.com, se os juros continuarem em queda como promete o governo e dependendo de como será feita a mudança de regras da caderneta de poupança em 2012, essas aplicações tendem a continuar em declínio.

Num futuro mais distante, os DI se transformariam em uma espécie de “estacionamento de dinheiro” - ou um local em que os investidores deixariam seus recursos em prazos curtíssimos, apenas enquanto ainda não decidiram onde pretendem aplicar em definitivo.

Além da queda dos juros, a atratividade futura dos fundos DI pode ser prejudicada pelas novas regras para a poupança. A caderneta é hoje a principal concorrente direta dos DI porque também atrai investidores conservadores, pouco sofisticados ou com horizonte de curto prazo. O governo estudo alterar as regras para a remuneração da caderneta, que hoje paga 6% mais TR com isenção de Imposto de Renda. A partir de 2012, o governo gostaria de acabar com o rendimento quase prefixado da poupança (já que a TR tem oscilado em torno de 1%) e atrelá-lo a um percentual da taxa Selic mais TR.

Caso o governo seja muito generoso ao estipular esse percentual, é provável que os fundos DI percam competitividade. É lógico que também existe a chance de que o percentual seja baixo e favoreça os fundos DI, mas, segundo especialistas, esse tipo de medida seria tão impopular que dificilmente poderia ser adotada por qualquer governo.

Independente das novas regras, o processo de desidratação dos fundos DI já está em curso porque, no longo prazo, o Brasil tende a ter taxas de juros mais civilizadas. No mês passado, o Banco Central cortou a Selic para 11,5% e, em 2012, a expectativa média é que a taxa recue para algo em torno de 10%.


Levando em consideração esse cenário, a poupança já seria mais competitiva que a maioria dos fundos DI. Segundo o professor Bolívar Godinho, do Laboratório de Finanças da FIA, o investidor só deveria escolher um fundo DI ao invés da caderneta para um investimento de 181 dias e juros de 10% ao ano se conseguisse encontrar um fundo que cobrasse uma taxa de administração máxima de 0,61% ao ano. O prazo de investimento é importante nesse cálculo porque a alíquota do IR varia de 22,5% a 15% dos ganhos dependendo do tempo em que o dinheiro ficará aplicado. No caso de investimentos de mais de um ano, a taxa máxima do fundo seria de 0,89% ao ano para que a opção seja vantajosa.

Hoje as taxas médias cobradas pelos grandes bancos dos pequenos investidores costumam ser superiores a esses percentuais. “A continuidade da queda dos juros deve obrigar os gestores a reduzir as taxas de administração cobradas sobre investimentos em DI”, diz Francisco de Arruda Camargo, diretor do site Fortuna, especializado em informações sobre fundos.

Para Euridson Sá, superintendente executivo de representação da Anbima, a queda dos juros também deve obrigar os investidores a procurar alternativas de investimento com um risco um pouco maior, mas que garantam uma rentabilidade mais elevada no longo prazo. “Para atender a demanda, a indústria de fundos passará a oferecer aos clientes produtos com um nível de gestão mais sofisticada, como fundos de renda fixa de crédito privado, multimercados e de ações”, afirma ele. “O brasileiro passaria a ter um portfólio de aplicações mais parecido com o de investidores de países desenvolvidos.”

Nos Estados Unidos, por exemplo, as remunerações pagas no chamado “money market” são pífias quando comparadas às brasileiras. Esse mercado engloba aplicações em títulos do Tesouro americano ou papéis de bancos e empresas de curtíssimo prazo. Os títulos do Tesouro com vencimento em seis meses oferecem um retorno inferior a 0,1% atualmente. Para conseguir uma remuneração de meros 3% ao ano, o investidor tem de comprar um papel do governo com vencimento em 30 anos ou partir para um título privado com risco de crédito maior. É esse o principal motivo que leva mais de 100 milhões de americanos a investir em bolsa.

É lógico que pode levar décadas para que o Brasil tenha números semelhantes. “Os juros nominais precisariam cair para 6% ou menos e as condições da economia precisariam estar bastante deterioradas para que o país tenha algo minimamente semelhante ao ‘money market’”, diz o professor William Eid, do Centro de Estudo em Finanças da Fundação Getulio Vargas. “Hoje com 56 anos, talvez eu já seja velho demais para ver isso acontecer.”

Razões culturais também seriam responsáveis por retardar o processo de migração de investimentos para ativos de maior risco. “Os investidores brasileiros se dividem como em uma pirâmide em que na base estão aqueles que valorizam a proteção do patrimônio e, no topo, os que aceitam correr risco”, diz Eid. “É por isso que mesmo quando os juros sobem, não há uma verdadeira fuga de recursos da poupança para os fundos DI, mas apenas movimentos pontuais.”


Como gerir a própria carteira

Para quem planeja buscar retornos mais interessantes no atual ambiente de queda dos juros, especialistas recomendam cautela. Os fundos DI com baixas taxas de administração continuam a ser uma excelente opção para quem planeja deixar o dinheiro aplicado poucos meses com a Selic de 11,5% ao ano. Alternativas de investimento de risco moderado costumam apresentar maior volatilidade nos retornos apresentados – e o investidor corre o risco de entrar em um fundo na hora errada.

Para o professor Bolívar Godinho, da FIA, os fundos de renda fixa costumam ser a melhor opção para o investidor com perfil conservador e tempo para deixar o dinheiro aplicado. Enquanto os fundos DI praticamente só compram títulos públicos atrelados à Selic (LFT), contratos de DI futuro negociados na BM&FBovespa e CDBs de bancos que pagam um percentual do CDI, os fundos de renda fixa já são mais abertos a investir em títulos de dívida de empresas ou tomam mais risco com papéis públicos.

Na média, os gestores dos fundos de renda fixa conseguem obter uma rentabilidade um pouco superior ao DI – ainda que ao custo de uma volatilidade maior na carteira. Para Bolívar, essas aplicações se tornarão o sucessor natural dos DI em um cenário de juros mais baixos. No caso de investidores mais conservadores, vale a pena dar uma olhada na composição da carteira do fundo de renda fixa antes de colocar o dinheiro. “Quanto mais títulos privados e menos títulos públicos no portfólio, maior será o risco”, diz Bolívar.

Ricardo José de Almeida, professor de finanças do Insper, alerta que não faz nenhum sentido tirar o dinheiro que serve de reserva de emergências ou que será usado no curto prazo de um fundo DI. Antes de tomar mais risco, o investidor também deve pesar se suportaria eventuais perdas ou uma maior volatilidade da carteira. “Nos últimos anos, enquanto os fundos DI encolheram, os multimercados e os de previdência cresceram. Não sei se todas essas pessoas entendem que esses dois produtos costumam ter ativos de renda variável na carteira e oferecem um risco razoavelmente mais elevado que os fundos DI.”

Outro detalhe importante é que os fundos multimercados permitem a cobrança de taxa de performance, ao contrário das aplicações mais conservadoras como os DI. A proliferação desse produto, portanto, é interessante para bancos e gestores de recursos, que aumentam as receitas com a administração da mesma quantidade de dinheiro. “Mas o que é bom para o banco nem sempre é bom para o investidor”, lembra Almeida.

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